Mauriat segura a peteca orquestral
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de agosto de 1985
Houve época em que mensalmente tínhamos bos discos orquestrais: Mantovani, Lawrence Welk, Billy Baughan, Kostalenetz, Arthur Fiedler, entre outros que sabiam conduzir grandes formações interpretando músicas de sucesso. Os maestros estão morrendo - ou aposentando-se - de forma que os discos de música orquestral também rareiam. Até Ray Conniff, que, nos anos 50, trazia um som gostoso com metais e vezes (vez por outra tendo convidados especiais como Billy Butterfield) torna-se cada vez mais elétrico.
Ainda bem, entretanto, que Paul Mauriat continua em forma. Falem o que quiserem, mas este francês segura a peteca com senso comercial e artístico. Semestralmente reúne as músicas de destaque da temporada, prepara arranjos suaves e grava com músicos de estúdio - que formam, na verdade a sua "grande orquestra". Vex por outra ainda comete produções especiais, voltados aos países em que têm maior público - como no Brasil.
O disco semestral de Mauriat ("Transparence", Polygram), traz o repertório de acordo com o figurino: apenas três composições próprias (ele sabe ser econômico) - a que dá título ao disco, "All Lif Long" e "Alla Figaro", e êxitos do momento como "Like A Virgin", "No More Lonely Nights", (Paul MacCartney), "Amapola", (que retornou a ser incluída em "Era Uma Vez na América"), "Easy Lover", "When The Rain Begins To Fall" e, naturalmente, "I Just Called To Say I Love You", de Wonder. Um disco suave e agradável: Como sempre...
LEGENDA FOTO - Paul Mauriat: sempre suave.
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Nelsinho Motta voltou da Itália - onde permaneceu alguns meses - e foi convocado para produzir a trilha de "Armação Ilimitada", produção da Globo. E com um título deste, deitou e rolou com a sua terna preocupação up to date de música jovem. Assim roqueiros como Kiko Zamblanchi ("No Meio da Lua"), e Herbert Richers Jr. ("James Dream"), um achado de título), funkeiras como Sandra Sá ("Cai Fora", e "Rap arrepiado"), e até a camaleônica Marina ("Por Querer", faixa de seu novo lp, recém-lançado pela Polygram) intercalam-se a grupos como Ultraje a Rigor ("Nós Vamos Invadir Sua Praia"), Txã ("Raptar Você"), Gang 90 ("Rossas & Tigres"). O disco ainda tem gente nova como Celso Fonseca ("Jovens do Meu Tempo"), e Fred Nascimento ("Romance Internacional"), nesta armação produzida bem de acordo com as regras do mercado. Ou seja: um projeto para consumo one way.
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Antecipando seu próximo lp ("Simples Situation")/ Opus Colúmbia), Marcos Sabino saiu com um disco mix com "Dança das Horas" e "Musa Tropical". Apesar da linha jovem, Sabino já não é tão moço assim: está há mais de 10 anos na estrada, período em que passou por várias fábricas... e fases.
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Música paraguaia é sinônimo de guarânia e harpa - que por sua vez lembra Luiz Bordon, há 25 anos com um mesmo disco ("Natal da Cristandade" Chantecler), sendo reeditado. Mas não é só de Bordon que vive a música paraguaia e outro músico daquele país que há 23 anos vive em São Paulo, Oscar Nelson Safuan, nos surpreende agradavelmente com "Avanzada". Pretendendo ser "La Nueva Música Paraguaya", Safuan traz composições próprias em arranjos que ficam numa espécie de bossa-nova guarani. Foge do estilo tradicional, mostra boas idéias e tem inclusive a participação especial de Ramon Cacere numa faixa ("Panambi Hu"). Nelson Safuen [é] autor de todas as músicas e fez os arranjos. Como o disco visa atingir principalmente o mercado paraguaio (onde não existem fábricas de discos) e o texto da contracapa é em espanhol. Edição da Continental, agora com novo logotipo e projetos de redimensionar o seu catálogo.
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Embora desejando dar uma sacudida em seu acervo e elenco, a Continental - gravadora que tem enfrentado as maiores crises nos últimos anos - ainda continua a ter o básico de seu faturamento no repertório [urbano]. Por isto mesmo está lançando um novo lp de Manuelito Nunes (Manoel Adão Nunes da Silva, 42 anos) compositor de inúmeros sucessos sertanejos: "Rastros na Areia" e "Espinheira", com Duduca e Dalvan; "Noite de Devaneio" e "Estrada Sem Saída" com Matogrosso e Mathias, além de "Canarito Dobrador", que deu um prêmio ao garoto Donizete num festival no México, Manoelito faz dupla com Nazaré (Benedito Aparecido Leite (Piracicaba - 1857), que antes desta junção vinha fazendo carreira solo, tendo inclusive conseguido uma premiação no Festival Arizona). A faixa-título do disco é "O Grande Juízo", tão melodramático quanto "O Direito de Nascer", que Manoelito explica como "uma posição contra o aborto". Aliás, emto todo o disco, com canções rancheiras e guarânias a dupla insiste em temas religiosos e espiritualistas - visando um mercado amplo: os crentes.
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