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Aramis

Aqui, Jazz

O II Festival Internacional do Jazz, que hoje se encerra no Anhembi, em São Paulo, motivou o aparecimento de um novo pacote de discos do gênero, como comentamos na semana passada. Antes de registrarmos o que saiu agora - afora o primeiro suplemento da ECM, distribuído pela WEA - temos ainda a registrar alguns importantes elepes jazzísticos, colocados na praça há algum tempo, mas que não podem ser esquecidos pelos colecionadores. Miles Davis, por exemplo, um pistonista, compositor e líder, tem obra das mais diversificadas: aos 54 anos, 35 de carreira, tem evoluído sempre: sua (imensa) discografia tem marcado as várias fases do jazz nesta três décadas e meia, do romantismo e do bebop as discutíveis (e decepcionantes para muitos de seus fãs) aproximações ao "rock-fussion", nos anos 60, como foram os álbuns "Bitches Brews" e "Filmore East", onde o percussionista Airto Moreira participou. "Miles Davis/Water Babies" - que Arlindo Coutinho incluiu na "Jazz Colector's Series", da CBS, possibilita se conhecer melhor uma das melhores fases de Davis, nos últimos 12 anos: no lado um, os 3 temas "Water Babies", "Capricorn" e "Sweet Pea", são desenvolvidos com Davis ao Pistom, acompanhado por Herbie Hancock nos teclados, Tony Willians na bateria, Ron Carter no baixo e Wayne Shorter nos sax-sopranos e tenor. Já no lado B, em duas faixas apenas, "Two Faced" e "Dua Mir. Tillman Anthony", a este grupo, acrescentou-se mais dois grandes instrumentistas: Chick Corea nos teclados e David Holland no baixo. Count Basie (William Bil Basie, New Jersey, 1904), é hoje um dos últimos remanescentes da escola dos grandes band-leaders pianistas de jazz: aos 76 anos continua forte e vigoroso a frente de sua orquestra e, em diferentes formações, também fazendo muitas gravações. Enquanto não se confirma sua excursão ao Brasil, programada em 1979 mas adiada devido ao alto custo de produção (com a maxivalorização do dólar), a solução é ouvi-lo em suas inúmeras gravações. Em produção de Norman Granz, da Pablo, temos dois exemplos da versatilidade de Basie. Com o saxofonista Zoot Sims, 55 anos, mais John Heard no baixo e Louis Bellson na bateria, um registro feito há 5 anos (abril/75, Nova Iorque), onde na forma de quarteto, desenvolve sete temas, entre composições próprias "Blues Fot Nat Cole", "Captan Bligh", "Hardav", ou de outros autores, como o clássico "It's Only A Paper Moon" (Rose/Harburg Alam), "Honeysuckle Rose" (Waller/Raza) o "I Surrender Dear" de Clifford Brown. Já a versatilidade de Basie como pianista e líder de uma grande orquestra, pode ser apreciada em "Milt Jackson + Count Basie + Big Bang-Volume 1", gravação mais recente (18/1/78, Los Angeles). Um disco importante curioso, de princípio por Basie jamais teve um vibrafone em sua orquestra, nem Milt Jackson jamais gravou com uma big-band de jazz. Some-se portanto o talento de Jackson, vibrafonista que por anos integrou o Modern Jazz Quartet, a big-band de Basie e o resultado é este elepe dos mais sensíveis e importantes, com momentos como "Lil'Darlin" - um dos mais belos temas de Neil Hefti, a homenagem de Basie e Milt a um grande amigo e cantor - "Blues For Joe Turner", ou composições do próprio Basie, "Blue And Sentimental" ou "Corner Pocket", sempre com aquele toque mágico que faz da linguagem jazzística um eterno redespertar. O selo Prestige - que ao lado do Fantasy - tem agora representação no Brasil da Top Tap, tem possibilitado que verdadeiros tesouros jazzísticos cheguem as loja. Um exemplo disto é "Early Bones", álbum duplo que, ao longo de suas faixas, possibilita que três dos maiores virtuoses do trombone, com diferentes formações, mostrem as variadas formas de expressão deste instrumento, que sempre teve uma presença indispensável no jazz e contou, entre seus maiores virtuoses, o inesquecível Jack Teagarden (1905-1964). Assim, ao lado dos solistas de trombone - como J.J. Johnson (Indianópolis, 1924), Kai Winding (Aarhus, Dinamarca, 1922) e Bennie Green (Chicago, 1923), há a participação de músicos lendários, que, nas diferentes formações, participaram dos registros [reunidos] por Ralph Kaffel e Oorrin Keepnews, neste álbum documental. Por exemplo, de gravações feitas por J.J.Johnson em 26/5/1949 - "Elysee", "Hilo", "Fox Hunt" e "Opus Five", estão Sonny Rollins no sax tenor, John Lewis (outro que integrou por anos o MJQ) no piano e Max Roach na bateria; de uma gravação do mesmo ano, três meses depois (23/8/49), Kai Winding sola "A Night On Bop Mountain" e "Wateorks", acompanhado, por exemplo de Gerry Mulligan no sax baritono e George Wallington no pistão. Numa evolução cronológica, Bennie Green é acompanhado em "Green Junction", "Flowirng Rives", "Whirl-A-Licks" (todas suas composições) e o clássico "Pennies, from Heaven" entre outros músicos, pelo lendário Art Blakey, baterista e líder, que há quase 3 anos esteve em Curitiba. Em oito faixas, o encontro de Jay Jay Johnson e aí Wedding, juntos a Dick Kat (piano), Peck Morrson (baixo) e Al Harewood (bateria), numa sessão de 3/12/54. Finalmente, de 10/1/55, Bennie Green, a frente já de outra formação (Charlie Rluse, sax-tenor; Cliff Smalls, piano; Paulo Chambers, baixo; Osie Johnson, bateria), solando, entre outros temas, duas das mais belas composições de todos os tempos: "Laura" (Mercer/Raskim) e "Body And Soul" (Heyman/Sour/E on/Green). Igualmente histórico, em termos de registros é "Stan Gatz Greatest Hits" (Prestige/Top Tap); onde com 3 diferentes formações - numa das quais com o baixista Percy heath, Geth, 53 anos, saxofonista que muito contribuiu para difusão da Bossa Nova nos EUA, desfila 12 "standards" - de "Indian Summer" e a "My Old Flame". Até hoje ainda não foi suficientemente avaliada a importância de Art Van Dame (Michigan, 9/3/1920), dentro do jazz: acordeonista com conhecimentos de piano, começou tocando em Chicago e, em 41, já integrava a banda de Bem Barnie e 3 anos depois, passava a orquestra da NBC. Mas foi como líder do quinteto, formado a partir do final dos anos 40, que valorizaria não só o acordeon como instrumento jazzístico, mas também o vibrafone. A influência de Art Van Dame foi significativa sobre muitos músicos - e no Brasil teve no gaúcho Breno Sauer, há mais de 10 anos radicado nos EUA, o seu maior discípulo (durante alguns anos o quinteto de Breno Sauer tocou em Curitiba nos áureos tempos da boite Marrocos e um dos remanescentes do grupo, o "Pirata", é hoje arrendatário do bar do Círculo Militar do Paraná). Depois de uma gravação célebre - "Assassinato na 10ª Avenida" (Richard Rodgers), Van Dame desapareceu, só retornando já na Alemanha, gravando com o excelente Singing Unlimited ou lps como solista. Um destes, feito para a MPS/BASF, sai agora no Brasil: "Squeezing Art & Tender Flutes". Van Damme executa acordeão, enquanto as flautas, discretamente, ficaram com quatro instrumentistas desconhecidos (ainda) no Brasil: Rudy Risavy, Hans Wolf, Heribert Thusek e Kurt Kumpel. Uma secção rítmica, arranjos de Christian Schmitz-Steinberg fazem deste elepe dos mais interessantes, inclusive pelo bom gosto do repertório escolhido, com músicas como "Cheers" de Mancine, "I Only Have Eyes For Youn" (Dubin), "How Will I Forget" (Claus Ogerman), "Best Things For You" e o suave "Rick Your-self Up" de Shearing. Se o acordeon tem em Van Damme um dos poucos, senão o único executante jazzístico, o violino também não é instrumento comum nesta forma de manifestação. Jean-Luc Ponty saiu de uma sinfônica - a Concerts Lamoreux, para, no festival de Antibes, em 64, revelar-se um improvisador ao violino, com méritos que o consagraria, três anos depois no festival de Monterey. Integrando-se as mais diversas correntes, Ponty trabalhou com o demolido Franck Zappa no "Motrhers of Invention" e passou também a gravar discos como solista. "Aurora", na Atlantic/WEA, foi um dos mais significativos álbuns dos anos 70 e a mesma Atlantic, via WEA, apresenta agora "A Taste For Passion, onde Ponty não só é solista e autor de todas 10 faixas, como fez os arranjos e orquestrações. Músicos desconhecidos o acompanham - mas integrados ao seu trabalho que buscam dar uma nova dimensão ao jazz, liberto dos canones tradicionais, a começar pelo próprio instrumento que usa - normalmente visto mais como integrante da secção de cordas ou nas mãos de virtuosos em elepes de música dita clássica. ´"Get In Touch/Rhythm & Sounds", produção de Ulli Ruzel, de seis anos passados para a MPS/BASF, e que só agora sai no Brasil, pela Copacabana, oferece oportunidade de ouvir também outro executante de violino: Don "Sugarcane" Harris numa faixa ("I'm On Your Case"), ao lado de outros conjuntos de jovens (na época) alemães, influenciados por jazz, mas sem uma preocupação formal, ao contrário propondo um som de certa forma difícil de ser aceito aos jazzófilos conservadores. Volker Kriegel, guitarrista que excursionou pelo Brasil sob auspícios do Goethe Institut, e por 2 vezes veio a Curitiba (numa delas com a Baiafro, de Djalma Corrêa), está presente na faixa "Fur Hector", enquanto outros conjuntos - tão avançados, quanto desconhecidos, completam este lp, válido ao menos como informação, passados seis anos de realização: Chris Hinze Combination, Joy Unlimited, Et Cetera e embry, além do orientalista Katcharpari Rava.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
27
27/04/1980

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