Goteiras nos museus, teatro sem elevador. Pobre Paraná!
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 26 de junho de 1987
Preocupado em realizar uma "administração iluminada, em renascimento cultural no Paraná" - como tem, exaustivamente, repetido em dezenas de discursos desde que foi escolhido pelo governador Álvaro Dias para a pasta da Cultura, o advogado Renê Dotti tem uma responsabilidade maior em suas mãos: apesar da época de crise, do orçamento em vermelho, sensibilizar o governo para que a Biblioteca Pública do Paraná ganhe os dois andares que, projetados há 34 anos, estão à espera de uma administração realmente preocupada com a nossa vida cultural.
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Independente de propostas de criação de bibliotecas em bairros e outras fórmulas capazes de desafogar o movimento da unidade central, o fato é que não se justifica que existindo estrutura capaz de suportar mais dois andares, a BPP não cresça em pelo menos mais quatro mil metros quadrados.
Incrível, fantástico, extraordinário: até agora, não foi encontrado o projeto arquitetônico do prédio, uma das alegações pela qual não se pensou ainda, de forma concreta, na execução de obras de ampliação.
Se o próprio projeto do prédio da Biblioteca Pública do Paraná - organismo que deve guardar parte da memória do Estado - não é localizado, imagine-se a documentação técnica dos outros prédios públicos do Estado!
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O secretário Renê Dotti alimenta muitos sonhos culturais. Criou mais de uma dezena de grupos de trabalhos para assessorá-lo, tem falado muito e bonito em torno de projetos que, realmente, são importantes para o Estado - tão sofrido em termos da administração pública no que concerne a arte e cultura, após a catástrofe que foi o governo José Richa.
Entretanto, muito mais importante do que se pensar em organismos altamente discutíveis - como a Fundação Estadual do Livro (destinada a semanais, um cabide de empregos e de gastos supérfluos dentro da paquidérmica estrutura da SEC) seria de se pensar em canalizar recursos para obras de fato, que se fazem indispensáveis. A ampliação da Biblioteca Pública do Paraná é uma delas.
Outra seria a conclusão do auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, inaugurado há 13 anos e que ficou incompleto. A instalação de pelo menos um dos quatro elevadores que o arquiteto Rubens Meister projetou para o grande auditório.
Deficiente físico, o próprio Rubens Meister tem dificuldades para chegar à platéia do auditório Bento Munhoz da Rocha Neto. Milhares de deficientes físicos jamais foram ao teatro pela inexistência de um elevador. O acesso ao primeiro e segundo balcão é impossível para pessoas idosas e com problemas cardíacos.
Não é de hoje que se fala neste problema de acesso ao grande auditório. Sucessivas administrações tem feito ouvidos-de-mercador e preferido estourar milhões de cruzados em discutíveis produções com o balé Guaíra - merecedor de toda atenção, sem dúvida - do que pensar em resolver problemas de fato.
Alegações existem muitas. Vontade de solucionar os problemas é que são elas.
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Os museus da cidade estão com goteiras que colocam em risco os seus já precários acervos. A Biblioteca Pública há muito não recebe atenção que merece. O grande auditório do Teatro Guaíra não tem um único elevador - e seu bar-bomboniere é uma vergonha em termos de apresentação e atendimento, parecendo mais um botequim de beira de estrada.
Entretanto, há quem fale em produções caríssimas, assim como, no início deste ano, se dinamitaram mais de Cz$ 5 milhões para tentar transformar o velho Palácio São Francisco num "Museu de Arte do Paraná" - hoje abandonado e mais um elefante branco na administração pública do Estado.
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