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Aramis

Um livro sobre Lerner e a autobiografia que Anibal censurou

---- Nota: Este artigo que foi escrito por Aramis Millarch para sua coluna Tablóide de 06 de maio de 1992, foi censurado. ---- Jornalista com larga quilometragem na imprensa paulista onde integrou equipes das maiores publicações, Cecília de Christo Garçoni está planejando um projeto de maior fôlego profissional: uma biografia sobre Jaime Lerner. Co-editora do "Jornal da Cidade", tentativa de Odone Fortes Neto em ampliar sua organização (Editora Jornal da Indústria e Comércio) que interrompeu após dez semanas, com uma visão político-social desde seus tempos de colegial em Foz do Iguaçu, Cecília pretende, ao lado do fascínio em torno de Lerner, oferecer uma biografia interpretativa de suas três administrações, revelando também o homem, e hoje, especialmente o político que está tendo cada vez mais o "preparo" para representar uma opção de vários segmentos da sociedade brasileira na sucessão presidencial. xxx Jaime Lerner, até a semana passada, garantia ignorar o projeto de Cecília, embora, naturalmente, a idéia de merecer uma biografia não deixe de representar, a qualquer homem público, uma espécie de consagração. Há três anos, logo no início desta sua terceira administração, Jaime chegou a ter demoradas reuniões com o cineasta e homem de TV Valêncio Xavier para a realização de um vídeo sobre a sua obra, mostrando especialmente suas concepções da cidade. Infelizmente, o projeto não prosperou e Jaime, precariamente assessorado na área de cinema e vídeo, até hoje não dispõe de ao menos um documentário em nível profissional e artístico que pudesse facilitar a "venda" de seus trabalhos não só no Exterior mas mesmo no Brasil. Felizmente, o seu carisma - e a cobertura da imprensa nacional (e de muitos veículos internacionais) supriu em parte esta deficiência, mas a idéia de um vídeo ou filme sobre Lerner ainda está nos planos de Valêncio, por sinal, contratado desde outubro do ano passado para coordenar o Projeto Americanicidade - e única realização digna e realmente importante que se desenvolve na área da Cinemateca do Museu Guido Viaro. xxx Pela sua integridade e comprovada competência, Cecília de Christo Garçoni, se levar adiante o projeto de fazer um livro sobre Jaime Lerner, enfrentará o mesmo problema que tem bloqueado outras empreitadas semelhantes: a dificuldade de fazer uma análise realmente imparcial sobre um homem e político que detém as cordas do poder. Se mesmo personalidades políticas da dimensão de Manoel Ribas, Bento Munhoz da Rocha Neto e Moyses Lupion não tiveram, até hoje, ensaios biográficos sobre suas carreiras - justamente pelo temor dos possíveis biógrafos em encararem questões conflitantes - imagine-se as limitações que se defronta um jornalista ao tentar contar, sem bajulações e servilismo, os prós e os contras de um político vivo e atuante? Há anos que alguns jornalistas planejam um livro sobre Ney Braga - incontestavelmente uma das personalidades mais importantes da história político-administrativa do Paraná, mas nada de efetivo foi até agora feito. Sílvio Sebastiani, ao escrever genericamente sobre os anos de fogo da oposição no Paraná em "Por Dentro de MDB", vem enfrentando reclamações e protestos - embora bem documentado, não tema qualquer processo. Mais interessante foi o que aconteceu com o jornalista Milton Ivan Heller. Veterano repórter, 60 anos, 36 de imprensa, sempre ligado às correntes de esquerda - o que lhe custou muitas perseguições e inclusive processos após o golpe militar, foi contratado pelo deputado Anibal Curi para escrever um livro biográfico da mais felpuda raposa política do Paraná. Fez um trabalho profissional, totalmente autorizado pelo poderoso presidente da Assembléia Legislativa, intitulado "Anibal Curi, O Homem". Aprovado pelo próprio, foi impresso no serviço gráfico da Assembléia mas quando Anibal mostrou os primeiros exemplares para alguns amigos de sua máxima confiança foi desaconselhado a permitir a circulação da obra. Afinal, em suas reminiscências, Anibal teria revelado algumas indiscrições e críticas relacionadas a personalidades paranaenses que ainda estão, direta ou indiretamente, no poder e que, com a circulação do livro, protestarão. Em seu raposismo - que o faz dominar a política (e especialmente os politiqueiros) desde o final dos anos 50 - Anibal não quer, ao menos neste ano eleitoral, oferecer lenha para a fogueira das ardências eleitorais. Por isto, com seu direito de personagem, patrocinador e editor da obra, mandou recolher os poucos exemplares distribuídos e, junto com a edição (2 mil unidades, ao que consta) trancou a sete chaves. Até agora não ameaçou incinerá-la, mas a sua divulgação está totalmente interditada - e se alguém conseguiu obter um exemplar de "Anibal Curi, O Homem", nem mesmo o autor do texto, Milton Ivan, tem conhecimento. - "Mas deve estar valendo muito" - comenta um arguto observador de nossas questões políticas. LEGENDA FOTO - Deputado Anibal Curi: censurando a própria biografia escrita pelo jornalista Milton Ivan Heller. ---- Nota: Este artigo que foi escrito por Aramis Millarch para sua coluna Tablóide de 06 de maio de 1992, foi censurado. ----
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
06/05/1992

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