O ratinho de Steven é a única estréia da semana
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 10 de julho de 1987
Uma semana com apenas uma estréia, e muitas reprises e continuações. A única estréia é um filme de Steven Spielberg. É o seu primeiro desenho animado, longa-metragem e realizado com amplos recursos - portanto, com uma tecnologia avançadíssima em relação ao pioneiro "Branca de Neve e os Sete Anões" - que, em comemoração aos 50 anos - voltou às telas (Lido II, sessões da tarde).
"Fievel, Um Conto Americano" (An American Tail), que estreou nos Estados Unidos em 18 de outubro do ano passado, tem como personagem principal um ratinho - diferente, entretanto, da linha Mickey Mouse. Na verdade, é a história de uma família de ratos russos que em 1885, perseguida pelos cossacos felinos decide se mudar para os Estados Unidos, onde não existem gatos.
Assim, Spielberg, como produtor, procurou contar uma espécie de fábula - só que desta vez utilizando o desenho animado, ele que foi o grande responsável pelo resgate do cinema para as novas platéias. A direção de "An American Tail" é de Don Bluth, com roteiro de David Kirschner, Judy Freudberg e Tony Geiss. No Condor.
AS VERDADES E MENTIRAS DE WELLES - Durante dois anos, entre 1973/75, Orson Welles (1915/1985) trabalhou num projeto extremamente pessoal: "F... For Fake". Discutindo o que é verdade, o que é mentira, reconstituindo algumas das mais famosas vigarices do mundo (inclusive o escândalo da autobiografia forjada de Howard Hughes) e dos golpes no mercado de artes plásticas, o diretor de "Cidadão Kane" construiu um filme genial, que há uma décadas resiste a revisões.
Praticamente após este "Verdades e Mentiras", Welles nada mais conseguiu concluir, embora tenha se lançado em vários projetos.
"Verdades e Mentiras" tem a marca de Welles em seu roteiro, sua montagem, a narrativa elétrica - enfim, um misto de ficção e fantasia, realizado sobretudo com ironia e sátira, como só o grande mestre sabia realizar. Em reprise no Groff, a partir de hoje, é o melhor programa da semana.
CINEMA NACIONAL - Embora o público continue achando que o "cinema nacional é sinônimo de pornografia e que os filmes brasileiros são monótonos" - conforme revela uma pesquisa elaborada pela Razões & Motivos / Agência Lage Stabel / BBDO, para a Embrafilmes [Embrafilme] (encomendada pelo competente ex-presidente Carlos Augusto Calil), o bravo Francisco Alves dos Santos continua a abrir espaços para os filmes nacionais nas salas da Fundação. Aliás, fazendo o que deve mesmo ser feito, já que sendo salas oficiais - que concorrem inclusive com a iniciativa privada - tem a obrigação de abrigar os filmes que são recusados nos circuitos comerciais - ou então mal programados.
Após reprisar "Sonho Sem Fim" de Lauro Escorel, o lírico filme sobre os verdes anos do cineasta gaúcho Eduardo Abelim, o Luz exibe agora um dos melhores filmes brasileiros dos últimos anos - "A Hora da Estrela", de Suzana Amaral, inspirado no romance de Clarice Lispector. Marcélia Cartaxo, a atriz-revelação, foi premiada em Berlim, em 1986, por sua atuação. Este ano, Ana Beatriz, intérprete-título de "Vera", de Sérgio Toledo (que continua em exibição no Ritz, 5 sessões), repetiu o feito de Marcélia: recebeu também o prêmio de melhor atriz no Festival de Berlim.
A renda de "Os Trapalhões no Auto da Compadecida", que Roberto Farias realizou a partir da peça de Ariano Suassuna, melhorou, garantindo a sua permanência por mais uma semana, nas sessões da tarde no São João - e em 5 sessões no Lido I. No São João, às 20 e 22 horas, volta "Sexo Frágil", de Jessel Buss, recusado no último Festival de Gramado, mas que estreou nacionalmente, no mês passado, com ótimo marketing. Parece pornô, mas não chega a tanto: é uma comediota com Edson Celulari [Celullari], Maitê Proença, Monique Evans e Oswaldo Loureiro.
Na próxima quinta-feira, 16, possivelmente estreará no Lido II um filme nacional ansiosamente aguardado: "Urubus & Papagaios", de José Joffily Filho, de um romance do escritor gaúcho Josué Guimarães.
OUTRAS OPÇÕES - "O Nome da Rosa", de Jean Jacques Annaud, competente transposição à tela do best-seller de Umberto Eco, continua com público crescente no Itália. No Palace Itália, o terror é garantido por "A Hora do Pesadelo 2" (A Nightmare of Elm Street, Part II Freddy's Revenge), de Jack Sholder.
Para quem gosta de comédias meio pastelão, duas opções: a quarta parte de "Loucademia de Polícia", agora dirigida por Jim Drake, no Astor, e "De Volta às Aulas", com Rodney Dangerfield (desconhecido no Brasil, famoso nos EUA), no Plaza.
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