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Aramis

Opções múltiplas que acompanham o festival

Na próxima quinta-feira, 24, inicia-se em São Paulo, o II Festival Internacional de Jazz, em São Paulo, no Parque Anhembi, reunindo, alguns nomes dos mais expressivos nomes do jazz contemporâneo - das diversas correntes, integrando-se em "summits" (encontros de executantes de um mesmo instrumento), que deverão serem apreciados por milhares de pessoas que comparecerão ao Parque do Anhembi, onde, a exemplo do I FIJ (setembro/78), se realizarão as sessões, a tarde e noite, com vários eventos paralelos. Infelizmente, pela segunda vez, os curitibanos não poderão assistir este espetáculo pela televisão, que, em todos os Estados onde existem canais educativos-culturais, terá transmissão ao vivo. Tão importante quanto a realização deste II Festival Internacional de Jazz, em São Paulo, será o Rio/Monterey Jazz Festival, no Riocentro, de 15 a 17 de agosto próximo. Se no início dos anos 70, Maurício Quadrio, então dirigindo projetos especiais da Polygram, provou a existência do público consumidor de jazz, com lançamentos excelentes, o I FIJ motivou que, há 2 anos, mais de 200 títulos fossem aqui lançados, pelas diversas gravadoras. No ano passado, mesmo não havendo nenhum festival, as edições jazzísticas continuaram e este ano, obviamente, com duas mostras internacionais, teremos até o final do ano, ao redor de mais de 300 (alguns acham que chegará a 500) elepês de jazz, de várias fases e correntes diferentes - mas possibilitando que um público interessado, até hoje obrigado a recorrer as cada vez mais caras edições importadas, possa ampliar suas coleções, preencher espaços. Praticamente todas as gravadoras que tem possibilidade de representar catálogos com jazz não deixarão passar tão bom momento para edições. Muitas, obviamente, não se restringem apenas a este momento, mas apenas dão continuidade a um trabalho que, com maior ou menor intensidade, vem realizando. Neste caso estão a Odeon - onde Quadrio atua desde novembro/76, a CBS - cujo setor jazz/clássicos, tem a competência de Arlindo Coutinho para orientá-la, a WEA e a Polygram - esta mantendo a representação da Pablo, de Norman Granz, um dos mais importantes produtores jazzísticos de todos os tempos, que após ter vendido a sua histórica Verve, criou a Pablo, homenagem ao amigo Picasso, que inclusive foi quem desenhou o logotiipo. A WEA, com representações tão importantes como a Atlantic, Elektra e a própria Werner, dispõe também agora de mais uma marca; a ECM, uma etiqueta de certa forma independente-alternativa, fundada pelo alemão Manfred Eicher, com sede em Munique, que nos últimos três anos, formou um dos melhores catálogos de jazz contemporâneo, com talentos de várias nacionalidades, incluindo os brasileiros Egberto Gismonti e Nana Vasconcelos. O primeiro "pacote" da ECM, distribuído pela WEA, aguardado há 4 meses, finalmente foi para as lojas, trazendo desde tecladistas conhecidos e admirados como Chick Corea, Keith Jarret, o vibrafonista Gary Burton, além de dois elepês de Nana - "Codona", dividido com Collin Malcott e Don Cherry e o lp solo "Saudades", além de vários nomes novos Terje (Te-ri-e) Rypdal, cuja uma rápida audição demonstra a indicação não ortodoxa de sua visão artística, inspirada em diversas épocas, por músicos tais como Mahler, Hank Marvin, The Shadows, The Art Ensemble of Chicago etc. Aliás, a importância do primeiro "pacote" da WEA, nos parece tão grande que preferimos deixar o registro para a próxima semana, além de comentários especial no quinzenário "Quem". Hoje, mesmo que rapidamente, vamos registrar alguns outros títulos, aparecidos nos últimos meses e que, por sua importância, não podem deixar de serem adquiridos pelos interessados. O JAZZ VOCAL - Desde que foi criado o Swingle Singers, com suas vocalizações jazzísticas de temas de Bach ("Jazz Sebastian Bach"), se notou as imensas possibilidades de utilização do mais expontâneo dos instrumentos - a voz humana - numa linguagem jazzística. O mesmo grupo-base do Swingle Singers, da qual fazia parte Christine Legrand (irmã de Michel), formou também o Double Six, e, posteriormente, enquanto o grupo original era reestruturado (fazendo 2 elepês que chegaram aqui). Christine liderou o "Quire", talvez o mais perfeito grupo vocal-jazzistico dos anos 70, mas por razões até hoje não devidamente esclarecidas, fez um único elepê, na RCA, aqui editado em 78 - e que, mesmo sem divulgação na época, foi totalmente consumido pelos que tomaram conhecimento de sua beleza - e, liderou a nossa relação dos melhores discos internacionais daquele ano. Por outro lado, foi através da divisão fonográfica da BASF, hoje extinta, que um grupo vocal americano - The Singrs Unlimited, fez extraordinários álbuns, desde o ano passado em edições no Brasil, via Copacabana - fábrica que conseguiu a representação do (excelente) acervo da BASF, quando a multinacional [desinteressou-se ] por esta área. Formando por Gene Puerling. Don Shelton, Len Dreslar e Bonnie Hormann começaram a trabalhar juntos há 27 anos, mas em diferentes formações - como ocorre em todos os conjuntos. Foi, porém, na fase em que estiveram na Alemanha, sob contrato da BASF, que fizeram seus melhores elepês. Dois volumes "A Capella" - agora no Brasil (Copacabana), com clássicos como "Michele", "The Fool On The Hill", de Lennon/McCartney, "More I Can Not Wish You", de Frederick Loesser, em arranjos simplesmente de fazer o ouvinte chorar. No segundo elepê "A Capella", a seleção é de clássicos ainda mais conhecidos: "My Romance" (Hart/Rodgers), "April In Paris", "Girl Talk" (Troup/Nel Hefti), "Nature Boy" (E.Ahbez), "Autumnn In New ork" (Vernon Duke), "Like Someone In Love" (J.Burke/J. Van Heusen) e "Indiam Summer" (A. Dubin/V:Herbert). A BASF tem outras excelentes gravações do Singers Unlimited, inclusive um com o grupo de Art Van Dame, que, urgentemente, aguardamos as edições no Brasil. Se the Singers Unlimited são ternura e enternecimento em seus arranjos vocais, o cantor Joe Turner (Kansas city, 1911), é um vocalista de jazz de um estilo bem mais seco, com uma certa (necessária) amargura dos blues. A carreira de Turner tem 42 anos de vivência, pois em 38 chegava a Nova Iorque, trabalhando com Joe Sullivan, Art Tatum, Willie Smith e Freddie Stack. Nos anos 50, chegou a se aproximar do rock a ser chamado de "blue shouter", pelo estilo diretor de sua ampla voz. "Things That I Used To Do", gravado em 8 de fevereiro de 1977, em Los Angeles, com acompanhamento de músicos como Eddie Vinson no sax ato, Blue Mitchel no tumpete, Bruno Carr na bateria e Lloyd Glen no piano, mostra que, aos 66 anos, hoje gordo, semi-aposentado, Turner continua a ser um vocalista de imensa força, cantando músicas próprias como "My Train Rolled Up In Texas", o clássico de W.C. Handy, "St. Louis Blues" ou a própria canção título de E. Jones. O JAZZ PÓSTUMO - Durante 27 anos o Modern Jazz Quartet foi um grupo instrumental único [em] seu estilo: fundado em 1952 por alguns antigos integrantes da grande orquestra de Gillespie - Milt Jackson, Ray Brown, Percy Heath e Kenny Clarck, em sua primeira formação. Múltiplas modificações ao longo de quase 3 décadas, divergências pessoais profundas entre seus membros - o que nunca, entretanto, impediu um extraordinário profissionalismo, em concertos e inúmeras gravações. Ao contrário, poucos grupos tiveram tanta constância regularidade em seu trabalho como o MJQ, que só nos últimos 3 anos se desfez - embora, eventualmente, haja reencontros para concertos especiais. A (imensa) discografia do Modern Jazz Quartet está distribuída em inúmeras etiquetas e, vez por outra, sempre somos surpreendidos com alguma reedição. É o caso de "The Modern Jazz Quartet Plays Jazz Classics (Prestige/Top Tap, 74256, que reúne oito dos temas mais conhecidos do grupo - na época destes registros, formado por Milt Jackson (vibrafone), John Lewis (piano), Percy Heath (baixo), Kenny Clarck (bateria) e Connie Kay (bateria, na faixa "Concorde"), a formação-base do MJQ que teve maior duração. Audições de "Django" - homenagem ao guitarrista belga, "Vendome", "Delaunay's Dilleman", faz qualquer pessoa de mínima sensibilidade vibrar com a suavidade, o estilo camerístico, quase religioso, que o grupo sempre marcou sua forma de executar temas próprios ou de outros autores. Do pacote de lançamentos da CBS programados para o final de 79 e princípios de 80, Arlindo Coutinho só permitiu que "A Tribute To Cannonball", com Don Byas (sax tenor) e Bud Powell (paino) acompanhados por Kenny Cklarck (bateria), Idress (trumpete) e Pierre Michelot (baixo) fosse às lojas. Os 9 outros - bem como da (extraordinária) trilha sonora de "Manhattan" (79, de Woody Allen, música de George Gershwin) apresentavam defeitos de prensagem, que retardaram sua comercialização. Gravado em Paris, em 1961, só agora, temos a edição deste disco histórico, que possibilita se conhecer melhor o imenso talento de Don Byas (1912-1972), saxofonista que conseguia brilhar tanto nas melodias mais suaves como nos tema que exigiam maior estridência neste álbum, produzido por Julian "Cannombal" Adderley (1928-1976), registrado há 19 anos, com a participação do excelente pianista Bud Powell e de Kenny Clark, baterista do Modern Jazz Quartet, pode-se sentir as interpretações de Byas, sempre pautadas "por um brilhante uso da dinâmica e do timbre, projetando um romantismo profundamente sentido" - como disse o crítico Gary Giddin - em clássicos como "Just One Of Those Thing" de Cole Porter, "Chorekee" de R. Noble, além da homenagem "I Remember Clifford" que Goldon dedicou ao trumpetista Clifford Brown (1930-1056), falecido em acidente automobilístico, no auge de sua carreira. Passados 6 anos da morte de Duke Ellington (1899-1974), continuam a aparecer discos deste gigante do jazz, como pianista, maestro e arranjador. Agora é uma [produção] da Stanyan Records, representada no Brasil pela Bandeirantes, com distribuição da WEA, que nos possibilita ouvir toda a genialidade de Ellington e sua orquestra, em registros que fez há 17 anos, em temporada por algumas cidades da Europa, onde atuou com músicos das sinfônicas e das óperas de Paris, Hamburgo, Estocolmo e La Scalla (Milão), num total de mais de 500 músicos envolvidos. Dos registros feitos desta excursão foram selecionadas as quatro faixas que compõem mais este precioso elepê para enriquecer a coleção ellingtoneana, praticamente a mais ampla e rica que se possa imaginar na área do jazz, tal o número de gravações feitas por Edward Kennedy Ellington ao longo de mais de meio século de música. O lp abre com "Night Creatures", sinfonia em 3 movimentos que Ellington escreveu em 55, a pedido do maestro Don Gilles, e que seria executada num concerto juntamente com sua própria banda. E "Night Creature" acabou sendo interpretado não só pela Sinfônica do Ar, de Gilles, mas por outras orquestras e, no registro deste elepê, temos o primeiro e o segundo movimentos gravados em Estocolmo e o terceiro em Paris. Os solistas são Ellington, Paul Gonsalves, (Ray Nance (violino), Cottie Willians, Johnny Hodges, Ray Nance, Lawrence Brown, Harry Carney (sax barítono) e Cat Anderson. "Non-Violent Integration" é uma composição de 49, e aqui esta gravação feita na Alemanha, quando tocou junto a sua orquestra com membros da Sinfônica de Hamburgo. Já ao chegar em Milão, numa manhã de fevereiro/63, Ellington descobriu que teria os músicos da orquestra do Scalla à sua disposição. Assim, escreveu "La Scala, She Too Pretty To Be Blue", feita de forma que "não precisasse de muito ensaio e que demandasse o menor tempo possível de gravação". Ouvindo-se esta faixa - até agora inédita no Brasil - imagina-se o que seria, se tivesse o elepê, data de 50, feita para a Sinfônica da NBC, que tinha então o maestro Arturo Toscanini como regente. Uma obra que busca em 20 imagens dar a idéia do Harlem, que, nas palavras de seu autor, "faz perceber que há mais igrejas que cabarés e ao lá chegar verá que é uma comunidade como qualquer outra no mundo". A PERCUSSÃO - Três elepês também colocados na praça, há algum tempo, possibilitam que se conheça melhor diferentes estilos da percussão no jazz: pela Pablo, o segundo elepê do brasileiro Paulinho Costa, "Happy People", mostra imensas concessões comerciais, apelando mesmo a mais supérflua linha discotheque. Em compensação, Airto Moreira, tão ligados a todos nós, oferece a sustentação na percussão para a bateria de Elvim Jones em "Outback", lp que embora tenha o saxofonista Joe Farrel, 43 anos, americano de Illinois, como o principal solista, é uma gravação onde houve um real trabalho de integração dos músicos que dele participaram. Feito há 9 anos (novembro/71), "Outback" permanece um disco atual, numa produção da CTI, de Creed Taylor - etiqueta que tem seus (ótimos) lançamentos bissextamente colocados no Brasil pela Continental. Com Farrell desdobrando-se entre a flauta, sax soprano e piccolo, além de arranjos e regências, o disco abre com "Outback", que John Scott compôs como tema para o filme do mesmo nome, seguido de "Sound Dawn", parceria de Joe Farrel/Geri Farrel. O piano elétrico do Chick Corea e o baixo de Buster Williams sentem-se nas duas faixas do lado B: "Bleeding Orchi", de Corea e "Novembro 68th", de Farrel. São quatro faixas que exigem especial atenção e que nos oferecem novas oportunidades de se conhecer mais um pouco do muito que Airto, catarinense-paranaense há 12 anos nos EUA, tem feito na América. Da penúltima safra de percussionistas-bateristas americanos, Billy Cobham, 36 anos, é um dos que tem desenvolvido um trabalho de maiores reflexos e polêmicos. Nascido no Panamá, aos 3 anos chegava com seus pais, o pianista William Cobhan, a Nova Iorque. Em 56 já tocava bateria e sua formação teve solidificação em escolas e, posteriormente em grupos como a Jazz Samaratins e músicos como Larry Willis e Eddie Gomez (posteriormente baixista de Bill Evans). Em 1968, Isaac Hayes o convocou para participar da trilha sonora de "Shaaft" (que valeu o Oscar) e outros trabalhos se sucederam ("Missão Impossível", na sua banda para a tv, marcou uma fase de seu trabalho). Trabalhar com um guitarrista como John McLaughlin, em sua fase de Mahavishnu Orchestra, faz a cabeça de qualquer músico e isto aconteceu também com Cobhan, que acompanhou o guitarrista inglês entre 71/74, quando formou seu próprio grupo. E nestes seis anos, viajando muito entre EUA e Europa, atuando com músicos como o tecladista George Douke, o guitarrista John Scoffileld e o baxista Dough Rouch, seu trabalho apresentou as mais variadas indagações. Sua discografia já é grande, por 2 anos foi escolhido o melhor baterista na "Down Beat Jazz Poll" e seu estilo pode chocar um pouco aos conservadores, mas tem muita força. O que se faz de "The Best Of Billy Cobhan" (Atlantic/WEA), um didático lançamento, reunindo composições entre 73/76. Apesar da defasagem de 4 anos (hoje, logicamente, seu trabalho já é outro), é sempre válido conhecer um andamento de "Quadrant 4" ou dois temas declaradamente inspirado no mais humano dos personagens das histórias em quadrinhos, "Charlie Brown" de Charles Schultz - que, por certo Cobhan, deve curtir muito: "Snoopy's Search" e "Red Baron". Somente composições próprias, esta antologia de 7 temas de Billy, encerra com o solo de 0:16 segundos, acoplado a "Panhandler".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
37
20/04/1980

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