Os anos dourados da Normalista
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 05 de agosto de 1990
Falando de sua vida, familiares, amigos, das alegrias - e naturalmente preocupações e momentos de tristeza - dona Pompília impregna suas memórias, ainda em elaboração, de um calor humano, de uma ternura especial.
Na delicadeza de sentimentos, lembra os vários momentos de sua infância e adolescência, e os primeiros anos de sua vida de esposa e mãe, ao lado do amigo e companheiro Dario, e de seus filhos - hoje netos e bisnetos - aguardando o primeiro tataraneto, ainda sem previsão de chegar.
Das páginas do capítulo "A Adolescente", alguns fragmentos memorialísticos de dona Pompília, antecipados aos leitores.
xxx
Sobre o mestre Dario Velloso, seu professor na Escola Normal: "... ria com a felicidade alheia e sofria ao rememorar as mais remotas tragédias. Dava lições extraordinárias. Sentíamos os acontecimentos históricos. Revivíamos idades antigas (...)". e sobre Emiliano Perneta: "Recriemos o momento em que o grande sonhador se nos revelou. Em mim, sem que soubesse que eu existia, despertou a pesquisadora inata que permanecia em estado latente. Ao passar pela Rua XV, avistava uma sacada, aquele Homem, com inigualável aprumo, fitando - sempre - a distância. Não via os transeuntes. A todos - seu olhar - atravessava e prosseguia. Um olhar de sonhos".
xxx
Dona Pompília ainda conserva os traços da belíssima jovem que foi. Conta, no capítulo "A Adolescente", da valsa de Jaime Bailão, jovem poeta e compositor, que recebeu em sua festa de 14 anos - na noite em que também conheceu "um poeta" que mexeu com seu coração - mas que ficou apenas na suavidade de dois diálogos - e cujo nome, discretamente, nem cita. Um admirador anônimo, comprou um grande número de votos de um concurso de beleza que o jornal "Diário da Tarde" promovia, o que a fez ser citada, para irritação de seu pai. Assim rememora o episódio: "Ainda morávamos na Rua XV e um dia, em 1913, papai estava lendo o "Diário da Tarde" e logo, numa das páginas deteve-se diante da coluna que vinha focalizando um concurso de beleza. Até a véspera - meu nome não fora incluído naquela coluna. Mas, nesse dias, eu aparecia em primeiro lugar, com número de votos superior ao das demais jovens... o que deixou meu pai abalado. Um homem de sérios princípios, sentiu-se mal ao ver sua filha em um "concurso de beleza". Então, dirigiu-se à redação do jornal, onde calmamente lavrou o seu protesto. Determinou que meu nome fosse retirado da coluna. E, afirmou, que se não o atendessem, teria de agir com energia. Foi obedecido. Como por encanto - meu nome desapareceu do jornal. E, então, com 13 anos, pela primeira vez pensei em minha aparência".
Algum tempo depois, entretanto, a adolescente Pompília voltaria a ser notícia do mesmo jornal: "... fui a uma exposição de pintura, muito concorrida, com um vestido novo, escolhido por minha mãe. Poucos dias depois, li na coluna social de um periódico local, a descrição dos toiletes das moças que compareceram. A definição era do colunista social, acadêmico de Direito, Lauro Lopes, que, no fim de sua notável ascensão, na seara da Justiça, foi iluminado Desembargador. Como autêntico artista, descreveu o belo tecido, do vestido, que usei naquela ocasião.
LEGENDA FOTO - Dona Pompília e Dario Nogueira dos Santos, ele falecido em 1981: 61 anos de casados, amor e dedicação ao ensino.
Enviar novo comentário