Blue Note, um clube de jazz
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 10 de julho de 1987
A idéia é antiga: reunir os aficionados de jazz num clube que possa possibilitar um intercâmbio de informações, a promoção de eventos (cursos, mesas redondas, etc.) relacionadas a esta música tão fascinante e, naturalmente, estimular os instrumentistas locais que se preocupam em desenvolver um trabalho de maior fôlego.
Tentativas já aconteceram: há 20 anos, depois da primeira (e até hoje única) Jam Session que organizamos no Santa Mônica Clube de Campo, no acolhedor "1810" , de saudosa memória, na Rua Marechal Deodoro - uiscaria de Ediluz Iliponti, houve reuniões musicais de um Clube do Jazz & Bossa, criado nos moldes daquele que Jorge Guinle e Ricardo Cravo Albim movimentavam no Bottle's, no Beco das Garrafas, Rio de Janeiro.
A experiência durou pouco. Uma década e meia depois, os irmãos Sérgio e Carlos Alberto Mercer, o primeiro então na presidência da Fundação Cultural, tentaram mobilizar um clube que, infelizmente, não passou de algumas reuniões no asfixiante Teatro Universitário e de um belo cartaz criado por Mirandinha. José Domingos Raffaelli, crítico de jazz do "Jornal do Brasil", chegou a vir a Curitiba para falar sobre jazz, mas o grupo de desfez.
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Agora, surge uma nova tentativa: um apaixonado por jazz, o empresário Eduardo Guy de Manoel, 48 anos, presidente da Sigma/Dataserv, organizou o "Blue Note Jazz Club", que na tarde de sábado teve uma segunda reunião informal, em ambiente descontraído e de bons fluidos sonoros, no Old Friend's (Rua Saldanha Marinho, 688), cujo proprietário, Toninho (Antônio Carlos de Freitas, paulista de Eldorado, 38 anos, desde 1960 em Curitiba), sempre primou a sua casa pela excelente qualidade musical - embora apenas gravada.
Desta vez, o Jazz Club tem chances de dar certo. De princípio, Guy de Manoel é um empresário organizado e muito bem relacionado, que há cinco meses já vem bancando a sobrevivência profissional do Sigma Jazz's Group, formado por cinco dos melhores músicos da cidade - Boldrine (baixo), Scarante (guitarra), Maurici (bateria), Fernando Montanari (teclados) e Michele (pistão). Já com várias apresentações públicas, evoluindo musicalmente e crescendo agora para um sexteto - com a aproximação do ótimo Helinho Brandão (saxofone), o conjunto musical é o núcleo para atrair outros bons instrumentistas, em "canjas" que devem acontecer nas jam-sessions [jazz-sessions], programadas inicialmente para dois sábados por mês, entre 16/19 horas, no Old Friend's.
No sábado, um público interessado - entre os quais jazzófilos conhecidos, como o professor Newton Freire Maia, ali estiveram, aplaudindo o grupo e trocando idéias com Guy de Manoel a respeito do Blue Note, que a exemplo do seu congênere francês, deverá marcar uma época de informação jazzística.
No documento "uma proposta inicial", Guy de Manoel antecipa os estatutos e finalidades do clube. Explicando que inspirado nas duas mais famosas casas de jazz do mundo - o Blue Note, de Nova Iorque e de Paris, "vamos buscar os bons fluídos para criar um ambiente jazzístico, permanente, em Curitiba".
- "A idéia é reunir um grupo fixo de associados, com estatutos de um clube cultural, sem fins lucrativos, destinado a promover eventos ligados ao jazz: jam sessions, palestras, troca de discos, literatura, incentivo a músicos locais para apresentações aqui e fora, bem como a vinda de jazzistas conceituados, do Brasil e do Exterior.
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Com sua visão empresarial, Guy de Manoel propõe duas categorias de associados, capazes de viabilizarem, economicamente, o clube.
Pessoas físicas, através de contribuição individual e, especialmente, as pessoas jurídicas, buscando empresas com dirigentes sensíveis a música, capazes de se beneficiarem da Lei Sarney. Uma das idéias é buscar especialmente os hotéis de categoria "que, ao se associarem ao clube, poderão proporcionar a seus hóspedes, de passagem por Curitiba, uma opção original de lazer".
Há alguns triunfos para viabilizar a idéia. Até agosto, a própria Sigma/Dataserv se dispõe a financiar o Sigma Jazz Group. Dentro de 60 dias, deverá haver os primeiros resultados concretos em termos de associados. Guy de Manoel se preocupa com a eliminação de Curitiba no roteiro de grandes nomes do jazz que vêm ao Brasil e se apresentam além do eixo Rio-São Paulo, também em Belo Horizonte, Salvador e Porto Alegre. Há também promoções que podem ser feitas através de contatos pessoais, como revela Guy.
- "Por exemplo, o jazzófilo Máximo Pinheiro Lima é contraparente de Gerry Mulligam. E o saxofonista só não veio à Curitiba, quando de sua passagem pelo Rio, porque não encontrou passagem aérea.
Aberto a sugestões e propostas (seu telefone é 223.9292), Eduardo Guy de Manoel quer um clube abrangente e democrático, mas "reunindo pessoas que realmente se interessam por jazz". Sinceramente, vai avisando:
- "Nossa proposta deve ser bem clara, para não trazer associados atraídos apenas pela novidade, e que passada a euforia, possam fazer antipropaganda".
Outro aviso: roqueiros eletrificados fiquem à distância. O Blue Note Jazz Club nasce para quem gosta de música. E não para quem deseja ficar surdo com o mais supérfulo som pop de consumo descartável. Estes, que fiquem nos estádios e garagens da vida.
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