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Aramis

A morte de um governador

"Tenho a consciência tranqüila do dever cumprido. Fui absolvido das acusações - tantas que me fizeram. Dei minha contribuição ao Paraná que tanto amo. Se perdi muito, também ganhei como ser humano. Se tivesse 40 anos, voltaria a fazer tudo de novo, lógico que com mais experiência". (Moyses Lupion, em depoimento exclusivo para esta coluna, em entrevista editada no "O Estado do Paraná", em 23 de setembro de 1990). Quando o caixão com o corpo do ex-governador Moyses Lupion, carregado por cadetes da PMEP, três de seus netos e um dos maiores amigos, o médico Pio Taborda Veiga, 74 anos, era conduzido ao jazigo da família no alto do Cemitério Municipal, às 17:10h da última sexta-feira, 30, o sol começava a se por no horizonte, refletindo uma coloração de excepcional beleza entre as árvores desfolhadas. Ito Cornelsen, 28, sobrinho-neto e que há menos de dois meses havia feito as últimas 20 fotos de Lupion e familiares (uma delas publicada na primeira página de "O Estado", 30/08) comentou: - "O céu também fez a imagem com uma coloração digna do cenário final da vida de um grande homem". xxx Assim como Ito, em sua juventude, as 200 pessoas que acompanharam o sepultamento - assim como as 300 que, a partir das 11h da manhã estiveram no velório no salão nobre do Palácio Iguaçu - repetiam, de uma forma ou outra, a sensação que foi de todos que, 30 anos após a "Era Lupion" ter se encerrado no Paraná - deixou: um político e administrador cuja reavaliação e importância ainda não foi feita e que, em suas glórias ou derrotas, sempre teve uma extraordinária dimensão humana. Emoção tão grande que preocupou a todos quando viram o último dos constituintes de 46, no Paraná, Aldo Laval, 78 anos, subir sobre um túmulo e dali pronunciar um elogio fúnebre entrecortado de lágrimas e soluços. Petebista histórico de Ponta Grossa, líder ferroviário que ajudou a escrever a Constituição do Paraná, Laval foi a voz mais emocionada na despedida de Lupion, embora sua sobrinha, Beatriz de Quadros Ribas, 62 anos - filha da mais velha de suas irmãs, Maria de Jesus - também tremesse durante os 4 minutos em que falou em nome da família. Ex-deputado federal, como Moyses também cassado pela Revolução, o petebista Leo de Almeida Neto, 60 anos, ofereceu um perfil político e pessoal do homem que por duas vezes foi governador eleito do Paraná, destacando aquela que foi, entre outras, a sua maior virtude: a extrema bondade. Sem fazer propriamente uma oração, quase balbuciando exclamações de dor, outro dos maiores amigos que Lupion teve, o sr. Doraci Machado, 82 anos, foi reconhecido por poucos. Só alguns, mais idosos, o identificaram como o famoso Ceci, goleiro do Atlético Paranaense nos anos 50 e que como aviador conviveu por anos com Lupion, tornando-se um de seus grandes amigos. Única autoridade oficial presente, o deputado e prefeito interino Algaci Túlio, que de todos os oradores nunca conviveu com Lupion, soube externar a despedida oficial, lembrando as ligações de Lupion com Curitiba - "que a ele também muito deve". xxx Mais do que necrológico e o registro da morte do enterro de Moyses Lupion, falecido aos 83 anos - que havia completado dia 25 de março último, a lembrança contém uma fase da vida política e administrativa do Paraná. Hoje, passadas três décadas de quando deixou o poder, debaixo das mais pesadas acusações e processos - que o obrigaram inclusive a se exilar na Argentina e o fizeram sofrer por mais de 15 anos - mesmo os mais cáusticos críticos e opositores reconhecem: mesmo que tudo aquilo que lhe foi imputado - e a verdade é que a absolvição veio ainda em vida, quando em 1976/77, a Comissão Geral de Investigações do Ministério da Justiça arquivou, por unanimidade, os processos contra sua pessoa (*) - os erros e deslizes seriam mínimos perante o que o nosso país vive nestes últimos anos de corrupção, roubalheira e descrédito internacional. O lado do "self made man" - o garoto pobre de Jaguariaíva, que construiu (antes de ser eleito governador em 1947) uma das cinco maiores fortunas do Brasil e que, por duas vezes, foi eleito pelo povo paranaense, traduz-se num político e administrador de uma época (**). Entre as 300 pessoas que assinaram o livro de presença no Palácio Iguaçu (o primeiro foi o ex-deputado Aldo Laval), não havia quase identificação de políticos ou autoridades do momento (embora o governador Requião, elegantemente, tenha retardado sua viagem a Wenceslau Braz para permanecer exatos 8 minutos no velório). Em compensação, dezenas de pessoas humildes muitas vindo de cidades distantes como o ex-piloto Ceci (que saindo de Londrina, onde reside, viajou toda a madrugada de ônibus, tão logo soube pela televisão da morte do amigo), estiveram presentes ao adeus ao "amigo, mais do que o político que sabia honrar seus compromissos", como disse o múltiplo Ari Soares ("político"), 57 anos, que foi assessor de Lupion, "quando ele já não estava mais no poder, sozinho e acuado - mas conservando a mesma qualidade". Nota (*) Um relatório oficial do Banco do Brasil, de 1948, indicava Moyses Lupion como dono de uma das cinco maiores fortunas do país. Atuando em vários setores, com um conglomerado de 47 empresas, que não resistiram entretanto aos descaminhos políticos. Empobrecido, perdendo a maior parte do patrimônio, até hoje algumas questões judiciais envolvem suas propriedades. Moyses e dona Hermínia Rolim de Moura Lupion, tiveram três filhos - Hermenegilda, Joana D'Arc e Ubirajara, este o único ainda vivo, que lhe deram 22 netos. Nos últimos 19 anos, foi casado com a sra. Vilma Ramon de Almeida Doepfer Troya. (**) A partir do único depoimento-entrevista gravado pelo ex-governador Moyses Lupion nos últimos 30 anos, e que tivemos a honra de conduzir ao lado do jornalista Nani Góes, as documentaristas Berenice Mendes e Lu Rufalco, estão realizando um vídeo-documentário que será a primeira tentativa de oferecer uma visão imparcial do homem, do político e do administrador. Na sexta-feira, Berenice e sua equipe registraram 200 minutos com seqüências da chegada do corpo de Lupion do Rio, velório no Palácio Iguaçu, seu sepultamento e preciosos depoimentos. A pesquisa será completada com material iconográfico da época - inclusive filmes antigos e outras entrevistas. Quem dispuser de material que possa servir a este projeto pode contatar com Produtores Associados, fone: 342-4996. LEGENDA FOTO - Moyses Lupion, acima do político, as lembranças do homem generoso que por duas vezes foi eleito pelos paranaenses para governar o Paraná.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
03/09/1991
Convivi muito em tempo de estudante na´década de 70, como o Deputado Guataçara Borba Caneiro, que residia no Cabral, à Rua Anita Garibaldi 156, se não me falha a memoria, em frente a fabrica de bolacha Lucinda. E ali no aconchego do lar, passavamos as vezes o domingo inteiro falando sobre a Politíca do Paraná e do Brasil, nessa época em plena ditadura militar. Sempre que falavamos em nome do Gov. Moisés Lupion, ele me dizia, esse foi um dos homens mais corretos que coneci na vida. Entrou na Politíca com um imenso patrimônio, dono de Banco, de fazendas (Morungava - 35 mil alqueires paulista), fabrica de papel em Cachoeirinha, hoje Arapoti e tantas outras propriedades de vulto. Saiu da Politíca, escurraçado e com a "pecha" de ladrão. O próprio Gov. Ney Braga, foi o primeiro que procurou denegrir a imagem de Lupion e essa imagem de corrupto e de ladrão se estendeu por todo o País e além fronteira. Foi uma da maiores injustiças que foi feita com um homem público da envergadura de Moisés Lupion. Guataçara, quando falava da forma como estava sendo tratado o Lupion, enchias os olhos de´água e dizia um dia o Paraná vai reconhecer quem de fato foi Lupion. Foi o Governador que mais fêz obra em todo o Estado, ainda hoje passado mais de 50 anos, vemos vestigios das obras realizadas. Certa vêz, morava eu em Belo Horizonte nos anos 80 e um Engenheiro da Nuclebráz, me disse vc e da terra do maior ladrão do Brasil que é o Paraná??? Fiz na época uma defesa do Governador a uma platéira de mais de 50 pessoas que se achava presente e eles aí, pediram desculpas e me disseram que sabiam disso apenas pela imprensa da época e que até aquela data, nunca tinham ouvido algéum fazer a defesa do Ex-Governador. Portanto, esta na hora, de um Neto ou Bisneto de Moisés Lupion e Dna Herminia, resgatar a memória desse grande homem que foi Moisés Lupion, orgulho de todos os paranaenses que nasceram nesta terra abençoada.

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