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FCC usa gibi e leva cultura aos bairros

Agora, além de frei dominicano, professor, técnico em planejamento, compositor e cantor, mais uma adjetivação pode ser acrescentada a Paulo César Bottas, 40 anos, paranaense de Jacarezinho, atualmente assessor da presidência da Fundação Cultural: Periférico Reitor. Uma denominação íntima, que seus colegas estão lhe dando, pela sua mais nova função: coordenar a Universidade dos Bairros, que, a partir de abril, estará sendo levada a vários pontos de Curitiba, em mais uma etapa da filosofia da popularização da cultura desenvolvida pelo presidente da FCC. Carlos Frederico Marés de Sousa. xxx A idéia é simples e prática: utilizando os espaços dos dois "Circos da Cidade", atualmente nos bairros de Santa Amélia e São Brás, a Fundação monta uma série de cursos com temas práticos, numa carga máxima de cinco horas, para oferecer às comunidades informações sobre aquilo que lhes é de interesse imediato: direitos trabalhistas, gravura e impressão de silk-screen, higiene, conservação de alimentos, plantio de hortaliças, jardinagem, primeiros socorros, etc. Enfim, o ensinamento prático que possa fazer com que famílias humildes enfrentem melhor a dificuldade do dia-a-dia, e, num esforço comum encontrar soluções em equipe. Os cursos serão organizados em colaboração com outras instituições e órgãos - Secretarias da Agricultura e Saúde, Bem-Estar Social, Surehma, Diretoria de Parques e Praças, etc., de forma a que a informação prática seja passada de modo objetivo em aulas dinâmicas, "sem qualquer chatice", como diz o reitor periférico Paulo César. Dependendo dos resultados - e do interesse obtido - os cursos poderão ser levados a outros municípios, pelas próprias entidades participantes. E, proporcionalmente à sua aceitação, novos cursos serão acrescentados nesse cardápio de informação e cultura popular. xxx Antes mesmo de se realizar o primeiro curso, que terá como tema "A Cultura Nossa de Cada Dia", a Fundação Cultural está preparando um atraente material informativo. São livros de 20 páginas, em formato de histórias-em-quadrinhos, com as idéias básicas a desenvolver. O primeiro deles faz justamente a colocação da importância de se ter a informação para se defender dos direitos. Partindo de um personagem desempregado, revoltado e violento, é feita sua conscientização para seus direitos e a importância de organização para poder reivindicá-los. Já o segundo livro, "No Circo a Gente se Encontra", explica o trabalho que vem sendo desenvolvido na periferia, com a motivação do "Circo da Cidade", utilizando originalmente a estrutura que pertencia aos irmãos Queirolo, hoje já com uma segunda e maior unidade. xxx Os livros em quadrinhos estão sendo criados pelo escritor gaúcho Tabajara Ruas (livros publicados pela L&PM), que há dois anos reside em Curitiba, para onde veio a convite do velho amigo Marés de Souza, a quem conheceu no exílio europeu nos anos 70. Os desenhos são de um dos mais respeitados quadrinistas brasileiros, Flávio Colim, paulista, criador entre outros, das aventuras do "Anjo", e que também decidiu se fixar em nossa cidade e aqui tem feito trabalhos para agências de publicidade e a FCC. O uso da técnica de história-em-quadrinhos para comunicação com as faixas mais humildes da população, não é novidade. Já inúmeras vezes tanto o governo federal como o estadual, além de instituições e empresas privadas, recorreram aos comics para passar as mensagens pretendidas. No governo Paulo Pimentel, várias campanhas comunitárias foram desenvolvidas através dos quadrinhos e até o Pato Donald e Tio Patinhas foram, certa feita, mobilizados para ajudar a aumentar a arrecadação, num projeto idealizado pelo falecido jornalista Geraldo Russi, assessor do então secretário de Finanças Orlando Mayrink Góes. O diferencial, agora, na utilização da técnica de histórias-em-quadrinhos para a "Universidade dos Bairros" é o sentido político-ideológico que caracteriza as publicações. Segundo uma filosofia de cultura popular, dedicada às massas e que parte, inclusive, dos projetos de associações de bairros e amplas consultas a cada comunidade, o desenvolvimento dos textos de Tabajara Ruas e desenhos de Flávio Colim, seguem uma coordenação demoradamente estudada e planejada. Assim, aos que se dedicam ao estudo dos quadrinhos no Brasil, até já um campo com vários trabalhos universitários (a partir do pioneirismo do gaúcho Francisco Araújo, primeiro professor de HQ na Universidade de Brasília, há 15 anos passados), os livros da "Universidade dos Bairros", trarão, também, um interessante aspecto para análise e discussão.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
21/03/1985

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