Mesmo com a crise, um filme em produção. Em Florianópolis.
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 29 de abril de 1990
Enquanto Berenice Mendes, 30 anos, congela, temporariamente, seu sonho maior - levar à tela, numa superprodução, o romance "O Drama da Fazenda Fortaleza", seu irmão mais velho, o jornalista Carlos Eduardo Paredes, 33 anos, inicia o seu primeiro filme: "Memórias do Desterro".
Projeto menos ambicioso que o de Berenice, o curta de 15 minutos de Eduardo Paredes também é, um filme de época. Abordará um dos aspectos mais sangrentos da história de Santa Catarina - o fuzilamento de dezenas de pessoas, por ordem do marechal Floriano Peixoto, durante a revolução federalista. O fato, acontecido na ilha de Anhatomerim, foi demoradamente pesquisado pelo cineasta, que teve seu roteiro premiado num concurso promovido pela Prefeitura de Florianópolis - que será uma das patrocinadoras deste curta, cujo orçamento está ao redor de dois milhões de cruzeiros.
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Para cuidar da produção, Carlos Eduardo Paredes levou a profissional mais eficiente desta área que atua no Paraná: Lu [Rufalco], que nos últimos anos ajudou mais de 20 curtas, médias e vídeos serem viabilizados. Lu chegou a montar toda a pré-produção de "O Drama da Fazenda Fortaleza", que não conseguiu ser iniciado. O contrato, inclusive, foi assinado com a Embrafilme, como co-produtora, mas com a extinção desta estatal, Berenice - a exemplo de 50 outros cineastas - teve que adiar o projeto.
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Enquanto o panorama cinematográfico em Curitiba é de marasmo e indefinição, a Fucucu, através da Cinemateca, está sendo generosa com o cinema catarinense: foi uma das produtoras do curta-metragem "O Mal Selvagem", que o cineasta Mauro Faccione, engenheiro paranaense mas há anos radicado em Florianópolis, realizou neste ano.
Aliás, dinheiro não está faltando ao setor de cinema da Fucucu: prova disto é que criou um jornal tablóide, 4 páginas, bastante badalativo e auto-elogiativo das promoções (?) que são feitas nos cinemas do circuito oficial municipal. Em compensação, os cineastas curitibanos estão aguardando que seja cumprida uma promessa de seis meses passados, feita oficialmente em documento encaminhado ao vereador Mário Celso: a regulamentação do Fundo Municipal de Cinema, criado por lei e que nunca foi aplicado.
Se houvesse este fundo, por certo que muitas produções cinematográficas locais, na área do curta-metragem, poderiam ter acontecido.
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Dentro de algumas semanas, cineastas e videomakers, deverão formalizar ao prefeito Jaime Lerner sua preocupação pelo fato do Fundo Municipal de Cinema até hoje ser letra morta num decreto esquecido. Afinal, Jaime sempre gostou de ir ao cinema e conseguiu até que o Bradesco desse dez milhões de cruzados para que a Cinemateca ganhe uma nova (e sofisticada) sede. O que é muito bom, mas melhor seria dar condições a quem tem talento de realizar seus filmes - ou ao menos vídeos - que bem poderiam focar assuntos da cidade, tão carente em sua documentação e memória.
LEGENDA FOTO - Eduardo Paredes inicia em Florianópolis as filmagens de "Memórias do Desterro".
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