O melhor jazz com Ella e as outras belas vozes
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 18 de novembro de 1989
Ouvir o bom jazz deixou de ser privilégio aos que possuíam condições de adquirir os cada vez mais caros discos importados. Claro que ainda falta muito para chegarmos a ter edições conjugadas ao que sai de melhor nos Estados Unidos e Europa (leia-se França, o país que mais cultua o jazz no Velho Mundo) mas, considerando que numa realidade economicamente terrível como neste Brasil de final de década, os discos de jazz que vem sendo colocados nas lojas, com maior ou menor promoção, são estimulantes - e representam uma opção para que os interessados formem, de acordo com suas posses, coleções básicas.
O mercado, mesmo com todas as dificuldades comerciais, estimula até que a Polygram lance uma caixa de 5 elepês, com a divina Ella Fitzgerald interpretando a obra de Gershwin, produzida há mais de 20 anos por Norman Granz, da Verve, e que nos EUA, há muito já teve reedições em laser, aliás como toda a obra de Ella, que aos 71 anos, praticamente cega e com graves problemas de saúde, continua a ser cultuada como a maior legenda viva do jazz vocal feminino.
A propósito, a EMI-Odeon - que também vem fazendo ótimas edições do selo Blue Note - há dois meses colocou no Brasil uma montagem feita por Francisco Rodrigues ("Ladies With Soul"), na qual misturou mitos do passado e cantores do presente, com bastante equilíbrio. Assim abrindo com a maior das cantoras de todos os tempos - Billie Holiday (1915-1959) com sua interpretação de "Blue Monn" e sem ficar nos limites rígidos do Soul, o álbum esvoaçava com boas cantoras, não obrigatoriamente do gênero que dá título ao álbum. Por exemplo, Judy Garland (1922-1969), nunca foi uma cantora soul - mas sua voz esplêndida valoriza "How long has this been going on", enquanto Peggy Lee, 67 anos está esplêndida em um standart de Gershwin, "The Man I Love", enquanto Ella recria "Born To Loose" (F. Brown) e Dinna Shore "My Funny Valentine". Cantores mais jovens também compareceram - Kim Carnes ("Will Your Remember He"), Grace Jones ("Victor Should Have Been e Jazz Musician"), Tina Turner ("Let it be", num registro antigo, já que faz dueto com ex-marido Ike Turner), Natalie Cole ("When I Fall in Love"), Nancy Wilson ("Free Again") e Shirley Bassey ("If you go Away").
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