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Aramis

A big band de Lionel e os grandes da "Blue Note"

No boom jazzístico que se assiste no Brasil, com o crescimento de uma platéia interessada, espera-se que após a recente excursão de Dizzy Gillespie, os empresários animem-se e tragam outro dos grandes nomes do jazz tradicional: o vibrafonista, baterista, pianista e regente Lionel Hampton, 73 anos. Histórico nome do melhor jazz, este americano do Kentucky que participou da época gloriosa do Cotton Club e, em 1930, tinha com "Memories of You" seu primeiro sucesso, continua em perfeita forma, como mostra "Sentimental Journey" (Atlantic/WEA), registrado em Nova Iorque, há pouco mais de um ano (entre os dias 13 e 14 de março de 1985, no Beethoven Studio). Sem abandonar o velho vibrafone mas também sabendo usar a tecnologia do sintetizador, Lionel lidera um grupo de músicos jovens - incluindo cinco saxofonistas, quatro pistonistas e quatro trombonistas - que trazem aquele estilo da época das big bands, que ele tão bem vivenciou. Mas a maior revelação é a esplêndida vocalista Sylvia Bennett, uma bela loira, que mostra toda sua categoria em faixas como "Undecided", "Lullabye Of Birdland" e "The Lady Is A Tramp", três dos mais belos momentos deste disco maravilhoso - seguramente entre os 10 melhores lançamentos jazzísticos do ano. Outro álbum precioso é o histórico "Charlie Parker At Storvylle" (Manhattan/Odeon), com registros feitos por Charlie Parker (1920-1955), em 22/9/1953, através da rádio WHDH, em Boston, com acompanhamento de Herb Pomeroy (pistão), Charles Thompson (piano), Jimmy Wood (baixo) e Kenny Clarke (bateria). Um repertório em que alterna temas próprios - como "Cool Blues", a clássicos de Gillespie ("Groovin High") ou Rodgers Hart ("Dancing On The Ceiling"). No mesmo álbum, com um grupo diferente - Red Garland no piano, Bernie Griggs no Baixo e Roy Haynes na bateria, registrado também em Boston, mas seis meses antes, Parker inclui o mais clássico dos temas, "Ornightology". Num lançamento feito aos poucos - primeiro dois volumes, agora o terceiro e quarto - a Odeon está trazendo a histórica jamsession organizada pela Blue Note, no Town Hall, em 22 de fevereiro de 1985, quando se homenageou a Alfred Lion, fundador da Blue Note, em 1939 - selo que há 47 anos identifica o que de mais importante tem se produzido em jazz. Assim, nestes quatro álbuns - indispensáveis a todo estudioso - desfilam os nomes mais importantes tanto do jazz contemporâneo como do tradicional. Ao mesmo tempo que se anima, felizmente, a trazer os lançamentos jazzísticos da Manhattan, agora, da Blue Note, a Odeon também edita um precioso álbum das irmãs Kátia e Marielle Labeque, que tanto pode entusiasmar aos cultores da música erudita quanto os que apreciam jazz. Interpretando a primeira versão mundial de "Um Americano em Paris" de Gershwin, para piano e a "fantasia" sobre "Porgy And Bess, do australiano Percy Aldridge Grainger (1882-1961). São duas peças preciosas, mostrando a dimensão que a obra de Gershwin alcança apenas na versão instrumental - enquanto que Grainger, em sua "fantasia" sobre "Porgy and Bess" levou ao extremo sua admiração pelo grande compositor americano. São duas gravações em primeira audição mundial, lançadas no Brasil pela Odeon - que simultaneamente está lançando outro precioso álbum das irmãs Labeque, apenas com música clássica: de um lado, as "Reminiscências de Dom Juan"; de outro, "Dois Episódios de Fausto de Lenau" ambas composições de Franz Liszt.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
17/08/1986

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