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Radamés, o gaúcho que é a grande usina sonora

Um evento musicalmente histórico: a estréia nacional de << Vivaldi & Pixinguinha >>, terça-feira, Teatro Guaíra, traz à Curitiba a Camerata Carioca e o pianista-maestro Radamés Gnatalli. Um concerto de Vivaldi e choros de Anacleto de Medeiros, Nazareth, Pixinguinha, Jacob do Bandolim e o << batuque >> de Henrique Alves de Mesquita estão no programa deste espetáculo, com ingressos que vão de Cr$ 70,00 a Cr$ 200,00. O espetáculo será gravado para posterior edição em lp pelo Museu da Imagem e do Som/Rádio Estadual do Paraná. Radamés Gnatalli se considera um músico neoclássico nacionalista. Essa auto definição já bastaria para explicar a linha de seu trabalho, todo ele pontuado de um regionalismo que nunca se vergou aos modismo impostos pela cultura estrangeira. Suas sinfonias e concertos (As << Brasilianas >> são exemplares modelos de modernidade brasileira) falam dessa não submissão. A ampulheta do tempo cristalizou um processo de criação muito especial de um compositor que se confessa incapaz de reescrever um compasso, já que suas idéias vêm monoliticamente acabadas. (<< Eu disse à minha filha outro dia que deve haver um gatilho que desencadeia essa coisa de música na minha cabeça, mas que eu ainda não descobri >>). Também deve-se mencionar que todo o seu talento foi beneficiado por uma passagem histórica pela Rádio Nacional, onde liderou uma equipe de grandes maestros e músicos e captou, com sua agudíssima sensibilidade, todo um momento histórico que marcaria indelevelmente a própria essência da música brasileira, consubstanciada no período de 40/50 - década áureas daquela emissora. Sua aversão a rótulos não lhe permitiu aderir ao dodecafonismo - porque sua visão política da música lhe abriu um leque de opções bem maiores. Resultou que Radamés acabou sendo mesmo um movimento e uma escola, sem disso se aperceber. No trato das orquestrações que por oficio fazia em quantidade, percebeu que, à maneira do jazz, havia tipicidades na música brasileira até então inexploradas no campo em que atuava. O gênio de Villa-Lobos, que ele reconhece enfaticamente, estava dirigido para um universo. Se Sátiro Bilhar e Nazareth foram poderosas fontes para Villa-Lobos, Radamés viu em Pixinguinha (sobretudo o flautista, frisa bem) e Jacob do Bandolim dois exemplos preciosos. E esse filão ele o levou para seus concertos, explorando instrumentos utilizados quase que exclusivamente na área da música popular. Se Villa-Lobos dignificou o violão com seus estudos, prelúdios, no concerto e em infinitas peças mais, não há por que desconhecer os trabalhos de Radamés feitos para Edu da Gaita, Chiquinho do Acordeon e Jacob do Bandolim. Seu processo criativo o direciona para muitas partes: do regente ao compositor, Radamés não conseguiu demolir o jovem gaúcho que veio tentar a sorte no Rio de Janeiro, depois de estudar com Guilherme Fontainha, e viu um dia sob o batuta do Maestro Francisco Braga executando o Concerto n.º 1 de Tchaikwisky. Seu piano tem toda uma marca registrada, que seus 74 anos só fizeram aprimorar. Hermínio Bello de carvalho escreveu há pouco tempo: << os componentes de sua personalidade se agregam e desagregam como um caleidoscópio que tente sempre a recriar novas e surpreendentes formas multicoloridas. Diria: uma usina de sons >>. FOTO LEGENDA- Um grupo instrumental de novas propostas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
1
07/06/1980

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