Uma "Cantoria" com poesia de Hermínio
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 31 de outubro de 1990
- Não me vejam cantor no palco, mas sim um poeta que canta seus versos.
Com esta advertência, o poeta Hermínio Bello de Carvalho, 55 anos, cabelos brancos como um anjo barroco, explica sua presença no auditório Antônio Carlos Kraide (Centro Cultural do Portão), de sexta-feira a domingo em "Cantoria", dividido com duas vozes belíssimas - a veterana Alaíde Costa, 55 anos a serem completados dia 5 de dezembro, e a jovem Dalva Torres, 26, pernambucana que está tendo sua carreira catipultuada [catapultada] por Hermínio, incansável garimpeiro de talentos, que por sua voz se apaixonou há tempos, tanto quanto por Recife - cidade que divide, com Curitiba, o seu coração fora do eixo Rio-São Paulo (ali, especialmente, pelas noitadas do templo da MPB, o bar "Vou Vivendo").
Falar de Hermínio é redundância. Ao longo dos anos, os nossos leitores acostumaram-se a aqui encontrar notícias e referências sobre sua obra: poeta, autor (10 livros publicados), roteirista e diretor musical, letrista e parceiro de uma plêiade ilustre - de Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Cartola, Carlos Cachaça e companheiros de noitada inesquecíveis - especialmente Maurício Tapajós -, Hermínio tem uma das mais dignas folhas de serviços prestados à MPB em prosa, verso & ação.
Idealizador e diretor da divisão de música popular da extinta Funarte, por 13 anos ali desenvolveu os mais importantes projetos em favor de nossa música & músicos (Pixinguinha, Almirante, Jacob do Bandolim, Radamés Gnatalli, Lúcio Rangel), realizando eventos, editando livros e discos, arregimentando talentos, valorizando tudo que se relaciona a nossa cultura popular na área musical. Produtor da TVE - da qual foi, injustamente, demitido em maio último -, Hermínio realizou programas históricos, assim como, ainda nos anos 50/60 já havia feito na Rádio Ministério da Educação e Cultura. Entre tudo isto, ainda soube valorizar o talento de Clementina de Jesus (1902-1987) - por ele lançada no musical "Rosa de Ouro", produzir os melhores discos de sua grande amiga Elizeth Cardoso (1920-1990), para só citar dois exemplos de um curriculum que ocupa pautas e pautas musicais repletas de poesias e canções.
Agora em boa hora tendo seu talento de produtor cultural aproveitado pela Rádio Estadual do Paraná - como supervisor da programação Faixa Verde (que entrará no ar na próxima segunda-feira, 5), Hermínio traz a Curitiba seu novo espetáculo, já aplaudido no Rio e Recife - e que irá a outras cidades, levando as vozes de Dalva e Alaíde, mas o violão de Henrique Annes e a percussão de Raimundo. Desta vez, Hermínio estará no palco - ele que já gravou um elepê como intérprete e tem dois outros álbuns com sua obra (um deles, fora de catálogo, em dois volumes)-, mostrando o seu lado de entertainer. Anteriormente, em duas ocasiões históricas - 11 de agosto de 1979 ("Tributo a Jacob do Bandolim") e 10 de junho de 1980 ("De Vivaldi a Pixinguinha"), no Teatro Guaíra, com a Camerata Carioca e o maestro Radamés Gnatalli (1906-1988), fez estréias nacionais, de espetáculos de tamanha qualidade que ficaram preservados em álbuns antológicos - infelizmente já raridades.
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