Geléia Geral - Angélica, Reflexu's, Kim, Mautner e Nelson
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 14 de janeiro de 1989
Nos passos de Xuxa, a ninfeta Angélica caminha firme para se tornar uma nova bilionária do reino das crianças. Já apareceu num filme dos Trapalhões e seus programas na Rede Silvio Santos estão crescendo de audiência. E como Xuxa vendeu 2 milhões de cópias de seus discos, porque a bela Angélica não pode também cantar? Seu novo disco pela CBS teve produção do competente Mazzola, repertório dos mais assimiláveis, com temas para a garotada - a partir da música que dá título ao seu programa: "Milk Shake".
Com "View From The House" (MCA/WEA), Kim Carnes dá mais um passo numa carreira que vem sendo solidamente realizada. Neste álbum, procura uma reaproximação com o estilo básico e simples de fazer belas canções, com sua voz percorrendo 10 músicas que criou parceria com seu velho amigo e produtor, Jimmy Bowen. Gravado em Nashville, num clima country, "View From The House" traz uma intérprete suave, cuja carreira sempre esteve entre o rock e o country e que compôs, inclusive, alguns sucessos do famoso álbum "Gideon" de Kenny Rogers, onde compareceu, inclusive, num dueto interpretando "Don't Fall in Love With a Dreamer". Seu maior sucesso foi "Bette Davis Eyes", um compacto que resistiu durante nove semanas na primeira posição do TOP 100 da "Billboard" (ela foi a única artista a ter um trabalho solo, um dueto e um trio nas paradas ao mesmo tempo).
Falando em música country, outra boa novidade: "What a Wonderful Word", com Willie Nelson (CBS), nome maior da linha country, mas que não fica apenas nas músicas de Nashville. Ao contrário, sua voz harmoniosa, suave, tem (re) alorizado alguns standards do cancioneiro americano, em momentos de maior delícia. Nesta produção de Chips Momam, Willie encanta com "Moon River", "Some Enchanted Evening", "What a Wonderful Word", "South Of The Border", "The Songs Of Moulin Rouge", entre os temas mais conhecidos. E, como se não bastasse sua qualidade para garantir boas vendagens, na faixa "Spanish Eyes" faz dueto com Julio Iglesias - que a CBS tem colocado em discos de muitos de seus superstars internacionais, para ampliar sua carreira cada vez mais.
Não é só a Continental que enxergou as possibilidades do som afro-brasileiro, com influências caribenhas, que está marcando tantos grupos, solistas e compositores da Bahia. A EMI/Odeon também sentiu que o filão é rico e tratou de contratar o grupo Reflexu's, de quem lança agora um elepê ("Serpente Negra") pontilhado de reggaes e temas com muito balanço, capazes de estourarem no Carnaval baiano - o que por si só já garante um lucro de milhões. Desde um veterano compositor baiano, Edil Pacheco, com seu "Café com Leite", até uma nova geração de autores - Ythamar Tropicália . "Serpente Negra", "Quilombo dos Palmares", "Super Raça Ilê Aiyê", Djalma Luz ("Jardim do Ébano") até trabalhos coletivos da própria banda ("Eu Sou Nordestino"), está neste álbum que, numa homenagem a Geraldo Vandré inclui também "Pra não Dizer que não Falei de Flores". Enfim, um disco de muito embalo para tocar no Carnaval.
Filho de alemães que deixaram a Europa durante o nazismo, nascido no Rio, Jorge (Henrique) Mautner, 48 anos a serem completados no próximo dia 17 de janeiro, é, desde os 14, um artista inquieto. Embora toque bandolim e, piano desde a infância e em 1958 já tivesse uma composição chamada "Olhar Negro", foi seu primeiro livro, "Deus da Chuva e da Morte" (1962), que o projetou como artista rebelde. Cronista, compositor, anarquista; ligou-se aos baianos e em Londres chegou a fazer um filme com Caetano Veloso ("O Demiurgo"). Com Gilberto Gil recentemente, lançou as bases de um partido musical político que lhe rendeu muita promoção. Musicalmente, tocando um violão tremendamente desafinado e com uma voz pavorosa, tem, entretanto seu público. Divide normalmente as composições com Nelson Jacobina, com quem fez um novo lp ("Árvore de Vida", Geléia Geral), no qual traz composições novas, caracterizadas por letras longas, políticas e bem trabalhadas - como "Yeshua Ben Joseph", "Hiroshima Brasil", "Perspectiva", "Lágrimas Negras" e "Maracatu Atômico", estas duas últimas com parceria com Jacobina. Há também duas homenagens a mestres do samba que Mautner diz curtir muito: Ismael Silva com a micro-composição "Teu Olhar" e o delicioso "Positivismo" (Noel Rosa/Orestes Barbosa).
Para quem desejar, um disco como o de Mautner pode render longas apreciações. Para nós aqui fica o registro de seu lançamento.
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