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Aramis

Os melhores do jazz em 87 (segundo a "Down Beat")

José Maurício Machline não é apenas um grande executivo e naturalmente o braço-direito de seu pai, Mathias, comandante do grupo Sharp. José Maurício é também um homem apaixonado pela música brasileira, letrista e poeta inclusive, e que há alguns anos criou uma etiqueta - a Pontier - que fez mais de trinta discos interessantíssimos com gente do melhor nível da MPB. Embora tendo desativado a Pointer e assumido funções executivas na Sharp, José Maurício não deixou de lado a sua sensibilidade artística. Assim é que foi o idealizador do Prêmio Sharp da MPB, que tendo Vinícius de Moraes como patrono, estará distinguindo, em abril próximo, os melhores compositores, intérpretes e instrumentistas que gravaram seus discos entre janeiro/87 - fevereiro/88. O Prêmio Sharp de MPB vem se juntar a outros eventos que distinguem quem faz os melhores trabalhos. A Shell vem homenageando anualmente dois grandes nomes - do popular e do erudito. A Associação dos Produtores Fonográficos reestruturou o Troféu Villa-Lobos para distinguir não só os campeões de vendas mas também os melhores segundo um júri nacional. Várias revistas de circulação nacional - como a "Bizz", que atinge o público jovem - também promovem as escolhas dos melhores de cada ano, no caso ouvindo os leitores. Infelizmente, o concurso "Playboy" da MPB foi desativado há três anos. xxx Internacionalmente, a "Down Beat", fundada há 54 anos em Nova Iorque e considerada a bíblia do jazz - embora desde alguns anos tenha modificado sua abrangência "for contemporary musicians", podendo assim cobrir todos os gêneros, promove anualmente dois respeitabilíssimos "jazz poll". No primeiro semestre reúne as opiniões críticas de especialistas de várias partes do mundo que fazem as indicações dos melhores álbuns e instrumentistas em diferentes categorias. Já no final do ano, apresenta seu "Annual Readers Poll", com a opinião dos leitores. Desde 1935 - dois anos depois de ter sido fundada - a "Down Beat" faz esta consulta aos leitores. A simples inclusão entre os nominados na relação já é uma consagração profissional e a partir dos anos 60 - quando a música brasileira começou a entrar nos Estados Unidos, com a força da Bossa Nova, anualmente há várias citações de brasileiros - tanto no "jazz poll" da crítica como no dos leitores. xxx A edição de dezembro da "Down Beat" (72 páginas, US$ 1,75) trouxe o "52nd Annual Down Beat Readers Poll", indicativo claro da preferência do público americano, de bom nível informativo (e que portanto acompanha a revista) em relação a música jazzística (e suas diferentes fusões) nos últimos meses. Em 1987, poucos brasileiros apareceram: Airto Moreira, que por dez anos consecutivos esteve em primeiro lugar na categoria dos percussionistas na escolha dos críticos, e também sempre foi dos mais votados pelos leitores, ficou agora em segundo lugar com 260 votos. Em primeiro lugar está outro brasileiro, o pernambucano Nana Vasconcelos, há mais de dez anos também radicado nos Estados Unidos. Explica-se inclusive a razão que Airto caiu para o segundo lugar: enquanto Nana fez um elepê por uma grande gravadora ("Native Bush", Elektra, do grupo WEA, já lançado no Brasil), Airto tem se dedicado mais a shows, especialmente na Europa. Em compensação, entre as cantoras, há o retorno de Flora Purim - em sétimo lugar, mas que é significativo já que permaneceu alguns anos afastada. Não custa lembrar que por três vezes consecutivas a carioca Flora liderou a categoria de "female singer", desbancando monstros sagrados como Ella Fitzgerald e Sarah Vaughan. Sarah Vaughan, com 306 pontos, voltou ao primeiro lugar na listagem dos leitores de "Down Beat", seguida de uma cantora, Diane Schuur (157 pontos), de quem a CBS lançou um esplêndido álbum no ano passado. Sheila Jordan - cantora que ainda não teve nenhum elepê colocado no Brasil - está em terceiro lugar, antecedendo a veterana Ella Fitzgerald, 69 anos, com sérios problemas de saúde, mas ainda em ação. Betty Carter ficou em quinto lugar, Anita Baker em sexto. Abaixo de Flora Purim estão Carmen McRae, a polonesa (radicada nos EUA) Ursula Duadziak e mais duas cantoras novas, ainda desconhecidas mesmo aos mais bem informados jazzófilos brasileiros: Janis Siegel e Cassandra Wilson. xxx Na categoria de percussão, afora os brasileiros Nana Vasconcelos e Airto Moreira, os três outros classificados são ainda desconhecidos entre nós: Tito Puente, Mino Cinelu e Fomoudou Don Moye. xxx No "Hall of Fame", quadro especial que distingue anualmente um grande nome, o vencedor foi Lionel Hampton, 75 anos, vibrafonista, compositor, band-leader - cuja vinda para o IV Free Jazz Festival está nos planos das irmãs Sylvia e Dominique Gauldesberg. No quadro "Hall of Fame", os outros nomes citados foram os de Red Rodney, Dave Brubeck, Scott Joplim (mesmo artistas falecidos podem ser notados), Herbie Hancock, Sonny Stitt, Wayne Shorter e a pianista Mary Lou Williams. O músico de jazz de 1987 para os leitores da "Down Beat" foi Ornette Coleman, 58 anos, saxofonista, ligado a correntes vanguardistas. Dexter Gordon, apesar de todo o sucesso que fez como ator e músico no filme "Ao Redor de Meia Noite" (Around Midnight, 1986, de Bertrand Tavernier) ficou em segundo lugar. Seguem-se os jovens Michael Brecker e Wynton Marsalis. O veterano Miles Davis ganhou a quinta posição e o jovem guitarrista Pat Matheny - que tem feito constantes temporadas no Brasil e cuja vinda a Curitiba, junto com o quase curitibano José Renato (filho do jornalista Simão de Montalverne) não está fora de cogitação, entrou também na listagem. xxx Em termos de gravações, muitos dos discos apontados pelos leitores da "Down Beat" já saíram no Brasil. O vencedor na categoria "Jazz Album", de Michael Brecker (Impulse Records) ainda é inédito, mas em compensação aqui já foram lançados os outros cinco discos classificados: "The Other Side of Midnight" (Blue Note / EMI/Odeon), "Tatu", com Miles Davis (Warner / WEA), "Still Life" (Talking) com Pat Metheny (Geffen / WEA), "J. Mood" com Wynton Marsalis (Columbia / CBS) e "Royal Garden Blues", com Brandford Marsalis (Columbia / CBS). Na categoria "Pop / Rock Album of the Year", o vencedor absoluto, com uma diferença de 207 pontos sobre o segundo mais votado, foi "Graceland", com Paul Simon (Warner / WEA). O U2, com "The Joshua Tree" (Island / WEA) ficou em segundo lugar, seguido dos discos de Prince ("Sign the Time"), "Tatu" (também votado nesta categoria) e Steve Winwood ("Back in the High Life", Island / WEA). Curiosamente, Miles Davis com "Tatu" - seu primeiro elepê na Warner (após mais de 30 anos na Columbia) entrou também na lista do "Soul / Rhythm & Blue Album of the Year". O vencedor nesta categoria foi o guitarrista Robert Cray com "Strong Persuader" (Mercury / Polygram, já lançado no Brasil). Citados ainda Prince, Anita Baker ("Rapture", Artista), Albert Collins ("Col Snap", Alligator Records), e Janet Jackson ("Control", A&M). xxx Paul Simon foi considerado o artista pop/rock do ano, enquanto na categoria Soul / Rythm & Blues o distinguido foi o guitarrista Robert Gray. Na faixa dos grupos de jazz acústico o veterano Art Blakey & The Jazz Messengers (que foi a grande presença no III Free Jazz Festival) liderou a listagem - seguido do jovem Wynton Marsalies e Phil Woods. Neste quadro aparecem grupos desconhecidos no Brasil: Red Rodney, Don Pullen / George Adams, World Saxophone Quartete, Sphere, David Murray, Jack Reilly e Scott Hamilton. Outro veterano, Gil Evans (também estrela maior que veio ao Free Jazz), entrou duplamente: como líder de big band e arranjador. O grupo de Pat Matheny venceu na categoria de "electric jazz group", enquanto Sting liderou na classificação "pop/rock group". Como compositor, a organista Carla Bley - (que até agora só teve um elepê lançado no Brasil) lidera a relação na qual figuram Ornette Colemann, a japonesa Toshiko Akiyoshi, Wayne Shorter, Pat Matheny e mais 5 nomes desconhecidos entre nós: Nehry Threadgili, David Murray, Abdullah Ibrahim, Jack Reilly e rob Wasserman. xxx Vamos agora à formação da orquestra dos vencedores, com os mais votados em cada instrumento: Pistão: Wynton Marsalis (Miles Davis em segundo e os ainda pouco conhecidos Lester Bowie, Tom Harrell e Red Rodney nas posições seguintes). Trombone: o veterano J. J. Johnson - seguido de Bill Watrous, Stevie Turré, Jimmy Knepper e Roy Anderson. Flauta: James Newton - seguido de James Moody, Hupert Laws e Lew Tabackin. Clarinete: Eddie Daniels com 557 pontos, enquanto o segundo colocado, o veterano Buddy de Franc, 65 anos, ficou com apenas 185. Também votados, John Carter, Phil Woods e Anthony Braxton. Sax-soprano: Wayne Shorter, com uma diferença de 128 pontos sobre o segundo classificado, Brandford Marsalis. Votados Steve Lacy, Dave Liebman e Jane Ira Bloom (coisa rara, uma mulher destacando-se neste instrumento). Sax-alto: Phil Woods, seguido de Ornette Coleman, David Sanborn e Richie Cole. Sax-tenor: Michel Brecker, seguido de Sonny Rollins, Stan Getz, Grandford Marsalis, Dexter Gordon e David Murray. Sax-barítono: Gerry Mullingan, seguido de quatro nomes ainda desconhecidos no Brasil: Hamiet Bluiet, Nick Brignolo, Ronnie Cuber e John Summan. Piano acústico: McCoy Tyner, seguido de Oscar Peterson, Kenny Kirkland e Cecil Taylor (também nas cogitações para vir ao IV Free Jazz Festival). Piano elétrico: Chick Corea, seguido de Herbie Hancock e Lyle Mays. Órgão: Jimmy Smith, seguido de Carla Bley, Sum Ra e Jimmy McGriff. Sintetizador: Joe Zawinul, seguido de Lyle Mays, Herbie Hancock e Corea. Guitarra: Pat Matheny, seguido de John Scorfield, Joe Pass e Stanley Jordan. Baixo acústico: Charlie Haden, seguido de Ron Carter e Ray Brown. Baixo elétrico: Marcus Miller, seguido de Steve Swallow e Jaco Pastorius (mortos aos 35 anos, em Fort Lauderdale, dia 21/09/87). Bateria: Jack DeJohnette, seguido de Max Roacah e Art Blakley. Vibrafone: Milt Jackson, seguido de Bobby Hutcherson e Gary Burton. Violino: Stephane Grapelli, seguido de John Blake e Jean-Luc Ponty. Cantor: Bobby McFerrin, seguido de Joe Williams, Mel Thormé, Al Jarreau e Mark Murphy. Grupo Vocal: Manhattan Transfer, seguido de Rare Silk. Na categoria "miscellaneous instrument", Toots Thielemans (harmônica de boca), ficou à frente de David Murray (baixo clarineta), Howard Johnson (tuba) e Andy Narel (steel druns).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
17/01/1988

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