Bluebird chega ao Brasil
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 04 de março de 1990
O primeiro grande lançamento de jazz neste ano foi o pacote de oito álbuns da Bluebird, etiqueta ligada ao grupo RCA - no Brasil BMG/Ariola, que havia sido programado para dezembro, mas que, afinal, só saiu no final de janeiro. Apesar disto, quem já conhecia da edição americana esta preciosa coleção - como Zuza Homem de Mello - não teve dúvidas em incluí-la como das melhores do ano, especialmente o magnífico "And his Mother Called him Bill", o melhor de todos os discos do pacote - e um dos maiores momentos da carreira de Duke Ellington. Foi uma homenagem que fez ao seu pianista e arranjador Billy Strayhorn, com quem trabalhou por mais de 25 anos - e autor, inclusive, do prefixo de sua banda - "Take The A Train", que, erroneamente, muitos atribuem como de autoria do próprio Duke. Em 1967 numa homenagem ao amigo e colega recém falecido, Duke reuniu 12 de suas composições para um álbum absolutamente imperdível.
Mas este pacote traz outras preciosidades. Por exemplo, o cantor Joe Willians, que veio no último Free Jazz Festival, mas que não tinha nenhum álbum na praça, surge num de seus melhores momentos - "The Overwhelming Joe Willians", que soa "esmagador e irresistível" como registrou Carlos Callado.
Louis Armstrong tem reeditado em seus álbuns, já conhecidos em versão anterior, mas sempre atual: "What a Wonderful World". Dizzy Gillespie, último dos grandes band-leaders - e que em setembro volta ao Brasil, trazendo em sua orquestra o percussionista Airto Moreira - em "Dizziest" conduz algumas das raras experiências do bebop gravadas no período 46/49. Com uma constelação de boppers, Dizzy redefine clássicos do estilo como "Anthropology" e "Cop-Popp-A-Da" ou "Standards" como "You Go To My Head", "investindo ainda em sua requebrante fusão com os ritmos latinos, o afro cuban jazz, em faixas como "Cubana Me", "Cubana Bop" e "Manteca" - conforme a análise da "Folha de São Paulo" (29/12/89).
Três outros álbuns que oferecem o som harmonioso de grandes do jazz: "Major Glenn Miller & The Army Air Force Band", traz gravações entre 1943/44, quando a orquestra do autor de "Moonlight Serenade" estava engajada na USAF - trazendo músicas menos standartizadas. De uma fase mais recente (1963) temos o clarinetista Benny Goodman ("Togheter Again"), com um quarteto marcante - Lionel Hampton (vibrafone), Teddy Wilson (piano) e Gene Krupa (bateria), com faixas como "Somebody Loves Me" e "Who Cares" de Gershwin, "Say Is Isn't So" de Irving Berlim e até Ellington ("I Got It Band and That ain't Good"). De 1963, o encontro do sax alto Paul Desmond e o barítono Gerry Mulligan ("Two of a Mind"), com o jazz west coast - acompanhados por três baixistas e dois bateristas diferentes, numa atmosfera cool.
Finalmente, encerrando a série, temos "The Third World Revisited" do saxofonista argentino Gato Barbieri. Álbuns marcantes, merecedores de análises mais detalhadas, mas que aqui também ficam hoje registradas.
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