Jazz com amor através dos melhores talentos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de agosto de 1986
I Love Jazz. O título não poderia ser mais feliz. São nove esplêndidos álbuns que chegam ao Brasil por apenas Cz$ 55,00 cada - quando o importado custa hoje quase Cz$ 300,00. E nesta coleção, uma síntese do que há de melhor, com uma seleção primorosa das interpretações de nomes como Louis Armstrong, do recém falecido Benny Goodman, Thelonious Monk - de monstros sagrados como Sarah Vaughan ou do pouco divulgado entre nós - mas veteraníssimo e admirável - Cab Calloway.
Assim como faz há alguns anos na área do clássico, encomendando edições fechadas de compositores ou intérpretes considerados difíceis (o húngaro Giorgy Leggeti, a Sinfonia para os Swingle Singers do italiano Luciano Berio), Henrique Sverner, da cadeia Breno Rossi, se esntusiasmou quando Maurício Quadrio lhe falou de uma coleção chamada I Love Jazz.
De uma série de dez álbuns, nove foram para as lojas em julho último (apenas um, com a Kid Ory an his Creole Jazz Band, foi cancelado, devido a má qualidade da matriz), enriquecendo sobremaneira a discografia de jazz - e vendidos apenas nas lojas Breno Rossi (em Curitiba, no Shopping Mueller) antecipam outras excelentes promessas, como três álbuns duplos com a obra básica da cantora Bessie Smith (1894-1937) e três magníficos momentos da carreira de Miles Davis ("The Birth of The Cool", "Bitches Brew" e "At Fillmore East", nestes, aliás, com a participação de Airto Moreira), que deve coincidir com a excursão do grande pistonista, hoje 60 anos - completados no último dia 25 de maio - ao Brasil, em setembro - e já com data reservada no Teatro Guaíra.
Os Clássicos - Embora se trate de uma coleção original americana, o critério de seleção de "I Love Jazz", mostra o dedo de Maurício Quadrio, sem dúvida o recordman a quem devemos, nestes últimos 20 anos, o aparecimento no Brasil do que tem havido de melhor em jazz (e clássicos, também). Assim, I Love Jazz, independente de apreciações maiores, é perfeito em sua escolha e mesmo que os colecionadores mais antigos possam alegar que há muitas faixas já conhecidas de outras gravações, o fato é que a seleção foi primorosa. E para os que se iniciam agora no jazz, é simplesmente indispensável.
Louis Armstrong (1900-1971), nome-mito ganha, naturalmente, um elepê com standards indispensáveis, contagiantes de "Mack The Knife", (o tema de "Ópera dos Três Vinténs", Brecht/Weill), "Ain't Misbehavin", "All Of Of Me", "Indiana", em gravações feitas entre 1955/56, quando Satchmo estava no auge de sua carreira.
Benny Goodman, falecido aos 77 anos, no dia 13 de junho último, em Nova Iorque, tem nesta coleção um de seus mais significativos álbuns - "I Got Rhythm", com registros feitos entre 1938/58 e cobrindo os grandes momentos da obra de George Gershwin (1898-1937), por si só já fazendo deste um clássico (e não é sem razão que como nos informa o atencioso Júlio, gerente da Breno Rossi em Curitiba, este tem sido o disco mais procurado da coleção). Outro monstro sagrado do jazz, Duke Ellington (1899-1979), cujo álbum teria mesmo que abrir com o prefixo que ele imortalizou ("Take the "A" Train", Billy Strayhorn), com uma gravação de 1956. Na seqüência, temos o clássico "Caravan", mas desta vez numa gravação de 1937 com o histórico trombone de válvulas de Juan Tizol fazendo o solo (um som que desapareceu, pois ninguém jamais conseguiu tocar com a mesma sensibilidade). Só isto já justifica o elepê, que tem no mínimo seis outras obras-primas.
Thelonious Monk (1920-1982), pianista e compositor da maior importância mas de escassa discografia no Brasil, pode ser apreciado em registros feitos entre 1963/68, incluindo ao lado de clássicos como "Blue Monk","Ruby My Dear" e "Round Midnigth", também outros temas fascinantes, com diferentes músicos a acompanhá-lo.
Dos jazzistas vivos, temos uma dupla dose de Dave Brubeck, 66 anos - completados no último dia 12 de junho, que com seu histórico quarteto de 1957 (Norman Bates, baixo; Joe Morello, bateria e Paul Desmond 1924-1977, no sax-alto), apresenta uma curiosa seleção jazzística de temas de filmes de Walt Disney ("Dave Digs Disney"), como "Alice no País das Maravilhas", "Branca de Neve e os Sete Anões" e "Pinocchio". Também com o quarteto - mas Gene Wrigth na bateria - e num registro feito em Nova Iorque, em 14/2/1960, Dave Brubeck volta na metade de outro elepê, interpretando 4 dos mais belos temas de "West Side Story" (Sondheim/Bernstein): "Maria", "I Fell Pretty", "Somewhere" e "Tonight". No outro lado deste disco, uma performance jazzística de André Previn, hoje regente de sinfônica na Califórnia, mas em abril de 1964, liderando um quarteto (com Herb Ellis, guitarra; Red Mitchel no baixo e Frank Capp, bateria) registrando cinco dos melhores momentos de "My Fair Lady" (Lerner/Loewe).
Nome histórico da música nova-iorquina nos anos 30 e cuja excursão ao Brasil - incluindo Curitiba - foi anunciada há fois anos (mas, infelizmente, não se realizou), Cab Cabell Calloway (Rochester, N. Y., 24/12/1927) tornou-se agora conhecido do público brasileiro ao aparecer em seqüências memoráveis de "Cotton Club". Assim, a inclusão de um álbum de Cab (até então, inédito fonograficamente entre nós) permite ouvir alguns dos temas do filme de Coppola, como "Minnie The Moocher".
Mas Calloway é um extraordinário show-man e, dependendo da aceitação deste "Jumpin Jive" é de se esperar que outras de suas gravações cheguem ao Brasil.
Com Sarah Vaughan (Newark, New Jersey, 27/3/1924), talvez a cantora de jazz com maior número de discos editados no Brasil (mas menos do que ainda o desejável) em "Summertime" podem ser apreciados registros feitos entre 1949/53, quando ela, com pouco mais de 20 anos, estava no auge de sua forma vocal. Em todo o primeiro lado a orquestra de Jimmy Jones, que a acompanha, tem como destaque, o trumpete de Miles Davis (Logo depois, o trumpetista se destacaria como o mais revolucionário músico do jazz moderno).
Um único europeu presente nesta coleção: o belga Toots (Jean) Thielemans (Bruxelas, 29/4/1922), guitarrista, harmônica e compositor, insuperável e especialmente com sua harmônica de boca e que comparece com registros feitos entre 1945/55 - que vão de "Sophisticated Lady" e "Stars Feel On Alabama", sempre com a mesma dose de inventividade - e participações de músicos extraordinários.
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