Uma produção faraônica na pedreira do Leminski
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 03 de abril de 1991
Ao reservar quase Cr$ 5 milhões para financiar o curso de Ética - pagando o apreciável cachê de Cr$ 60 mil por palestra - a Secretaria Municipal da Cultura mostra não só uma excelente situação financeira como também acena para remunerações altas a todos que, de agora em diante, se dispuserem a participar de qualquer evento patrocinado pelo município de Curitiba.
Afinal, se convidados de outros estados receberão quase quatro salários mínimos para fazerem aqui uma única palestra - afora hospedagem, alimentação (em restaurantes de primeira categoria), e transporte, nada mais justo do que se dê tratamento igual a todos os que, futuramente, forem "convidados" para colaborarem nos eventos culturais e promocionais da administração Jaime Lerner.
Neste aspecto, a classe intelectual só pode louvar o excelente trânsito que o filósofo Adauto Novaes tem junto ao poder público municipal, numa valorização ao trabalho intelectual - geralmente mal remunerado e, na maioria das vezes, solicitado como "colaboração", sem qualquer remuneração.
Curitiba está se tornando um Eldorado em termos de eventos culturais que exigem altos investimentos. A representação da Paixão de Cristo, na última sexta-feira, na Pedreira Paulo Leminski, apesar de ser encenada por artistas amadores, custou quase Cr$ 5 milhões - tanto quanto uma ópera montada no Teatro Guaíra. Aliás, após ter pensado em patrocinar uma encenação de "Aida", de Verdi, como manda o figurino (ou seja, incluindo elefantes africanos), o prefeito Jaime Lerner acabou aceitando a sugestão de que naquele local que a atual administração deseja movimentar a qualquer custo, seja montado um projeto mais contemporâneo: a Ópera "Akhnaten", de Philip Glass - que estreou em 1985 em Stutgart, na Alemanha, e até hoje só teve uma segunda encenação na cidade de Houston, Texas, financiada por um dos maiores grupos multinacionais. Integrando um ciclo de obras monumentais de Glass - da qual fazem parte "Eisenstein on the Beach" e "Satyagrahp" (sobre Gandhi), "Akhnaten" é uma ópera grandiosa que foi escrita com base nos escritos do faraó egípcio que criou o monoteísmo. Marcelo Marchioro, diretor responsável por duas bem sucedidas óperas produzidas pela Fundação Teatro Guaíra, deve reunir-se ainda esta semana com Lúcia Camargo para apresentar um anteprojeto desta produção que seria encenada no final do ano.
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Já por duas vezes, a Secretaria Municipal da Cultura gastou muitos milhões para trazer a Curitiba rastolhos da Mostra Internacional de Cinema, que o Sr. Leon Cakoff organiza há 13 anos em São Paulo.
Embora com alguns filmes interessantes, a promoção beneficia apenas uma minoria de espectadores, pois a maior parte dos filmes exibidos são em versões originais. Os realizadores de cinema e vídeo de Curitiba - que há anos esperam pela regulamentação da lei que criou o Fundo Municipal de Cinema, sempre foram contrários a despesas com eventos como estes, enquanto inexiste qualquer política oficial que estimule a realização de documentários sobre Curitiba.
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Uma correção: chama-se Nilza Procopiak - e não Neusa Paciornik, conforme registramos ontem, a senhora que trabalha na Fundação Cultura de Curitiba / Secretaria Municipal de Cultura e que foi um dos nomes cogitados para substituir a professora Maria Cecília Noronha na direção do Museu de Arte Contemporânea.
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