Forte Neto, o senhor técnico com 30 anos de experiência e prêmios
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 26 de abril de 1992
Em menos de 3 semanas, sem qualquer esquema político-promocional, o arquiteto e professor Luís Forte Neto teve uma surpresa das mais gratificantes: centenas de telefonemas, mensagens por fax e telex, cartas, telegramas e mesmo pessoas que o procuraram pessoalmente para lhe transmitir o maior apoio para que dispute a Prefeitura de Curitiba. "Não apenas de amigos e conhecidos, mas mesmo da parte de quem eu não conhecia, incluindo entidades e instituições, como duas da área ecológica" comenta o ex-presidente do Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano de Curitiba, cargo que exerceu entre 1967/1969, na administração Omar Sabbag. Aliás, foi quando a chamada "Sorbonne do Juvevê" se consolidou como órgão de planejamento, formando uma equipe que se projetaria até internacionalmente. Quando deixou a presidência, ali foi substituído pelo então jovem Jaime Lerner, mas cuja gestação foi curta: devido a divergências com Sabbag em relação ao projeto da Estação Ferroviária (*), Jaime foi afastado do cargo e substituído pelo engenheiro Clóvis Milton Lunardi.
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Somente no último dia 2 de abril foi que Luís Forte Neto assinou sua ficha de inscrição no PST, a convite do ex-governador Álvaro Dias - e após uma reunião com o próprio governador Roberto Requião, que enfatizaram a importância de que um técnico com sua experiência viesse "reforçar as opções para a sucessão da Prefeitura de Curitiba". Sem vivência política anterior, mas com 34 anos de vida profissional, Forte Neto, mesmo desconhecido das novas gerações, tem um excelente perfil como executivo e técnico em planejamento para substituir um prefeito, também vindo da área técnica. Assim, mesmo sem ter ambição política ou vaidade maior, Forte Neto aceitou o convite "e me dispus a , filiando-me partidariamente, oferecer minha contribuição técnica à cidade em que vivo há mais de 30 anos, onde nasceram minhas 3 filhas e 21 netas, fiz grandes amigos e me realizei profissionalmente" comenta com orgulho.
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Formado pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Mackenzie, em São Paulo, turma de 1958, Forte Neto foi um dosa fundadores do curso de arquitetura da Universidade Federal Do Paraná.
- "Até aposentar-me, há exatamente um ano, como professor da cadeira de Planejamento Arquitetônico, vi passar por mim todos os profissionais formados pela [UFP]." Inclusive, os engenheiros-civis, que em 1962 fizeram a opção para o curso de arquitetura - como o próprio Jaime Lerner e Lubomir Ficinski - este também ex-presidente do Ippuc - foram seus alunos.
Foi na condição de professor convidado para implantar o curso de arquitetura em Curitiba, que Luís Forte Neto teve a satisfação de dar a aula inaugural. "De lá para cá, jamais me afastei do curso, mesmo quando exerci outras funções."
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Um curriculum (resumido) mostra em mais de 40 páginas o que Forte Neto já fez em termos profissionais. Mais de 200 projetos arquitetônicos, entre grandes construções - clubes (como o Santa Mônica, do qual seria também presidente), hospitais (uma dezena), igrejas, prédios administrativos e centenas de residências espalhadas por várias cidades.
Sozinho ou associado a outros arquitetos participou de meia centena de concursos nacionais, acumulou 9 [primeiro] lugares e 13 segundas classificações. Entre outros os concursos para o ante-projeto do Centro Turístico da Sociedade Imobiliária Y Del Grand Kurassal Maritimo, em San Sebastian, Espanha (94 mil em 32 pavimentos, 1965), quando, generosamente convidou o jovem Jaime Lerner para integrar a sua equipe. Posteriormente, entre outras premiações: IAB, 1967; Assembléia Legislativa de São Paulo; Clube de Regatas Saldanha da Gama, em Santos; clube esportivo de Presidente Prudente; Atlético Paulistano; Centro Evangelista de Porto Alegre; penitenciária da Guanabara; Parque das Exposições do Rio Grande do Sul; Núcleo Recreativo do Sesc no Rio de Janeiro, etc. Três premiações especialmente, se destacam na relação das mais extensas: o primeiro lugar no concurso que escolheu o anteprojeto do edifício-sede da Petrobrás, no Rio de Janeiro área de 135.000 m2, 26 pavimentos, em 1968), o anteprojeto para o Banco de Brasília, em Caxias do Sul (8.050 m2 em 17 pavimentos, 1970) e o edifício sede das Centrais Elétricas do Sul do Brasil (Eletrosul), em Florianópolis (35 mil m2, 1975).
Em todos estes concursos (em alguns associados a outros profissionais), a sua liderança, representando o Paraná, na área arquitetônica teve uma projeção nacional. Estranhamente, entretanto, desde que deixou a presidência do Ippuc, há 23 anos, poucas chances teve de colaborar com projetos - e foi totalmente vetado na colaboração que poderia ter continuado a dar a Curitiba, nas três gestões de Jaime Lerner, com quem, obviamente, rompeu ainda nos anos 70.
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Discreto, há anos praticamente afastado da mídia jornalística - embora cultive amigos na imprensa e também em influentes setores políticos, Forte Neto só agora, estimulou-se a oferecer sua experiência para uma disputa política. Em termos de planejamento urbano, sua experiência também o credencia como um candidato fortíssimo, "um perfil ideal para qualquer administração" como tem ouvido da parte de vários segmentos.
Afinal, são 30 trabalhos, em funções de coordenação ou integrando equipes, desde que participou da equipe que, na administração Ivo Arzua Pereira, do plano preliminar urbanístico de Curitiba, em 1965, "onde tudo começou, dali surgindo a assessoria que se transformaria no Ippuc" recorda. Projetos na área do Litoral Norte de São Paulo (66), Litoral do Paraná (66), coordenação pela Universidade Federal no convênio Sudesul/governo do Estado para definição de uma política de desenvolvimento urbano a nível microrregional (PDU, 1971), coordenação do plano de edificação com vistas à urbanização nacional; consultorias especiais em Foz do Iguaçu e Caiobá; definição de planos industriais no Norte, Leste e Oeste do estado do Paraná (1975) e, também a pré-definição da hoje Cidade Industrial de Curitiba foram algumas das atividades que, há duas décadas já o tornaram um técnico dos mais prestigiados - reconhecido especialmente no governo Paulo Pimentel. Uma experiência que também o levou a elaborar projetos de desenvolvimentos integrados em outros estados, como nos municípios de Natal, Eduardo Gomes, Macaiba, Macau, Praia de Ponta Negra, São Gonçalo do Amarante e Extremos, no Rio Grande do Norte. No Paraná, também em Cascavel (86), Ponta Grossa (89), e a própria Região Metropolitana de Curitiba - quando foi coordenador, há 10 anos da reavaliação do plano de desenvolvimento integrado, teve presença efetiva.
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Assim, dentro do quadro de homens preparados para garantira a Curitiba uma continuidade administrativa - mas acrescentando novas idéias, consolidando o que de bom foi feito, "mas enfrentando os problemas que continuam a existir, dentro da própria estrutura de uma cidade-pólo que está longe de ser (ainda) aquilo que se diz, como a melhor cidade do país", Luís Forte Neto, no vigor de seus 57 anos, completados em 1º de fevereiro último, inesperadamente, viu seu nome lembrado - e prestigiado - como uma boa opção política.
- "Não pedi e nem peço funções, pois em toda minha vida as consegui em decorrência do meu trabalho. Seria, entretanto, injusto aos que me conhecem negar-me , legitimamente, oferecer aquilo a que sempre me dediquei: o planejamento, a administração e uma visão urbanística em que a cidade ofereça cada vez mais melhores condições de vida aos seus habitantes."
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Ao lado do técnico e urbanista, professor de várias gerações, Forte Neto é uma pessoa preocupada com questões culturais e sociais. Tem idéias muito bem definidas sobre o que deve ser cultura - e o que administração municipal deve exercer nesta importante área. O que, infelizmente, não acontece na administração Lerner.
Há 27 anos, na maior [discrição] - (até hoje nunca permitiu maior divulgação a respeito) - Forte Neto dedica duas horas por dia às funções de secretário-administrativo da Associação Hospitalar Professor Dr. Raul Carneiro, mantenedora do Hospital Pequeno Príncipe, presidido por sua esposa, Ety. Quando fala das atividades do hospital, "uma instituição beneficente, que sempre se dedicou prioritariamente ao atendimento das crianças necessitada", Forte Neto entusiasma-se.
- "Mensalmente o hospital atende em ambulatório cerca de 15 mil crianças, com 10% de internamentos. Também mensalmente são executadas cerca de 45 operações cardíacas, inclusive transplantes do coração. É um trabalho comunitário, desenvolvido graças a centenas de pessoas - a começar por uma equipe de mais de 100 médicos."
Um motivo de orgulho - tão grande como das vitórias em concursos de arquitetura - foi a distinção que o Hospital Pequeno Príncipe obteve recentemente: ao lado do Hospital N. S. das Graças, foi considerado o que oferece menor risco de contágio hospitalar.
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Homem de seu tempo, uma esplêndida forma física - diariamente, ao menos 30 a 45 minutos são dedicados a exercícios físicos, Forte Neto diz com entusiasmo:
- "Sinto-me realizado como profissional e cidadão. Minhas filhas Cristina, Tatiana e Patrícia estão casadas. Tenho duas belas netas e acompanhei Curitiba transformar-se nestes últimos anos. Acho que posso dar uma contribuição para que ela chegue ainda melhor no ano 2000".
(*) NOTA
Jaime Lerner deixou a presidência do Ippuc quando atritou-se com o prefeito Omar Sabbag devido ao fato de este ter preferido contratar o professor Rubens Meister, o maior nome de nossa arquitetura, para executar o projeto da Estação Rodoferroviária, Lerner, que havia se empenhado para a sua construção - inclusive nas negociações com a RVPSC - defendia que o projeto deveria ser elaborado pelos técnicos do Ippuc. Sabbag pensava o contrário e, devido à intransigência de Lerner, o demitiu da presidência do Instituto de Planejamento.
LEGENDA FOTO 1
Luís Forte Neto, 34 anos de arquitetura e trabalhos na área de urbanismo e planejamento, professor-fundador do curso de arquitetura da UFP, surge como uma das boas opções para que Curitiba possa ter continuidade em termos de competência administrativa (Foto Orlando Azevedo).
LEGENDA FOTO 2
Ex-presidente do Ippuc, autor de 30 projetos na área do urbanismo e planejamento, premiado em mais de 20 concursos nacionais de arquitetura, Forte Neto pode unir o PMDB e PST como a opção técnica , com competência e sensibilidade, nas eleições deste ano (Foto Orlando Azevedo).
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