Gibi agora é curtição para adultos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de outubro de 1991
Há 26 anos, quando o jornalista Mussa José Assis assumiu a chefia de redação de O Estado do Paraná e dentro de uma série de reformas e inovações, aqui introduzimos a primeira página dedicada a quadrinhos na imprensa brasileira. Aquilo que hoje é comum nos grandes jornais nacionais, teve o seu pioneirismo em nosso jornal - pois até então, apenas tímidas colunas abordavam as HQ, como tema para interpretações a análises - entre as quais dos pioneiros Sérgio Augusto ("Jornal do Brasil", antes no extinto "Correio da Manhã") e Moacy Cirne ("O Globo").
Teóricos apaixonados por quadrinhos, como inesquecível Denizar Zanello Miranda - já falecido, Célio Heitor Guimarães, o jornalista Francisco Camargo entre outros voltaram seus olhares em textos significativos sobre quadrinhos.
Cinco anos depois, na então iniciante Fundação Cultural de Curitiba, promovemos uma exposição internacional sobre HQs - que havia sido organizada por Álvaro Moya, no MASP em São Paulo, e que veio a Curitiba para a programação de inauguração do Centro de Criatividade do Parque São Lourenço e tivemos o prazer de editar um minilivro, "Gibi é coisa séria", reunindo vários textos sobre o mundo dos quadrinhos.
Nestes últimos 20 anos, os quadrinhos deixaram a condição de leitura maldita e perseguida por pais & educadores, adquiriram status de ciência de comunicação, ganhou imensa bibliografia e gibitecas em várias cidades - a primeira das quais, reconheça-se, foi sugerida pelo arquiteto Domingos Bongstabs, que ao lado de Key Imaguire Jr. - formou sempre a dupla mais entusiasmada pelo mundo dos desenhos. Bongstabs - como tantos outros quadriólogos acabou diminuindo seus interesses por esta área, ao contrário de Key, que com sua organização nipônica, tem não só o maior acervo de revistas e livros sobre quadrinhos, cartuns, etc., como, há dois anos, foi convidado a integrar um júri internacional no Canadá, em importante salão de cartoons, quando se tornou amigo de Will Eisner ("O Espírito"), graças ao que o trêfego Edson Bueno fez uma pastiche montagem inspirada em seu personagem mais famoso.
Hoje, os chamados quadrinhos para adultos ocupam um espaço privilegiado junto as grandes editoras - desde um divisão especial da Abril até casas publicadoras como a Martins Fontes, de São Paulo e, especialmente, a LP&M, de Porto Alegre, que mensalmente trazem novos títulos. Álbuns luxuosos, com personagens fascinantes - inclusive numa linha audaciosa eroticamente - e que por anos eram importadas - estão hoje a disposição e todos os interessados, em lançamentos regulares.
Ivan Pinheiro Machado, com a categoria que o faz liderar o setor editorial com sua LP&M, já lançou mais de 50 álbuns de quadrinhos, além de uma preciosa enciclopédia, de autoria do jornalista Goida, que além de ser o mais conhecido crítico de cinema do Rio Grande do Sul, nas páginas da "Zero Hora", é também um pesquisador dos quadrinhos.
A partir de "O Amante de Lady Chatterley", na qual o proibido romance de D. H. Lawrence (1885-1935) - que tanto chocou os puritanos ingleses em 1928 - quadrinizado por Hermerson Hunt a "O Analista de Bagé", de Luís Fernando Veríssimo, a coleção Quadrinhos LP&M, tem trazido o melhor dos criadores de quadrinhos como Guido Crepax, Jean-Claude Cleeys, Dono Bataglia, José Salinas, Chester Gould ("Dick Tracy"), Lee Falk & Ray Moore ("Fantasma"), Dik Browne ("Hagar, o Horrível"), Hugo Pratt, Jules Feiffer, Mort Walker ("Recruta Zero"), Quino, Will Eisner, Milton Caniff ("Steve Canyon"), Jerome Siegel e Joe Shister ("Superman"), Wolinski e tantos outros.
Também os brasileiros tem sido privilegiados pela LP&M - do gaúcho Luís Fernando Veríssimo (além do excelente humorista, também desenhista) até o terrorífico R. F. Luchetti ("Zé do Caixão"), passando pelo humor de Alex Solnik e Paulo Caruso ("Bar Brasil", "Capitão Bandeira"), Flávio Colin ("A Guerra dos Farrapos", em parceria com Tabajara Ruas), Miguel Paiva ("Radical Chique"), Edgar Vasques ("Rango"), Caulos e tantos outros.
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