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Aramis

Blue Note colore sonoramente as nossas noites jazzísticas

Fundado há 3 anos (junho de 1987) o Blue Note Jazz Clube andou meio capengando nos últimos tempos, mas agora, com um novo presidente, o colecionador Caetano Cerqueira Rodrigues, 54 anos, dono do maior acervo em CD em jazz no Paraná (e entre as maiores do País) - e para cuja concretização aplicou alguns milhares de dólares de sua grande fortuna - novos tempos deverão marcar a entidade. Fundado por outro milionário curtidor de jazz, o engenheiro Eduardo Guy Manoel, o Jazz Clube ainda não encontrou sua sede ideal. Suas primeiras reuniões aconteceram no falecido bar John Edwards, na Praça Garibaldi, passaram depois para um botequim na Rua Saldanha Marinho, tiveram algumas edições em outro bar - Old Friends - e no hoje extinto 505, uma (frustrada) tentativa de implantar um sofisticado piano-bar na cidade, houveram as noites mais emocionantes em termos musicais - com presenças como do Traditional Jazz Band, Pau Brasil, Zimbo Trio e até dos músicos e cantores americanos que, há dois anos, trouxeram o musical "Ain't Misbehavin" ao Guaíra. Com o propósito de reunir os aficionados por jazz em descontraídas reuniões e, ao mesmo tempo, abrir espaço - inclusive profissional (com dignas remunerações) aos instrumentistas mais criativos da cidade, o Blue Note já tem uma razoável folha de serviços prestados. A tentativa de fazer reuniões no Paiol, aos sábados a tarde, - não emplacou e as últimas jam-sessions aconteceram no bar Cristal - mas que ainda não é o espaço ideal, capaz de oferecer um minipalco, um piano decente e conforto ao público que, naturalmente, cresce quando é mantida a regularidade das jam-sessions. Fala-se que um próspero corretor zoológico estaria investindo alguns milhões de cruzados novos para transformar duas lojas numa galeria da Rua Comendador Araújo no mais sofisticado piano bar da cidade, que tendo o experiente pianista Fernando Montanari na direção poderá se tornar num bom ambiente jazzístico. Mas até agora, nada de concreto, se sabe deste projeto. O Four Seasons, luxuoso night club do Iguaçu Tower, destina-se a um público de alto poder aquisitivo e tem numa orquestra coordenada pelo veterano baterista Genésio Ramalho a atração maior para quem aprecia o romantismo de época das big bands, com seus standards harmoniosos. Embora pertencendo a um grupo bilionário e destinando-se a uma faixa de altíssimo faturamento, o Four Seasons ainda não trouxe nenhum nome de jazz de expressão - embora, antes de sua inauguração, se falasse que a intenção era fazer ali um espaço com o mesmo padrão artístico do 101 do Maksoud Plaza, que há anos é o melhor clube musical do País - e no qual já se apresentaram os maiores nomes do jazz de Alberta Hunter (1897-1987) a Bobby Shorter, o darling romântico das noites nova-iorquinas e que, em repetidas temporadas conquistou o público paulista - embora em disco continue a ser praticamente ignorado no Brasil. O entusiasmo do engenheiro e empresário Sérgio Bittencourt pelo jazz o levou a investir já alguns mil cruzados na manutenção de um bom grupo instrumental no Habbeas Corpus (Rua Dr. Murici, 909), que tem marcado ótimas jam-sessions. Mais modesto e democrático em sua freqüência - e que vai desde prostitutas do baixo Leblon curitibano até empetelecadas elegantes do beautiful people o Trumpet's Bar (Rua Cruz Machado, 320) graças ao talento, simpatia e competência de seu proprietário, o pistonista Saul (da Silva Bueno), 43 anos, resiste, há quase 6 anos, como um excelente ambiente musical - no qual a falta de maior conforto é compensada pelo clima de alta criatividade musical, ao qual somam-se aos músicos da casa, liderados pelo incansável Saul, profissionais (e amadores) de talento que, espontaneamente, ali oferecem canjas after hours, como reza a melhor tradição jazzística. Inesperadamente, pode-se ouvir vozes internacionais, como a da cantora Iana Purim, freqüentadora do eixo Rio-Nova Iorque-Los Angeles, que numa de suas circuladas curitibanas ali esteve e, encantada pelo talento dos músicos, fez questão de cumprir dois sets com um repertório de standards e também de suas próprias composições - e que mesmo sem ensaios prévios, saiu redondo. Talento, aliás, não falta aos músicos curitibanos que, mesmo sem terem maiores condições de desenvolver um trabalho regular (e dignamente remunerado) mostram competência. Sem pretender dar uma listagem definitiva - já que a relação é feita ao sabor da memória, com naturais omissões - pode-se citar alguns talentos locais que, com maior ou menor irregularidade, mostram que também se pode fazer jazz em nossa madrugada. Nos teclados, o nome sempre mais lembrado é do grande Gebran Sabbag, 57 anos, mas que raramente tem aparecido na madrugada. Em compensação, seu primogênito, Jefferson, 28 anos, herdou seu talento nos teclados e no Habbeas Corpus mostra que o talento musical está no sangue fazendo improvisações extraordinárias - com outros músicos marcantes como o excelente baixista (José Antônio) Boldrini, o saxofonista Orlando Comandulli, o guitarrista Scarante, entre outros. Além de Gebran e Jefferson Sabbag, os teclados têm outros bons estilistas - como Varella, o veterano Fernando Montanari, o eclético Bráulio Prado, Hildebrando, entre outros. Belém é sempre um baixista harmonioso e na guitarra Henrique, acompanhante habitual de Saul no Trumpet's mostra uma grande diversidade, enquanto Polaco Oliva, após 3 anos de Los Angeles (onde chegou a gravar um compacto) tem um som jovem. Na bateria, Maurici, Tiquinho, Tampinha, Charmak são nomes competentes - embora um excelente profissional, Carlinhos Freitas, faça falta na noite: é que como é também o melhor engenheiro de som do Paraná, suas atividades do Sir o impedem de circular mais. Em metais, além de Comandulli e Saul, Argemiro e Paulo Branco fazem belas silhuetas musicais. Paulo, aliás, chegou a montar um bom grupo de jazz há alguns meses. Vocalmente, Selma de Castro, uma morena inteligente e sensual, antropológica e professora da Universidade Católica, é a grande presença feminina na noite curitibana - que, em termos de interpretação teórica, a estimulou para um estudo ("Fim de baile, músico a pé"), com edição prometida pelo MIS-PR. Gisele, embora mais ligada a MPB, também canta outra em jam sessions - do professor Phil Young, belíssima figura, das mais estimadas, com seu estilo entre Sinatra e Tony Bennett ao promotor Joaquim Tramujas, 41 anos, que embora teórico do Nativismo (seu ensaio "Passe a Cuia, Tchê!", provocou polêmicas interestaduais), curte tanto jazz que, usando sua licença-prêmio, morando em Londres, com sonhos de dar canja no templo musical da capital inglesa - o Ronnie Scott's, casa que até há duas semanas teve como atração Airto Moreira e Flora Purim.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
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04/03/1990

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