A orquestra do mestre Turíbio
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 09 de novembro de 1985
Turíbio Santos, maranhense de São Luiz, 41 anos, é, sem maior favor o nome mais importante do violão erudito no Brasil. Com longos anos de vivência na França - onde retorna anualmente para concertos - uma dúzia de importantes elepês gravados na prestigiosa Erato (dos quais, a RCA, que aqui representa este selo, apenas editou um deles, com temas de Villa-Lobos), Turíbio é também um apaixonado pelo Choro. Estudou a obra de João Pernambuco, resgatando suas composições e a ele já dedicou um elepê magnífico ("Choros do Brasil", 1977).
Incansável em sua preocupação de divulgar o violão, professor de talentos que merecem sua atenção, Turíbio formou há dois anos a Primeira Orquestra de Violões na América do Sul e uma das raras no mundo. Mario Aratanha, do selo Kuarup - que já tem três lps de Turíbio em seu catálogo (Violão Brasil", "Valsas e Choros" e "Grande Sucesso do Violão Latino-Americano"), não perdeu tempo: durante [um] dos primeiros concertos desta orquestra, a 19/12/1984, no Municipal do Rio de Janeiro, levou o experiente engenheiro de [som] Felipe Cavalieri para registrar o espetáculo, transformado num belíssimo disco. Um álbum que traz a primeira gravação mundial das versões para 27 violões de duas obras muito famosas: o "Concerto de Aranjuez", de Rodrigo, e a "Fantasia sobre o Hino Nacional Brasileiro", de Gottschalk.
Reunindo na orquestra os seus melhores alunos de aperfeiçoamento em violão clássico na Universidade Federal do Rio de Janeiro e Uni-Rio, a Orquestra de Violões permitiu a Turíbio - que no disco é regente e solista - desenvolver peças que o compositor e violinista cubano de vanguarda Leo Brouwer, compôs especialmente para esta formação - duas das quais incluídas no lp da Kuarup: "Fantasia dos Ecos" e "A Cidade das Mil Cordas".
O repertório incluiu também o Concerto em Ré Maior, de Vivaldi (original para bandolim e orquestra de cordas), o "Baião", criado por Roberto Gnattali, e a transcrição do próprio Francisco Mignone da partitura sinfônica do "Maracatú do Chico Rei", um dos melhores clássicos brasileiros.
Um disco excelente, pioneiro em sua formação e indispensável a quem sabe apreciar violão na mão de mestres.
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