O dia em que Lupion escapou de ser preso
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 26 de julho de 1988
Quando Ney Braga convocou o coronel Ítalo Conti, então na ativa - e com projetos pessoais de continuar no Exército, para chegar ao generalato em comando - e lhe propôs que assumisse a então Chefia de Polícia, lhe fez uma observação:
"Você terá todo o meu apoio para desenvolver toda uma ação de melhorar a segurança no Estado, inclusive implantando uma Secretaria do Estado. Só não faça duas coisas: repressão e tiros a estudantes ou bater na barriga vazia dos trabalhadores em greves".
Olhando para o passado, depois de ter sido ocupante do cargo durante todo o governo Ney Braga (posteriormente, por alguns meses, foi secretário de Trabalho e Assistência Social no governo Paulo Pimentel), diz com orgulho:
Creio que consegui isto. Apesar das dificuldades, evitei violências de todas as formas e se assim não fosse não teria sido homenageado com um jantar de estudantes, no qual um dos oradores foi, vejam só, Carlos Frederico Marés de Souza" (só em 1986, com o endurecimento do regime militar, o então presidente do DCE - e hoje todo poderoso secretário municipal da Cultura e presidente da FCC - teve que fugir do Brasil).
Eleito deputado federal por três vezes - "com uma sempre expressiva votação em Curitiba" - Ítalo também viu nisto um testemunho de seu temperamento conciliador, capaz de manter a cabeça fria nos momentos mais delicados. Um dos orgulhos que tem é, vez por outra, receber um telefonema do ex-governador Moyses Lupion.
-"No auge das acusações contra Lupion, a imprensa nacional, mandou cobrir em Curitiba os processos que o envolviam e que deveriam levá-lo à cadeia. Quando foi decidido na Justiça pela sua detenção, para responder a inquérito, recebi a determinação de mandar prendê-lo. Recebi o documento, chamei o Lycio (Bley Vieira, hoje juiz federal), meu chefe de gabinete, e disse a ele: "procure o Aníbal (Curi), para ele localizar Lupion e avisá-lo de que reterei esta ordem por duas horas".
Aníbal Curi, sempre a experiente raposa política, amigo de Lupion, encontrou-o e ajudou para deixar o Brasil. Só quando soube que o ex-governador se encontrava em segurança, Ítalo despachou a Delegacia de Vigilância e Capturas "para localizar Lupion".
Explica, com tranqüilidade, a decisão tomada naquele momento:
- "Todos esperavam ver Lupion preso, algemado, humilhado. Eu ganharia fotos e manchetes nacionais. Mas, por uma felicidade, entendi que havia muitos fatores políticos em jogo e a prisão de Lupion, reduzindo-o a um criminoso comum, seria julgado pela história. Hoje, vemos que ele foi absolvido dos processos movidos e não merecia ser humilhado e ofendido. Honro-me de ter, de minha parte, impedido a sua prisão".
Apanhando um exemplar de "Lupion, A Verdade", escrito por Raul Vaz, advogado e amigo de Moyses Lupion - e, até agora, o único livro a examinar a vida política do homem que por duas vezes, em eleições diretas, chegou ao governo do Paraná - Ítalo Conti acrescenta:
- "Neste livro, não há a menor crítica a minha pessoa. Raul Vaz sabe de minha posição na época".
LEGENDA FOTO - Moisés Lupion.
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