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"Dedé Mamata": finalmente um filme sem Embrafilme

Gramado - Mesmo antes da exibição no Festival de Gramado as comparações entre "Feliz ano velho" e "Dedé Mamata" já eram inevitáveis: A atriz Malu Mader presente nos dois filmes como namorada dos personagens centrais - Mário (Marcos Breda) em "Feliz ano velho" - André/Dedé (Guilherme Fontes) em "Dedé Mamata", longa de estréia de Rodolfo Brandão, 28 anos, filho do falecido jornalista Darwin Brandão e que, no ano passado, saiu da 15a. Edição do Festival de Gramado com três Kikitos, com seu primeiro curta. "Garganta": diretor, roteiro e atriz (Andréa Bandrão), num filme-denúncia sobre a exploração de uma cantora, viciada, num estúdio de gravação (curta, infelizmente, ainda inédito na maioria do país). Como Gervitz, Rodolfo (chamado pelos amigos de "Dodô") Brandão chega à direção com uma experiência em vários setores e tendo trabalhado em filmes importantes como "Inocência", "Quilombo", "Cinema falado", e "Um trem para as estrelas", neste assistente de Cacá Diegues, que ao lado da esposa, Renata Almeida Magalhães, é o produtor executivo do filme baseado no romance (também de estréia) de Vinicius Viana (primeira edição da Anima Editora, agosto/1985, 233 páginas, agora sendo relançado pela Record). Neto do dramaturgo e ator Oduvaldo Viana (1892-1972) e filho de Vianinha (1936-1974), Vinicius, aos 25 anos, estreou como um romance vigoroso, sobre as aventuras e desventuras de quatro jovens da geração dos anos 70: Andre Dedé, um jovem que vive com o avô doente (Paulo Porto) que requer constantemente seus cuidados: Lena (Malu Mader), a vizinha por quem se apaixona, Alpino (Marcos Palmeira), o malandro que inicia Dedé nos mistérios da vida e nos do tóxico, e Ritinha (Iara Jamal), com quem Dedé tem um relacionamento mais completo. No elenco de suporte, participações especiais de Natalia Thimberg, Luis Fernando Guimarães, Geraldo Del Rey, e Paulo Betti. Filme perfil - Na entrevista coletiva, Malu Mader começou justificando que apesar de muito próximos em suas temáticas "Feliz ano velho" e "Dedé Mamata" têm desenvolvimentos próprios. Mas admitiu que em ambos há o mesmo perfil: jovens em busca de caminhos e opções, numa linguagem contemporânea - e em obras realizadas por equipes também na faixa dos 20/30 anos. Ronaldo Brandão, é claro e específico: "Dedé Mamata" fala da busca dos valores da geração que viveu a adolescência nos anos 70. Só que vai mais além - o que deverá inflamar os debates da tarde de hoje, no Centro de Convenções Serrano: apesar de parecer, o filme, não é autobiográfico - embora haja a identificação de realizadores (autor, diretor, intérpretes e mesmo muitos técnicos) terem vivido uma mesma época, mas sem dogmas políticos. O filme se dispõe a quebrar dois tabus barra pesada: a crítica à esquerda e as drogas. Não há um maniqueísmo no livro de Vinícius e isto o filme procura manter". Independente - Com um orçamento de US$ 1 milhão, "Feliz ano velho" teve apenas 20% de participação da Embrafilme, "Dedé Mamata" é um dos primeiros filmes nacionais realizados integralmente com recursos obtidos junto à iniciativa privada através da Lei Sarney. Paulo Cesar Ferreira, que já viabilizara economicamente "Batalha dos Guararapes" (1976) e a finalização de "Chico Rei", há dois anos, conseguiu administrar recursos de 31 empresas de capital privado (inclusive a Sul-América e Coca-Cola) para, em quotas de Cz$ 600 mil cada, dar condições a que, em menos de 10 meses, o filme fosse realizado. O roteiro, desenvolvido em colaboração com Antonio Calmon, mostra o despertar para a vida adulta de um neto de comunistas e filho de um militante desaparecido (outro ponto de coincidência com "Feliz ano velho") para uma vida com garotas, drogas e de conflitos internos. Geraldo Del Rey, que foi astro nos tempos do cinema novo, mas anda desaparecido, tem rápida aparição como Lamarca. Marcos Palmeira (filho do cineasta Zelito Viana), já tendo aparecido em alguns filmes ("Cor do seu destino", "Um trem para as estrelas" e ainda em produção "Amor vagabundo", de Hugo Carvana) compõe um personagem importante, o Alpino. Flávio São Tiago, ator que há 2 anos chegou a morar algum tempo em Curitiba, como professor do curso de teatro do Guaíra (do qual se afastou irritado e decepcionado), está tanto em "Feliz ano velho" (como Salvador, um paraplégico otimista) como em "Dedé Mamata", no papel de um repressivo delegado da Dops. A trilha sonora é de Caetano Veloso, sendo lançada já pela Sigla/Som Livre. E a exibição do filme em bom circuito está assegurada, pois a Uip - United Internacional Pictures (que em Curitiba possui os cines Lido/Condor) associou-se à produção. LEGENDA FOTO: Guilherme Fontes e Malu Mader numa cena de "Dedé Mamata".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
24/06/1988

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