Uma orquestra de cordas para a nossa melhor MPB
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 05 de agosto de 1990
Bandolins, cavaquinhos, violas-caipiras, violões de seis e sete cordas, contrabaixo e percussões formam a Orquestra de Cordas Brasileiras que estão com o primeiro elepê nas lojas, tocando de Bach a Paulinho da Viola, de Jacob do Bandolim a Villa-Lobos, de Radamés a Nazareth.
A orquestra criada há 4 anos e com uma carreira de ótimas realizações, é formada por 14 virtuoses em instrumentos populares, organizados no palco com uma formação de orquestra de câmara clássica, como afirma um de seus líderes, o cavaquinista e arranjador Henrique Cazes.
Para viabilizar esta produção, via Kuarup, a própria orquestra montou um esquema de vendas antecipadas do elepê. Cazes lembra um aspecto de grande afetividade:
- "Este trabalho é dedicado a memória de Radamés Gnatalli, que com seu gênio e sua incrível produtividade, ampliou os horizontes de tantos instrumentos e instrumentistas brasileiros".
Um dos fundadores da Camerata Carioca, que fez trabalhos memoráveis com o grande Radamés, produzidos por Hermínio Bello de Carvalho - e que tiveram estréias nacionais em Curitiba ("Tributo a Jacob do Bandolim"; "De Bach a Pixinguinha"), produtor de outros bons discos, hoje um dos mais competentes arranjadores e instrumentistas brasileiros. Cazes diz, com natural orgulho:
- "Nosso primeiro disco como orquestra mostra o imenso universo que temos para explorar: trazer os clássicos para mais perto de nós, tirar Nazareth e Jacob do gueto do choro, tocar novos compositores e reler sem preconceitos a chamada música "erudita brasileira".
Uma orquestra de câmara tradicional, européia, é formada por seis violinos (quatro primeiros e dois segundos), duas violas, dois violoncelos e um contrabaixo. Na Orquestra de Cordas Brasileiras, quatro bandolins e dois cavaquinhos fazem as vezes dos violinos; duas violas-caipiras substituem suas homônimas européias e três violões (dois de seis e um de sete cordas) preenchem a sonorização dos violoncelos. O baixo é o mesmo "baixo de pau" de arco e dedilhado. "É a percussão", explica Cazes, "serve para dar o tempero indispensável para se tocar música brasileira".
No repertório do disco (escolhido por votação pelo conjunto), um precioso paralelo foi especialmente gravado para mostrar esta transfiguração: o Concerto de Brandenburgo nº 3, de Bach, transcrito por Cazes. No disco também estão "Alvorada" e "Santa Morena" (Jacob do Bandolim), "Remexendo" (Radamés), "Congada" (Mignone), além de composições de dois membros da orquestra: "Garoa" de Marcos Ferrer e "Só Depois", de Elsebeth de Rodrigo Lessa.
A orquestra estreou no Paço Imperial, Rio de Janeiro, em novembro de 1987, e no ano passado, foi finalista do Free Som, participando do disco "Jacob do Bandolim - 20 Anos Depois" e, como convidada de honra, esteve no concerto de reinauguração do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Para 1990, um grande projeto: gravar o Concerto para Acordeon e Orquestra, obra inédita em disco, que Radamés dedicou ao seu grande amigo Chiquinho do Acordeon.
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