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MJQ homenageia Duke Ellington

1988 foi um ano positivo para o jazz no Brasil - conforme destacaremos na próxima edição do "Almanaque", quando, mantendo a tradição de 24 anos, estaremos fazendo a revisão dos melhores lançamentos ocorridos entre dezembro/87-dezembro/88. A continuidade do Free Jazz Festival, no eixo Rio-São Paulo e a vinda de bons jazzistas - infelizmente a maioria sem passar por Curitiba - motivou que as principais gravadoras continuassem a fazer edições do que de melhor existisse no jazz. Assim, a WEA, com um catálogo dos mais representativos do jazz contemporâneo (mas também incluindo algumas preciosidades dos anos 50/60, advindas de selos que assumiu) - aproveitou a presença do excelente Modern Jazz Quintet no Free Jazz, em setembro, para editar uma belíssima homenagem que o camerístico grupo formado por John Lewis (piano), Milt Jackson (vibrafone), Percy Heath (baixo) e Connie Kay (bateria/percussão) prestou ao mestre dos mestres do jazz: Duke Ellington (1899/1974). Gravado em Nova Iorque, entre os dias 1º a 3 de fevereiro de 1988, "For Ellington" tem toda a suavidade, a classe e categoria do som único do MJQ somada à textura de Ellington, com alguns de seus mais belos temas: "Jack the Bear", "Prelude to a Kiss", "It don't Mean a Thing", "Ko-Ko", e "Rockn'In Rhythm". No mesmo clima, temos as homenagens de Lewis ("For Ellington"), e Milt Jackson ("Maestro E.K.E."), além de "Sepia Panorama", de Billy Strayborn (1915-1967), pianista e arranjador, autor do clássico "Take the Train", prefixo da big band de Duke. Illinois Jacquet (Jean Batiste Illinois Jacquet, Broussard, Louisiana, 31/10/1922) é um nome lendário no jazz, com uma participação em históricas big bands (Count Basie, Houston-Based Band, Milt Karkin: JTP), apareceu em filmes como "Stormy Weather" e "Jamin the Blues" e gravou grandes sucessos em disco ("Flying Home", "Jigin", "Robin's Nest", "Black Velvet", etc.). Apesar de ter realizado concertos por quase todo o mundo, Jacquet não é, ainda, um nome popular no Brasil. Por isto, um dos eventos mais importantes do ano que se encerra foi o fato de a WEA lançar o álbum "Jacquet's go it!" com Illinois Jacquet & His Big Band, formada há pouco tempo. Jacquet estava trabalhando com seu quinteto no começo dos anos 80 quando recebeu o convite de lecionar e tocar para a classe de história do jazz na Universidade de Harvard por um período (o sucesso foi tamanho que ele voltou nos semestres seguintes, em 1983/84). Inspirado pelos seus estudantes da tradicional universidade, Jacquet decidiu formar sua primeira big band em 30 anos, já que nos últimos anos da década de 40 e nos primeiros da de 50 ele tinha alargado a fama de seu octeto pelos teatros e nas gravações de discos. Agora, pela primeira vez em sua carreira, Jaques tinha uma big band. Reuniu bons amigos e trouxe Eddie Barkfield para ser o diretor musical e primeiro sax-tenor da banda, que fez sua estréia em agosto de 1983, em Nova Iorque, a partir de 1986 começou a se apresentar na Europa. Naturalmente, foi grande a sensação, especialmente após apresentações no Lincoln Center, Carnegie Hall e no histórico Village Vanguard, cujo proprietário, Max Gordon, declarou que sua temporada foi "o maior acontecimento já visto nos 52 anos de existência do clube". Agora, em gravação pela Atlantic (e no primeiro disco que fez nos EUA nos últimos 20 anos), Illinois arrebanhou talentos como Will Bill Davis, Eddie Barefield e Phil Wilson, com um repertório maravilhoso - "Smooth Sailing", "More than You Know", "You Left me all Alone" e "Blues from Luisiana". Milt Jackson um americano de Detroit, 56 anos que está completando neste 1º de janeiro, não é apenas o extraordinário vibrafonista do Modern Jazz Quartet. Compositor e solista, tem sua própria carreira, com centenas de gravações ao longo de quatro décadas de atuação intensa. Gravado poucos dias após o MJQ ter voltado a reunir-se para homenagear Duke Ellington, "Bebop" (East-West/WEA) trouxe Jackson à frente de um grupo de excelentes instrumentistas - John Fadsis (pistão), J. J. Johnson ( trombone), Jimmy Heath (sax tenor), Cedar Walton (piano), John Clayton (baixo) e Mickey Roker (bateria), para uma jam-session identificada pelo próprio título espírito do álbum, registrado nos dias 28 a 30 de março de 1988: O Bebop. E o repertório não poderia ser melhor, com temas de Charlie Parker ("All Private", "Now's the Time","Ornithology"), Tadd Dameron & Count Basie ("Good Bait") e, especialmente, Dizzy Gillespie ("Woodn't You", "Grooving High", "Birk's Work"e "Salt Peanuts"). Billie Holiday (1915-1959) e Ella Fitzgerald, 70 anos dispensam que se gaste adjetivos e espaço para enaltecê-las. Dois monstros sagrados do jazz vocal, que ninguém cansa, jamais, de se ouvir. Portanto, qualquer disco destas duas damas divinas só merece recomendação imediata. Pode ser que em outras gravações as músicas já tenham saído com registros quando elas estavam mais jovens - e as constantes complicações e remontagens, confunde mesmo os mais organizados colecionadores. Entretanto isto não importa: quem ama o jazz, procura ter todas as gravações possíveis de Billie e Ella. E a WEA, representando o catálogo da MCA Recordes, lança uma remontagem de Milt Gabler, com dois elepês, em capa simples. No primeiro, temos registros de Bille em sua melhor fase - 1945/48, como "You Metter Go Now", "Please Tell me How", "Guilty", "Baby, don't Cry over You", "Weep no More" e "Big Stuff". Já o disco de Ella traz gravações também de uma época em que ela estava no maior vigor - 1952/54. Entre estas, "Lullaby of Birdland", "Air Mail Special", "Rough Riding", "Preview" (nesta, gravada em 25/6/52, acompanhada pela The Hank Jones Quintet), "Latter", "I"m Glad there is You", "Imagination", "People will Say We're in Love" (do musical "Oklahoma") e, naturalmente, "My Heart Bellongs to Daddy", de Cole Porter. É necessário acrescentar alguma coisa?
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
18
15/01/1989

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