A melhor fase de Miles Davis
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 31 de julho de 1988
Enquanto o último álbum do Modern Jazz Quartet, gravado ao vivo, com uma orquestra de câmera, está na praça há três meses pela Atlantic/WEA, e o primeiro álbum-solo do sax-revelação Courtney Pine (revelado originalmente em alguns solos da trilha de "Coração Satânico" (WEA) também saiu. No Brasil, a CBS, que dispõe do maior acervo histórico de jazz está se apresentando para fazer com que o fundamental da obra de Miles Davis chegue ao nosso público.
Aos 62 anos - completados no dia 25 de maio - Miles (Dewey) Davis (Júnior), não é, em absoluto, um artista em busca de simpatia. Nas vezes anteriores que esteve no Brasil tocou de costas para o público e, nas (raras) entrevistas irritou-se com as comparações em torno de que Wynton Marsalis (por sinal, com novo elepê nas lojas, "Música Barroca para Trompetes"), seria seu herdeiro (além de jazzista, Marsalis é virtuose no erudito). Os jazzófilos conservadores insistem em frizar que a admiração por Davis terminou nos anos 60, quando ele passou para correntes de fussion. Mas o fato é que Davis é um dos gênios do jazz, em constante reciclagem e que ao passar para a WEA ("Tatu", 1986) fez um disco surpreendente e, cirando a trilha sonora para o filme "Siesta" (editado pela WEA, sem qualquer repercussão) homenageou ao grande mestre e arranjador, Gil Evans (Toronto, 13/5/1912 - México, 20/3/88), poucos meses antes de sua morte (o filme é de 1987 e só foi exibido no FestRio).
A obra de Davis, na fase da CBS, pode ser apreciada pelos volumes que vêm aqui sendo editados na série Columbia Jazz Masterpieces: "Round About Midnight" (1955); "Miles Davis mais 19" ou "Miles Ahead", com arranjos de Evans (1957); "Miles Live" (do concerto no Carnegie Hall, em 19/5/1961) e "We Want Miles" (gravações ao vivo em Boston, Nova Iorque e Tóquio em 1981) - este já representativo da chamada "fase elétrica".
Agora temos mais um clássico dos anos 50; "Milestones". Entre 4 de fevereiro a 4 de março, o produtor Teo Macero supervisionou as gravações do sexteto que Davis liderava há 30 anos passados - integrados por Julian "Cannonball" Adderley, John Coltrane, Red Garland, Paul Chambers e "Philly" Joe Jones. São apenas seis temas - "Dr. Jekyl", "Sid's Ahead", "Two Bass", "Miles", "Billy Boy" e "Straight No Chaser" - mas desenvolvidos com aquela categoria que fez o jazz de Miles adquirir uma dimensão única. Uma obra de arte, indispensável.
Enviar novo comentário