Nelson, o country com boa parceria
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 09 de novembro de 1985
Finalmente o country começa a ocupar o espaço que há anos vem procurando em nosso mercado. E se há muita inutilidade, perfeitamente dispensável, há cantores da força de Wilson Nelson, o maior nome do country nos Estados Unidos (25 milhões de cópias vendidas, que já lhe valeram quinze discos de ouro, oito de Platina e dois de triplo-platina) que tem sabido trabalhar. Tanto é que não ficou apenas no country, mas, inteligentemente, regravou - com excelentes arranjos - clássicos da música americana, inclusive dando uma força ao espanhol Júlio Iglésias, que com ele dividiu sua recriação de "As Time Goes By".
E dividindo seu prestígio com dez outros artistas valoriza o seu novo álbum ("Half Nelson", CBS). Se há nomes que dispensam apresentação - Ray Charles ("Seven Spanish Angels"), Carlos Santana ("They All Went To México"), Neil Young ("Are There Any More Real Cowboys"), Hank Willians ("I Told A Lie To My Heart") e Leon Russel ("Honky Tonk Womem") - há outros que, embora já conhecidos nos Estados Unidos, por aqui ainda são ilustres anônimos: Merle Haggard ("Pancho and Lefty"), Lacy J. Dalton ("Slow Movin Outlaw"), Mel Tillis ("Texas On a Saturday Night") e George Jones ("Half a Man"). São duetos interessantes, bem ao estilo country, num disco de excelente produção.
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O SBT tem feito muitas edições de grande aceitação popular. Associado à RCA, por exemplo, reuniu quinze dos maiores sucessos de Luiz Gonzaga, o compositor-intérprete mais identificado ao povão. Clássicos de seu repertório como "Baião", "Cintura Fina", "Assum Preto", "Dezessete e Setecentos" estão nesse disco de grande apelo popular.
Outra produção do SBT com grande força popular é "Oldies III", que, dando seqüências aos dois volumes anteriores, reúne grupos e intérpretes isolados do grupo Polygram, em faixas de grande sucesso: Andy Gibb, Mungo jerry, Demis Roussos, Hervé Villard, Tom Jones, Santa Esmeralda e Peter Skellern, entre outros. Já para o público infantil, é o ingênuo e simpático "Vovó Mafalda", em produção associada à Copacabana, com canções de agrado da criançada.
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Uma das mensagens que mais entusiasmaram o veterano Jimmy Cliff foi a regravação de seu "Trapped" por Bruce Springsteen, no álbum "USA For África". Autor de sucessos como "The Harder They come" e "Many Rivers To Cross", Jimmy Cliff, que já veio duas vezes ao Brasil. (em 1968, no FIC e, em 1980, em tourné por várias cidades, ao lado de Gilberto Gil), retorna agora em elepê da CBS: "Cliff Hanger". Apesar de ter no reggae jamaicano seu estilo forte. Cliff multifaceta seus ritmos e nesse novo disco traz ao lado de suas composições duas músicas especialmente selecionadas: o funk-ska "American Dream" e o rock-balada "Brown Eys", da dupla Amir Bayan/ La Toya Jackson. Para quem curte o reggae, um disco interessante - inclusive com uma faixa, "Nuclear War", na qual Jimmy retoma a temática social, que nos anos 70, marcava seu trabalho e o fazia merecer atenção especial.
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Paul Mauriat tem de usar de toda a imaginação para suprir a exigência do mercado. Seu público exige semestralmente um novo elepê orquestrado e nem sempre há tempos para reunir produção recente - ou a mesma não tem a qualidade que o exigente e astuto regente francês exige. Uma fórmula é ir aos clássicos. E foi o que Mauriat fez este ano, resultando "Classics In The Air" (Philips/Polygram), no qual ele deu arranjos populares, suaves e facilmente consumíveis a temas de Bach, Packelbel, Beethoven, Rossini, Liszt, Verdi, Beethoven, Brahms e naturalmente Mozart (trecho da Sinfonia nº 40). A utilização de clássicos em arranjos populares não constitui novidades e, cá entre nós, é uma forma democrática de divulgar a chamada "música dos grandes mestres". Os conservadores e elitistas cultores apenas do erudito talvez torçam o nariz, mas Mauriat está na sua: faz mais um disco para vender bem junto ao seu público e apresenta belos temas. Afinal, entre o lixo internacional que tem surgido e os arranjos de temas como esses, achamos que monsieur Mauriat está certo...
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