Cascavel, a Hollywood
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 27 de abril de 1980
Enquanto o lojista Arlindo Ponzio, mesmo vendo poucas possibilidades de recuperar os quase Cr$ 2 milhões que investiu na produção de "Caminhos Contrários", monta "Era Uma Vez Dois Detetives", utilizando as "sobras" daquela produção, outro filme amador está sendo rodado no Paraná. Desta vez é Décio Furtado, da "Claben Filmes Ltda", que filma em Cascavel "Adeus, Mariana", com duração prevista de 90 minutos.
Até agora já fez cerca de 30 minutos, e a previsão é de concluí-lo em 4 meses. Prevê [seqüências] também em municípios vizinhos - Toledo, Palotina, Rondon e São Miguel do Iguaçu. O tema do filme é rural, a partir de uma toada.
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No ano passado, Alex Prado, que já tem uma filmografia de vários bang-bang, rodou no Sudoeste "A Vingança de Chico Mineiro", que conseguiu concluir, conforme mostra um folheto, por "gentileza das artes gráficas Santa Cruz", onde a sinopse é apresentada como "prefácio" e pela qual se deduz de o filme foi inspirado em "7 temas dos mais famosos compositores sertanejos", um dos mais famosos compositores sertanejos", um dos quais é "Goia". O diretor é Rubens da Silva Prado e a principal intérprete feminina, uma ex-rainha do trigo do Paraná; a loIra Madalena Bitencourt. O filme foi rodado em Cascavel, Catanduva, Roncador e Vila Velha. A fotografia é de Alcides Caversan e o tempo de duração 88 minutos. Será lançado dia 5 de maio, no Avenida.
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O que o lojista Arlindo Ponzio está fazendo em termos de cinema tem algumas características inéditas. Totalmente inexperiente, rodou muito mais material do que seria necessário, pois a falta de continuidade "Caminhos Contrários" e o roteiro mal estruturado não possibilitaram o aproveitamento nem da metade das cenas feitas. Assim, decidiu fazer um novo filme - cujos resultados são imprevisíveis, e, inclusive preocupam os atores e atrizes que participaram de "Caminhos Contrários". Aliás, a partir de seu terceiro longa-metragem, Ponzio - elogiável em seu idealismo, mas condenável por comprometer atores e atrizes em uma produção feita sem qualquer esquema profissional - terá dificuldades para contratar os intérpretes de maior consciência profissional. Basta dizer que enquanto Raphael Pacheco, que apesar de toda a indigência do roteiro de "Caminhos Contrários" conseguiu ainda salvar-se do ridículo, recebeu apenas Cr$ 27 mil por quase 3 meses de trabalho, Cláudio Cavalcanti, numa "participação especial", filmada durante um único dia, num escritório do Centro Comercial Everest, recebeu mais de Cr$ 50 mil. E quem assistiu a "Caminhos Contrários" é unânime: o pior ator em cena é Cláudio Cavalcanti, tão caricato que perto dele, os mais humildes amadores que Ponzio e equipe convocaram para seu filme são merecedores de elogios.
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Enquanto o nosso cinema regional capenga com experiências que poderiam ser feitas em Super 8, para não se desperdiçar tanto dinheiro, no Rio, o jornalista curitibano Tato Taborda, há anos radicado naquela cidade, conclui um documentário sobre o maior mito da capoeira da Bahia: "Besouro", cujo centenário está sendo comemorado. Segundo o "Informe JB", "Besouro", tido no começo do século como defensor dos fracos e oprimidos, dizia-se ter o corpo fechado contra metal. Só foi morto com uma faca feita com palmeira tipum. E o ator negro, Mário Gusmão, que faz o personagem, também tem a sua história: descendo do último rei do Daomé.
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