Orcy, aquele que teve a idéia da Linha Vermelha
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 08 de maio de 1991
No sábado, 4, pela manhã, ao inaugurar as "Pegadas da Memória" - o roteiro para se conhecer, a pé, os 60 pontos de maior interesse no centro de Curitiba - o prefeito Jaime Lerner em seu discurso, fez questão de lembrar os nomes do casal Orcy e Elisabeth Stunn, convidados de honra para o acontecimento. Muitos se surpreenderam, pois afinal, em seu cansativo blá-blá, o deputado Rafael Greca de Macedo procurou capitalizar para si toda a "glória" desta idéia que possibilitou que a imprensa, rádio e televisão abrissem mais espaços para os políticos eventos que vem marcando os trabalhos da "Comissão dos 300 anos de Curitiba".
Como é de seu feito, em tentar sempre capitalizar egoisticamente tudo aquilo que pode, o deputado Rafael Greca esqueceu de contar que a idéia de "Pegadas da Memória", foi trazida a Curitiba por Orcy Stuhm e sua esposa Elizabeth, Orcy, um velho amigo de Jaime, apresentou a sugestão que foi aprovada.
Entretanto, toda a exploração que se fez em torno de sua implantação procurou capitalizar como mais uma "brilhante" prova de "criatividade" do deputado Rafael Greca de Macedo, que em sua gula política de se impor como candidato ungido pelo PDT à sucessão de Lerner, está transformando a comissão dos 300 anos em foco de atritos trazendo sérios problemas para o prefeito Lerner.
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Felizmente, Jaime Lerner, que respeita profundamente os direitos autorais e procura ser justo, fez questão de incumbir sua equipe pessoal de convidar Orcy e Elizabeth para a inauguração e, chocado por Rafael tê-lo ignorado em seu discurso, corrigiu a falha. Infelizmente, no livreto de 56 páginas, "Pegadas da Memória", patrocinado pelo Banco Itaú, não deu para evitar que o verdadeiro idealizador do projeto fosse "esquecido" - o que também irritou Lerner. Aliás, não só Orcy Stunn foi maldosamente "esquecido" nesta publicação: o Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano de Curitiba, que coordena a parte física destes projetos, não é mencionado e se o engenheiro Cássio Taniguschi não fosse o melhor amigo de Jaime - e principalmente um técnico de nível internacional, livre de vaidades pessoais e ambições políticas, teria todo o direito de reclamar. Afinal, foi o IPPUC que colocou três de seus amigos arquitetos - Aurélio Sant'Anna, Olga Maria Prestes Muller e Fernando Luiz Popp - para executarem o projeto Linha Vermelha - também chamado "Pegadas da Memória".
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A execução apressada do projeto irritou ao prefeito Jaime Lerner. O planejamento feito pelos arquitetos do IPPUC - e aprovado previamente - previam apenas uma faixa de dez centímetros, sem as ridículas "pegadas", para não comprometer esteticamente as calçadas - em muitos trechos com belos exemplos de desenhos e criações de mostras de nossas artes plásticas, inclusive Poty Lazarotto.
Entretanto, exorbitando de suas funções - e prevalecendo-se de um trânsito que diz possuir junto ao prefeito - Rafael Grecca praticamente obrigou a Secretaria de Obras a executar a linha vermelha com 30 centímetros de largura. Quando retornou do Rio de Janeiro, na semana passada, além de encontrar a crise provocada pelas diretoras da Fundação Cultural, Jaime também aborreceu-se com as críticas e polêmicas que a Linha Vermelha, da forma com que foi executada (praticamente a sua revelia) está provocando. Enfim, como a inauguração estava marcada, Lerner assumiu a "obra", embora, deixando claro até que a "Linha Vermelha" deve ficar no cotidiano das pessoas - dispensando sua pintura nas calçadas.
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Gaúcho de Venâncio Ayres, 57 anos que completará no próximo dia 21, Orcy Stunn, é economista e administrador de empresas formado pela UFPR na turma de 1960 - contemporâneo do hoje deputado Reinhold Stephanes. Funcionário da Prefeitura desde 1954, foi secretário da Fazenda na administração Ivo Arzua, passou depois pelo Departamento Estadual do Serviço Público e desde 1983 é assessor da Telepar, ocupando a chefia de gabinete da presidência. Professor de administração da UFPR há 23 anos, considerado um dos grandes especialistas em administração pública, Orcy já fez vários cursos no Exterior - especialmente em Madrid, em 1980, e na Alemanha. Falando inglês e alemão (é bisneto de imigrantes), sempre foi um homem identificado à cidade. Aposentado da prefeitura há cinco anos, é hoje um colaborador espontâneo que procura levar boas idéias a cidade que adotou para si e onde nasceram suas filhas - Silvana, 26 anos, engenheira; Cristina, 24 anos, analista de sistemas e Gisela, 20 anos, administradora de empresas.
A Orcy, portanto, os méritos e louvores da idéia inteligente do caminho para se conhecer o centro de Curitiba. Pena que nas atrapalhadas demagógicas com que o presidente da Comissão dos 300 anos vem marcando sua presença, o projeto não tenha saído como Jaime e Cássio haviam originalmente planejado.
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