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Hermínio, a permanente defesa de nossa cultura

Para deslanchar uma semana extremamente musical, a partir do dia 10, que incluirá shows de Ivan Lins, Luiz Melodia, Mae East, e finalmente, Paulinho da Viola, nada melhor do que a presença de uma das pessoas que mais tem trabalhado em favor da MPB: Hermínio Bello de Carvalho. Poeta, letrista, produtor, diretor de shows, Ziegfield carioca que tem descoberto tantos grandes talentos - dos quais o maior, sem dúvida, foi de sua "mãe" Clementina de Jesus, Hermínio dirige há alguns anos a divisão de Música Popular da FUNARTE. Ali, idealizando eventos dos mais importantes relacionados a nossa cultura popular, valorizando aqueles grandes nomes que são esquecidos no comercialismo selvagem da música enlatada, trabalhando em colaboração com instituições de todo o País, Hermínio desenvolve um trabalho dos mais vigorosos. Se, de um lado, com isto diminuiu sua produção fonográfica, escasseou suas parcerias com tantos grandes nomes e mesmo tem se afastado da direção de espetáculos, por outro lado, Hermínio vem dando uma contribuição notável a MPB. Foi ele quem viabilizou o "Seis e Meia", sugerido por seu "irmão" Albino Pinheiro e idealizou e solidificou o "Projeto Pixinguinha". Pelo menos dois dos cinco encontros de pesquisadores de MPB aconteceram graças a sua mão-forte, e embora recuse o título de pesquisador, é uma das pessoas que mais e melhor tem contribuído na garimpagem da MPB, na revalorização de tantos nomes. Graças a Hermínio, existe o Projeto Lúcio Rangel de Monografias, que estimulou pesquisadores a produzirem mais de 50 ensaios ligados a figuras e fatos da nossa música, metade dos quais já editados pela própria FUNARTE, engordando a bibliografia de MPB. Discos, álbuns, posters, publicações, etc., enfim, muito tem saído graças a competência e entusiasmo de Hermínio, sempre atento ao que acontece. Ainda ontem, foi um dos animadores da chopada com a qual o seu parceiro Carlos Cachaça (Carlos Moreira de Castro), comemorou seus 75 bem vividos e cantados anos. Parceiro de Cartola, Cachaça é um dos grandes compositores da velha guarda, e os dois, mais Hermínio, são autores de um clássico: "Alvorada no Morro". Há muito que os seus amigos cobravam um livro reunindo seus textos sobre MPB. Afinal, nas contracapas dos discos que produziu, programas dos shows musicais que tem dirigido, colaborações para "O Pasquim" e outras publicações - desde seus tempos de adolescente, quando publicou na histórica "Leitura" o seu primeiro grande texto ("Os Três Reis Magos do Samba"), Hermínio tem uma contribuição magnífica em termos de textos, desenvolvidos com a sensibilidade de poeta, com sua linguagem deliciosa, intimista e profunda que caracteriza seu estilo. Poeta consagrado, com seis livros já publicados a partir de "Chove Azul em Teus Cabelos" (1961) até "Bolha de Luz" (1987), lançado simultaneamente ao álbum duplo com o qual comemorou seus 50 anos de vida (produção independente, distribuído exclusivamente entre os amigos), Hermínio tem muito a dizer e contar. Assim, não poderia ser mais feliz a iniciativa da Biblioteca Pública em convidá-lo para falar no auditório Paul Garfunkel na próxima segunda-feira, dia 10, a partir das 15 horas, sobre suas experiências culturais, sua vivência na música e na cultura brasileira. No domingo, 9, Hermínio está na Livraria Dario Vellozo, autografando "Bolhas de Luz" e também "Mudando de Conversa" (Editora Martins Fontes, 207 páginas) - um esperado volume no qual enfeixou aproximadamente 60 crônicas, artigos e conferências, com um índice onomástico de quase 600 nomes, que abrangem trinta anos de permanência contínua no panorama cultural brasileiro. É uma pequena síntese de uma carreira de repórter iniciada em 1951, mas que 5 anos depois se consolidaria com uma "Carta a Manuel Bandeira", publicada em 1956 por Lúcio Rangel, amigo e discípulo de Mário de Andrade, na "Revista da Música Popular", e com a aprovação e estímulo do próprio poeta. Essa carta, que Drummond cita no longo depoimento que deu ao "Jornal do Brasil" por ocasião de seu octentenário, é o início de uma constante presença não só na imprensa, mas também no ofício diversificado de animador cultural como, aliás, Sérgio Cabral enfatiza: - "A briga de Hermínio Bello de Carvalho, há muitos anos, é fazer a cabeça do brasileiro para o Brasil, através da defesa, da divulgação e do desenvolvimento da cultura brasileira.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
42
02/08/1987

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