Teclados renovadores de Lyle Mays e Ahmad
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de agosto de 1986
Paralelamente ao melhor jazz tradicional, com nomes consagrados, há também momentos renovadores da música instrumental, com gente na faixa dos 30 anos fazendo propostas fascinantes. Um exemplo é Lyle Mays (Wisconsin, 27/11/53), conhecido até agora como tecladista do conjunto de Pat Matheny, mas que mostra amplas condições para fazer seus vôos solos. Após ter dividido com o guitarrista Matheny a belíssima trilha do filme "A Traição do Gavião" (editada no Brasil, no ano passado, pela EMI-Odeon), Lyle fez seu lp solo (com a participação de músicos contemporâneos - a maioria dos quais já tem como ele se apresentado em clubes e concertos - como o baixista Marc Johnson (que fez parte do último grupo de Bill Evans e o acompanhou, inclusive, em Curitiba).
O percussinista e vocalista brasileiro Naná Vasconcelos, por 3 anos integrante do Pat Mattheny Group, dá um ritmo intenso a este disco de idéias renovadoras, nos quais se destacam o saxofonista Billy Drews, guitarrista Bill Friesell e baterista Alex Acuna.
Formado Basicamente por um repertório desenvolvido (e testado) em concertos (como o que fez em Montreal, julho/84), o álbum mescla as sonoridades dos diversos teclados utilizados por Mays - fundindo o jazz com outras linguagens, inclusive a "folk" escocesa e as escalas japonesas. Um dos momentos mais bonitos está na longa e profunda "Alaskan Suite", em três movimentos - suficiente para fazer deste um álbum marcante.
Outro tecladista magnífico, que pode ser ouvido em trabalho up to date é Ahmad Jamal (Pittsburgh, 2/7/1930), que após seu apaixonante "Digital Works", álbum duplo lançado há poucos meses (e com boa resposta de público), em "Rossiter Road" (WEA) faz um trabalho imperdível, tanto a nível de performance quanto em termos composicionais, já que sete de suas faixas são de sua autoria. Como, lucidamente, bom amigo Alex Gladstone ("Isto é", 13/8/86) acentuou, nas interpretações de Jamal sente-se cada vez mais diluídas as influências hoje distantes de Eroll Garner e Art Tatum, cedendo lugar à economia de notas típicas de um Count Basie. Como diz Alex, "permeia todo o disco a preeminência do ritmo graças a presença do baterista Herlin Riley Riley e do percussionista Manola Bradena, competentemente auxiliados pelo baixo elétrico de James Cammacko".
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