10 anos de sambas-enredos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 18 de novembro de 1984
Há alguns anos, o incansável Pelão (João Carlos Botezelli) - produtor ao qual se deve muito do que de melhor se tem feito pela legítima MPB - realizou um dos projetos mais ambiciosos de Marcos Pereira (1930-1980), então no auge de sua etiqueta: a coleção "A História da Escolas de Samba do Rio de Janeiro". Em quatro discos, fruto de uma honesta e criteriosa pesquisa de campo, Pelão incluiu os grandes momentos das escolas de samba que mais de perto formam o espírito da maior festa popular do mundo.
Agora, pela RCA, fruto da presença de D. Manolo, ex-Tapecar (gravadora pela qual saíram durante anos os discos com os sambas-de-enredo do primeiro e segundo grupos do Rio de Janeiro) temos outra coleção fundamental para quem se interessa pelo Samba e Carnaval: "10 Anos de Samba-Enredo"
São cinco elepês que reúnem os sambas-de-enredo apresentados por escolas do primeiro grupo que anualmente disputam o troféu máximo: Acadêmicos do Salgueiro, Unidos de Vila Isabel, União da Ilha do Governador, Imperatriz Leopoldinense e Estação Primeira da Mangueira. Possivelmente, o projeto deve ter seqüência com discos dedicados às outras escolas do primeiro grupo, no mínimo. Afinal seria uma injusta discriminação não estender a todas as Escolas-de-Samba a chance de terem colocadas no comércio este registro documental de seus sambas-enredos.
A série foi produzida com cuidados: Luis Trimano criou as bonitas capas da coleção, intérpretes das próprias escolas gravaram os sambas-de-enredo, com razoável qualidade técnica e em cada disco há um encarte com textos jornalísticos que informam sobre sua história e trazem depoimentos do principal compositor ou figura mais representativa da mesma. Assim, no disco da Mangueira, o depoimento é da sambista Neuma Gonçalves; Aurindo da Ilha, como compositor dos mais antigos do G.R.E.S. União da Ilha do Governador fala dos sambistas e de sua escola; Zé Catimba foi a fonte para o jornalista Aylton Assis produzir um texto relembrando a importância da Imperatriz Leopoldinense; Paulo Brazão, fundador da Unidos da Vila Isabel, compositor mais laureado da escola (17 campeonatos de samba-de-enredo) e seu antigo presidente reconstitui a história desta escola. Finalmente, a Acadêmicos do Salgueiro tem em Djalma Sabiá, compositor e fundador da escola o seu memorialista. Os textos preparados por Waldinar Ranulpho e, Aylton Assis - com base também no livro "Escolas de Samba em Desfile - Vida, Paixão e Sorte" de Amaury Jório e Hiram Araújo (junho/84) são esclarecedores. Situam historicamente cada escola, falando de suas glórias e integrantes. Infelizmente, para o trabalho ficar perfeito, faltou apenas um detalhe: na contracapa de cada disco incluir o ano de cada samba-de-enredo, informação básica e inexistente.
Das escolas incluídas neste primeiro pacote documental, a mais antiga e famosa é a Estação Primeira da Mangueira, cujo nascimento data de 24/4/1928 - e que teve entre seus fundadores, históricos compositores como Cartola, Carlos Cachaça e Saturnino Gonçalves. Ao longo de 56 anos, tem colecionado inúmeros campeonatos. Obviamente, nestes últimos dez anos uma nova geração de compositores.
- Jurandir, Heraldo Farias, Rubem da Mangueira, Tolito, entre tantos outros, substituiu aos gloriosos mestres do passado. E justamente este sentido documental é que faz com que cada um dos elepês desta coleção seja uma espécie de complementação da História, produzida por Pelão - e que cobriu um período mais amplo - mas infelizmente limitado a poucas escolas. Como Dom Manolo, presidente da RCA, é um homem sensível a importância das Escolas-de-Samba, aqui fica a sugestão: porque não contratar o grande Pelão para que refaça e amplie o projeto originalmente desenvolvido na Marcos Pereira.
A amostragem desta série "10 Anos de Samba-Enredo" (1974/1984) é positiva. Mas precisa uma continuidade com urgência...
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