O tempo do jazz esquenta com o IV grande festival
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de agosto de 1988
Nascido como uma forma do próspero empresário Eduard Guy Manoel em promover a sua empresa no salão de informática no Barigüi, no ano passado, o Sigma Jazz Group deu tão certo que foi o núcleo para deslanchar o Blue Note Jazz Club. Graças ao apoio de idealistas entusiastas de jazz - como Caetano Rodrigues (dono da maior e melhor coleção em CD de Jazz do Paran) e Jorge Natividade, o clube emplacou e chegou - coisa rara neste tipo de associação - ao seu primeiro aniversário há algumas semanas.
Os melhores instrumentistas da cidade têm sido valorizados nas jam-sessions quinzenais e agora, graças a uma idéia do professor Phil Young, será possível iniciar um intercâmbio de músicos americanos e brasileiros, a ser desenvolvido na Flórida - já que ali Young tem metade de suas atividades como mestre de inglês. Gebram Sabbag, 55 anos, pianista de jazz excelente; baixista Boldrini, saxofonista Orlando Comandulli e o baterista Carlinhos Freitas serão os primeiros beneficiados do convênio. Já a cantora Selma Batista, que após começar a freqüentar as reuniões do Blue Note melhorou o seu repertório, está embarcando para Paris, acompanhando seu marido, que volta a residir naquela capital. Selma, entusiasta pelos aplumados que tem recebido nas reuniões do Blue Note, no Paiol ou no "505", alimenta sonhos de repetir, vocalmente, o que Tânia Maria e, mais recentemente, Eliana Elias conseguiram: fama e fortuna no Exterior.
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O momento é propício ao jazz - que após permanecer por décadas como privilégio de uma minoria de iniciados, amplia-se em opções fonográficas (nos últimos anos, mais de 300 ótimos discos foram aqui editados) e concertos ao vivo. A Dueto Promoções, das irmãs Sïlvia e Monique Dauelsberg, promove a partir do dia 1º de setembro o IV Free Jazz Festival, com etapas no Rio de Janeiro (Hotel Nacional, 1 a 6) e São Paulo (Anhembi, 6 a 11), com um elenco em que talentos internacionais se alternarão com os melhores instrumentistas brasileiros.
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Os ingressos, colocados à venda já há algumas semanas, estão esgotando-se rapidamente, pois a chance de ouvir, em apenas uma semana, criadores da maior voltagem, não acontece sempre. Em termos de programação, o Free Jazz - que tem na Pam Am e Souza Cruz seus grandes patrocinadores - pode ser comparado a outros festivais internacionais.
A abertura no Rio será dia 1º, com a Orquestra de Música Brasileira, formação originalíssima e que deve ganhar agora espaço promocional maior. Na mesma noite, Diane Schurr (de quem a CBS acaba de lançar dois elepês, "Deedles" e "Schurr Things") e , como complemento da noite, o mais lendário (e antigo) grupo, o camerístico Modern Jazz Quartet, formado há 36 anos e que após uma longa separação está retornando.
A programação do Free Jazz - organizado com suporte de um conselho de especialistas - procurou alternar tanto grupos tradicionais como o MJQ, como renovadores inquietos como John Laurie e The Lounge Lizards (John Apareceu como ator em "Down By Law" e "Stranger Than Paradise") e a maior revelação do saxofone, Courtney Pine, ouvido no Brasil, pela primeira vez na trilha sonora de "Coração Satânico", agora com um elepê solo ("Destiny's Song", WEA) nas lojas.
O maior nome do violino no jazz, Stephane Grappeli, 80 anos, encerra a terceira noite - aberta pelo acordeonista gaúcho Ranato Borghetti e que inclui o baixista Ron Cartney e Tony Willians Trio. Miles Davis, 66 anos, outra lenda do jazz, estará na noite de 5 de setembro - que será aberta com um duo muito conhecido - Gilson Peranzetta (teclados) e Sabastião Tapajós (violão) , que há três semanas, se apresentaram em Curitiba. No encerramento, Nina Simone - susbstituindo a Chuck Berry - e o grupo Cama de Gato, considerado o melhor grupo nacional que esteve no festival do ano passado.
Os mesmos artistas internacionais estarão em São Paulo. Em compensação, os músicos brasileiros serão diferentes: a Banda Zil, da qual faz parte José Renato, de raízes curitibanas (filho do falecido jornalista Simão de Montalverne) abrirá o festival. Leo Gandelman, saxofonista, o grupo Pixinga, o violonista Almir Sater e Oscar Castro Neves - o homenageado especial deste 4º Free Jazz - estarão só no Anhembi.
LEGENDA FOTO 1 - Modern Jazz Quartet: 36 anos fazendo jazz de câmera abrirão o Free no Rio de Janeiro.
LEGENDA FOTO 2 - Courtney Pine: a revelação do saxofone.
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