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Aramis

Curtição dos filmes "B" ganhou o festival de cinema de Gramado

Entre os jovens ("Feliz Ano Velho" e "Dedé Mamata") ou a homenagem (pessoal) a uma mulher ("Eternamente Pagu"), acabou dando a curtição cinematográfica: exatamente às 23h50 de sábado, quando do Cinema de Gramado, anunciou "A Dama do Cine Shangai" como o melhor filme, não deixou de haver uma surpresa entre grande parte das mais de 1.200 pessoas que lotavam o ampliado Cine Embaixador. Houve aplausos, ninguém nega os méritos deste terceiro longa-metragem do paulista Guilherme de Almeida Prado e, especialmente, a cuidadosíssima produção - créditos que devem ser sintetizados à competente Assunção Hernandez, da Raiz Filmes. Mas é que exibido somente na sexta-feira - e assim aguardado com expectativa maior, no tenso clima que caracteriza os dois últimos dias do Festival não deixou de ser uma surpresa. Há 4 anos, Guilherme, filho de uma rica e tradicional família paulista, havia concorrido em Gramado com uma comédia na linha pornochic, rodada em Santos e baseada no conto "Sabina de Trotoar e Tacape", do escritor catarinense (radicado em Curitiba) Roberto Gomes, que adaptou sem autorização - o que lhe custou um processo que após 3 anos garantiu a Fomes uma indenização de 513 OTNs (mais de CZ$ 300 mil em janeiro/87) (este filme nunca chegou a ter lançamento comercial em Curitiba, mas existe a disposição em vídeo). "A Flor do Desejo" concorreu (e não recebeu nenhum prêmio) no mesmo ano em que o júri surpreendeu (e irritou mesmo a muitos) com a concessão dos principais prêmios a "O Baiano Fantasma", de Denoy de Oliveira (paranaense radicado em São Paulo), que apesar da consagração dos críticos teve que amargar quatro anos para ver o seu filme - de profunda crítica social - lançado no Rio de Janeiro (e perdendo, com isto, a chance de aproveitar a promoção dada pelas premiações do festival). Embora não admitida oficialmente, a rivalidade entre os cineastas cariocas e paulistas acentua-se a cada ano, mesmo quando - como na semana passada, o clima foi de (aparente) entendimento e harmonia. O favoritismo inicial entre "Feliz Ano Velho", do paulista Roberto Gervitz, e "Dedé Mamata", do carioca Rodolfo Brandão - com o polêmico "Eternamente Pagu", de Norma Bengell, correndo por fora - foi balançado após a exibição de "A Dama do Cine Shangai", que Almeida Prado, 36 anos, que trocou uma carreira de engenheiro civil pelo cinema há 9 anos e começou fazendo cinema com Ody Fraga (famoso realizador de pornoproduções da Boca do Lixo, já falecido) e que, em 1971 dirigiu seu primeiro longa, "As Taras de Todos Nós". Apaixonado cinéfilo - especialmente pelo cinema americano dos anos 40 - Almeida Prado fez "A Dama do Cine Shangai" dentro da estrutura daquela fase do cinema americano, com citações e homenagens deliberadas, inclusive uma seqüência (na televisão) de "A Dama de Shangai" (1945, de Orson Wells, com Rita Hayworth) e recriado no personagem Lucas (Antônio Fagundes), um corretor de imóveis que se envolve numa trama complicadíssima (o que, para muitos, tornará difícil o entendimento do filme) que até na voz sussurrada, procurou recriar o sound que caracterizava Humphrey Bogart (1899-1957), como os detetives Sam Spide e Phil Marlowe, dos romaneces de Dashiell Hammet e Raymond Chandler imortalizados na tela em clássicos noir. Justamente por ser um filme para cinéfilos, repletos de elementos para longas digressões a quem se interessa pelas produções "b" dos anos 40, "A Dama do Cine Shangai" encontrou defensores no júri oficial, entusiasmou 15 dos 25 críticos que lhe deram também a premiação da imprensa e, entre o público, também foi bem recebido. Mas o júri popular consagrou "Feliz Ano Velho", de Gervitz - que levou também com mais três kikitos (som, figurinos, fotografia - dividido com "A Dama..."), prêmio especial do júri e uma menção para sua belíssima trilha sonora (Henrique Xavier). Só que "A Dama" ficou com seis premiações: os kikitos de filme, direção, montagem, trilha sonora, fotografia e o da crítica. Portanto, não foi sem razão que ao subir ao palco, o diretor Rodolfo Brandão não escondia um ar de frustração: embora "Dedé Mamata" tenha obtido os kikitos de coadjuvantes - para os praticamente estreantes -Iara Jamba e Marcos Palmeira, mais uma menção especial pelo argumento de Vinícius Vianna, a empatia com que foi recebido fazia crer que teria premiações mais importantes. "A Menina do Lado", de Alberto Salvá, saiu com um kikito - melhor ator para Reginaldo Farias (quando muitos preferiam Antonio Fagundes, que apesar de intérprete também de "Pagu", do média "PWS" e do curta "Barbosa", acabou não indo a Gramado). A ninfeta Flávia Monteiro ("A Menina do Lado") ganhou uma menção especial e o prêmio de melhor atriz foi para Carla Camurati, por "Eternamente Pagu" - no páreo mais delicado, já que desfilando suas elegâncias e belezas, outras atrizes sonhavam com o prêmio: Cláudia Ohana ("Luzia Homem"), Malu Mader ("Dedé Mamata", "Feliz Ano Velho"), Maitê Proença ("A Dama do Cine Shangai") e, muito especialmente, Tonia Carrero, cuja premiação seria uma espécie de homenagem pelo fato de ser gaúcha e nos últimos anos ter sido sempre uma diva (muito elegante, entre as poucas convidadas que fazem questão de levar quatro malas de trajes diferentes). Mas, infelizmente, o filme por ela estrelado - "Sonhos de Menina Moça", de Teresa Trautman - foi o mais fraco do festival, e assim como "Luzia Homem", de Fábio Barreto, ficou sem nenhuma premiação. Nem sequer uma menção de consolo! LEGENDA FOTO: Guilherme de Almeida Prado nas filmagens de "A Dama do Cine Shangai".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
28/06/1988

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