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Aramis

Paraná sem Sinhô e nem Cartola

É realmente lamentável que apesar da existência em Curitiba de um ativo escritório regional da Funarte, dirigido com eficiência pelo artista plástico Domício Pedroso, e de toda a boa vontade do incansável Hermínio Bello de Carvalho, diretor da Divisão de Música Popular do Instituto Nacional de Música, em relação ao Paraná, não haja condições de se operacionalizar a vinda de ao menos alguns shows que acontecem na Sala Sidney Miller, no Rio de Janeiro - que são levados à Sala Guiomar Novaes, em São Paulo. É o caso dos espetáculos idealizados por Hermínio, este mago defensor de nossa MPB, em homenagem ao centenário de nascimento do compositor Sinhô (José Barbosa da Silva, Rio de Janeiro, 12 - ou 18? - de setembro de 1888 - 04/08/1930) e aos 80 anos de nascimento de Cartola (Agenor de Oliveira, Rio de Janeiro - 11/10/1908 - 30/11/1980). Edição de dois discos e relançamento do livro" Nosso Sinhô do Samba", de Edigar de Alencar - paralelamente ao show com este mesmo nome (estréia dia 11, terça-feira, Sala Funarte Sidney Miller) marcam o evento. Como sempre, há uma programação cuidadosa. Se o show "Nosso Sinhô do Samba", direção de Vicente Maiolino (direção musical de Roberto Gnatalli) e a participação de Dillo Vasconcelos e Júlia Ramundir (que com o nome de Celeste já gravou três elepês) não tem condições de vir a Curitiba (que belo programa seria para o Guaíra ou o Paiol!), ao menos os discos e o livro já estão à venda na loja da Funarte (Rua Cruz Machado, 98). xxx "Nosso Sinhô do Samba", que Edigar de Alencar publicou há 20 anos - e agora reeditado - conta histórias interessantes sobre o autor de "Gosto que me Enrosco", desvendando intrigas sobre sua vida particular e salientando a importância de sua obra no período de 1918/1930, classificada como a "Idade do Sinhô". Ressuscitando o clima carioca em que Sinhô viveu, sua figuras, episódios, sugestões e todos os elementos formadores da coroa do "Rei do Samba", Luís da Câmara Cascudo fala sobre o livro numa carta a Edigar de Alencar: "Não está Sinhô isolado e duro, com capa vistosa e chapéu Randal, no quadro comemorativo, mas o seu mundo, a contemporaneidade motivadora, movimentada, sonora, verídica... que lindo livro você fez, Edigar. Simples, humano, cheio de ternura!". O lançamento do livro - bem como a partitura com 36 músicas do compositor, coincide também com o disco, mesmo título, que conta com a participação dos cantores Francisco Alves (1898-1952) e Mário Reis (1907-1981). xxx Cláudio Ribeiro, assessor da Coordenadoria de Ação Cultural da Secretaria da Cultura, pensa em mandar rezar uma missa na próxima terça-feira, para Cartola. Se estivesse vivo, o autor de "As Rosas não Falam" completaria 80 anos. Cartola, numa das vezes em que aqui esteve (no Projeto Pixinguinha, 1976, bons tempos!) foi por nós apresentado a Cláudio e ao seu parceiro Homero Rebolli. A empatia foi mútua, e, em poucos minutos, Cartola dava algumas sugestões numa música que a dupla estava tentando terminar ("Um Perdão para Mim") e acabou participando da criação de dois outros sambas. Para homenagear Cartola, seu parceiro e afilhado de casamento (sim, foi Hermínio quem cuidou do casamento de Agenor e Zica, que viviam juntos há muitos anos), Bello de Carvalho fez agora a reedição do disco "Fala Mangueira", gravado em 1968 pela EMI/Odeon. Álbum histórico, há muitos anos esgotado, o elepê tem a participação de Cartola, Clementina de Jesus (1902-1987), Nelson Cavaquinho (Nelson Antônio da Silva, 1910-1986), Carlos Cachaça (Carlos Moreira de Castro, Rio de Janeiro, 03/08/1902) e Odete Amaral (1917-1986) - além da participação do trombonista Zezinho. Como se vê, um disco histórico, com clássicos como "Enquanto Houver Mangueira", "Mundo de Zinco", "Quem me Vê Sorrindo", "Alegria", "Sei lá Mangueira", "Alvorada", "Folhas Caídas" e tantos outros sambas que exaltaram a mais querida das escolas de sambas do Rio de Janeiro. LEGENDA FOTO - Sinhô, foto reproduzida da revista "Phono Curte".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
07/10/1988

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