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Aramis

Um público nacional para novos filmes brasileiros

A inédita experiência de fazer com que os longa-metragens de um festival sejam vistos, simultaneamente, em nove cidades, traz um aspecto novo a Gramado, que pela 17ª vez realiza o evento de maior repercussão no cinema brasileiro. Quarta-feira, no Rio de Janeiro, o secretário de turismo de Gramado, Esdras Rubin, ao lado do diretor de comercialização da empresa, Ney Sroulevich, explicou a imprensa os detalhes desta operação maciça para motivar o público em torno de nosso cinema. Justamente pela crise em que se encontra a indústria cinematográfica - nos últimos dois anos, não chegaram sequer a 30 os longa-metragens iniciados ou concluídos (quando, até 1986, mantinha-se uma média de cem filmes por ano), a experiência que se faz agora é fundamental. Afinal, da produção inédita - entre filmes só agora concluídos (muitos, porém, foram iniciados a três ou quatro anos, mas tiveram inúmeras dificuldades de produção), a comissão selecionadora dos filmes que disputam os Kikitos escolheu os seis longas que julgou mais representativos. Justamente estes filmes, que vão de obras com raízes em obras literárias (por exemplo, duas adaptações de textos de Fernando Sabino: "O Grande Mentecapto" e "A Faca de Dois Gumes") a obras de estreantes (Maria Letícia, diretora de "1º de Abril, Brasil", baseado na peça "Vejo um Vulto na Janela, me Acudam que Sou Donzela" de Leilah Assumpção), um pacote significativo. xxx A idéia de nacionalizar o Festival, estendendo a nove capitais a exibição simultânea dos longas em competição, partiu dos próprios gerentes regionais da Embrafilme, reunidos no Rio de Janeiro há dois meses. Isto porque, inúmeros filmes premiados nas edições anteriores de Gramado permaneceram por anos inéditos em muitas cidades, devido a problemas de distribuição. Homem prático, a cuja competência e prestígio internacional hoje o FestRio é uma realidade, Ney Sroulevich, há 120 dias na direção comercial da nossa estatal de cinema, sentiu que estava na hora de aproveitar toda a divulgação nacional que o Festival terá. Afinal, na velocidade da informação, o público já não aceita esperar meses (ou anos, como em alguns casos), por filmes sobre os quais leu nos jornais. A produção americana, ao menos das grandes produtoras, tem chegado quase que simultaneamente ao Brasil: "Indiana Jones e a Última Cruzada", de Steven Spielberg, estreou há um mês em mais de 2 mil cinemas nos Estados Unidos e já no próximo dia 15 tem seu lançamento nacional (Curitiba, Cine Condor). "Kuarup", de Ruy Guerra, recebido com pedradas pela crítica, foi lançado no eixo Rio-São Paulo antes mesmo de concorrer em Cannes e o público está interessado em assistir a transposição a tela que Ruy Guerra fez do romance de Antônio Callado (em exibição no Astor, desde ontem). Assim, a escolha de um cinema em cada uma das nove principais capitais brasileiras (Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza, Belo Horizonte, Recife, Florianópolis, Curitiba, Salvador e Belém) para apresentação dos filmes que estarão a partir de domingo, disputando a premiação de Gramado, foi uma boa inovação mercadológica. - "Considerando-se o mínimo de 200 espectadores por sessão e multiplicando-se os números teremos um total aproximado de 50 mil espectadores que, na próxima semana, assistirão a mais recente safra do cinema nacional. Um público interessado que discutirá os filmes, confrontará suas opiniões com o que a crítica vai escrever e, diretamente, estará ajudando a promover o nosso cinema" - explica Esdras Rubin, que com a sua experiência de quem já organizou cinco festivais - e de cuja realização nunca se afastou totalmente - aceitou a idéia. A Embrafilme escolheu cinemas de capacidade média (em Curitiba, o Lido II, 330 lugares) para esta experiência, sendo que não há nenhum compromisso da exibição regular dos filmes agora concorrentes na sua comercialização posterior. Trata-se apenas de uma primeira amostragem, "uma espécie de aperitivo para que o público possa, simultaneamente ao que acontecer em Gramado, ter também a chance de ver os filmes em competição", acrescenta Ney. xxx O primeiro filme a ser exibido - domingo em Gramado, segunda-feira (12) já nacionalmente, será "Jardim de Alah", de David Neves, cuja temática focaliza moradores do Jardim de Alah, bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro e que fecha assim a sua trilogia sobre a vida carioca, iniciada com "Muito Prazer" e que prosseguiu com "Fulaninha", que teve algumas premiações em Gramado, há três anos. No elenco de "Jardim de Alah" estão Raul Cortez, Isabela Garcia, Joel Barcelos, Imara Reis e Grande Otelo. Depois serão exibidos "1º de Abril, Brasil", de Maria Letícia; "Festa", de Ugo Giorgetti; "O Grande Mentecapto", de Oswaldo Caldeira; "Doida Demais", de Sérgio Rezende e "A Faca de Dois Gumes", de Murilo Sales. "Lili, a Estrela do Crime", de Lui Faria, programado para a noite de encerramento (17) em Gramado, já tem também previsto lançamento nacional (em Curitiba, Cine Condor). Só "Que Bom te Ver Viva", documentário ficção com Irene Ravache, abordando a repressão e tortura dos anos 60/70 a partir de depoimentos de ex-prisioneiras políticas, vai demorar para chegar as telas. A primeira cópia ficou pronta há poucos dias e terá uma única exibição, hors concours, na sexta-feira, 16, em Gramado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
10/06/1989

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