Vinícius Vive. Como sempre
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 14 de janeiro de 1989
Existe maior alegria do que lembrar pessoas queridas, imortais pelas obras que realizaram?
Pois esta felicidade vem sendo proporcionada graças ao mecenato de algumas empresas dirigidas por executivos de sensibilidade e visão e que buscam assessoramento de quem tem competência. O mais recente exemplo é o álbum dedicado a Vinícius de Moraes - livro e disco, editado graças a soma de recursos da Empresa Carioca de Engenharia S/A, Christiani Nielsen - Engenheiros e Construtores S/A e Sanenge - Saneamento e Engenharia Ltda., empresas coligadas.
A realização é da Sabiá Produções Artísticas, uma microempresa criada há 4 anos pelo pesquisador e colecionador Jairo Severiano, associado neste projeto a Lúcia Gouveia Vieira e Vera de Alencar.
Pernambucano, há mais de 30 anos residindo no Rio de Janeiro, funcionário aposentado do Banco do Brasil, Jairo Severiano é um dos mais organizados colecionadores e pesquisadores de nossa música popular.
Reunindo um notável acerto de gravações, ampliou seu arquivo para depoimentos gravados, recortes, livros e publicações - sendo o primeiro a se profissionalizar nesta área de produção, inclusive com a utilização de computador para suas informações. Nos últimos dez anos, já produziu - sozinho ou com colaboradores - mais de uma dezena de projetos especiais, desenvolvidos com apoio da Fundação Roberto Marinho, Sesc-São Paulo e Fundação Emílio Odebrecht, entre outros. Agora, realizou o belo projeto Vinícius de Moraes para o grupo de construtores associados, que tão sabidamente souberam investir recursos da Lei nº 7.505 (Lei Sarney).
Em 1986, Jairo e Vera Alencar já haviam realizado, com patrocínio do grupo Norberto Odebrecht, o belíssimo "Caymmi - Som e Magia", formado por um livro e dois álbuns, com gravações especiais. Em 1987, também para a Odebrecht, saiu projeto semelhante, homenageando Antônio Carlos Jobim - inclusive com o primeiro levantamento completo de toda sua obra. Agora, foi Vinícius de Moraes o escolhido para uma obra fascinante, com textos preparados por um dos maiores amigos do poeta, o jornalista e também poeta Paulo Mendes Campos. Numa série de textos leves com seu estilo gracioso, Paulinho Mendes relembra Vinícius em vários aspectos ("Murais de Vinícius"), entremeados de poemas de amor e algumas das letras mais conhecidas que fez para nossa MPB.
Mas é como documento iconográfico que esta edição - infelizmente, numa primeira tiragem, reservada apenas a distribuição pelos patrocinadores (mas fornecida à bibliotecas e entidades culturais), que adquire especial significado. São dezenas de fotos do arquivo da família Mello Moraes, mostrando desde o bebê Vinícius (aos 4 meses) até suas últimas imagens. Assim folhear o livro é como mergulhar numa máquina do tempo, acompanhando os 67 anos de vida, amor, poesia e imensa humanidade que caracterizou Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes - um imortal na beleza da obra que deixou.
Desenhos de Carlos Leão, arquiteto e artista plástico, que foi um dos cunhados que Vinícius teve, emoldura, o caderno de poesias de amor. Fotos marcantes - como o encontro histórico de Vinícius com os quatro outros gigantes da poesia - Drummond, Mário Quintana, Manuel Bandeira e Paulinho, ou como os seus amigos Paulo Mendes Campos, José Carlos de Oliveira, Sérgio Porto e Fernando Sabino - são imagens históricas, assim como o flagrante do jovem Vinícius com seu amigo Orson Welles em Hollywood, nos anos 40 - ou a curiosa foto de Vinícius, adolescente, como congregado mariano. Enfim fotos inéditas, pela primeira vez publicadas e que, na impossibilidade de nossos leitores tomarem contatos diretos com o álbum, algumas são publicadas nesta edição.
Uma produção maravilhosa, exemplo de como se pode aplicar bem os benefícios da Lei Sarney, "Vinícius de Moraes" é um projeto que, esperamos, venha a ter, futuramente uma edição comercial - colocando-se, assim, ao alcance de milhares de pessoas que tanto admiram este nome maior de nossa vida artística-cultural.
Em complemento, Jairo Severiano montou um belo elepê, que, em 12 faixas, mostra um pouco da obra de Vinícius, começando com sua declamação de "O Haver" (Edu Lobo ao violão) e prosseguindo com "Serenata do Adeus" (Elizete Cardoso), "Olha Maria" (Chico Buarque), "Insensatez" (Silvia Telles), "Pela Luz dos Olhos teus" (Vinícius), "Eurídice" (Baden Powell), "Ela é Carioca" (Os Cariocas), "Samba em Prelúdio" (Nara Leão), "Samba da Volta" (Vinícius e Toquinho), "Canto de Ossanha" (Elis Regina) e "Se Todos Fossem Iguais a Você" (Agostinho dos Santos).
LEGENDA FOTO 1 - Em visita a Walt Disney, acompanhado do cônsul do Brasil em Los Angeles, Afonso Portugal e sua esposa Glória.
LEGENDA FOTO 2 - O poetinha em 1933.
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