Com a capoeira, Tato Taborda vai ao filme
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 10 de agosto de 1980
Quem diria! Tato Taborda, curitibano de muitas estórias, ex-colunista da "Última Hora" no Rio de Janeiro, é mais um cineasta brasileiro que primeiro vai ao Exterior, para só depois voltar ao Brasil. Na semana passada, "O Globo" lhe dedicou matéria de um quarto de página, enviada por Albino Castro Filho, correspondente em Roma. E que anuncia: "Vem ai o primeiro herói verdadeiramente nacional para crianças - ou se quiserem, mais uma tentativa de se criar um herói nacional. É um genuino "Bahia bang bang". O filme "Vai à luta", que marca a estréia do jornalista paranaense Tato Taborda como diretor de cinema, pretende ser exatamente isso. Trazendo para o cinema a figura do herói popular do inicio deste século, o capoeirista baiano Besouro. Yaborda, um pacato curitibano de 42 anos, tem uma proposta ambiciosa: disputar não só o mercado brasileiro, mas também sul americano e africano, que hoje, como se sabe, é dominado pela eficiente indústria de Homg-Kong".
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Há alguns meses registramos o fato de Tato Taborda estar fazendo um filme sobre o lendário Besouro. Mas ao invés de um documentário acabou fazendo um longa-metragem. Rodado em apenas 17 dias, investimento de US$ 50 mil ("devo confessar que estou no prejuízo total", diz Tato), "Vai à Luta" participou do 10o Festival Internacional do Cinema Infanto Juvenil).
Com "Vai a Luta" Taborda pensa em revalorizar a capoeira, que após viver quase 4 décadas de semiclandestinidade pode se impor. Ao ponto de "Le Monde" dedicar reportagem de uma página a esta luta-dança, nascida na Bahia, mas inspiradas nas velhas danças e artes marciais trazidas da África pelos escravos. Foi Getúlio Vargas, em pleno Estado Novo, que, através de um decreto, permitiu que a capoeira pudesse ser praticada livremente - quando, paradoxalmente, outras lutas orientais já tinham até uma certa tradição no Brasil. A personalidade do capoeirista "Besouro" entusiasmou a Tato, que diz: "Besouro" era capaz de enfrentar a cavalaria para defender o povo. Ex-lavrador, saveirista, baiano de Santo Amaro da Purificação, diz a lenda que Besouro tinha o corpo fechado contra metal, escapando de diversos atentados a bala. Só morreu com um golpe de faca feita com palmeira ticum. Besouro completaria este ano 100 anos".
Com uma hora e dez minutos de duração, "Vai à Luta" tem uma trama: Besouro (interpretado por Mário Gusmão), o melhor capoeirista da Bahia, vive em um bairro pobre de Salvador. Ele tem 3 amigos: Martelo, companheiro desde a velha guarda (papel entregue a Ubirajara de Almeida, ou Acordeão, tricampeão brasileiro de capoeira); Áureo (Sérgio Dias) e João (Neneco, sobrinho do capoeirista Bimba, e bicampeão baiano de capoeira). Em torno dos capoeristas, 3 meninos e 2 meninas participam da aventura "Martelo" é dono de uma barraca na tradicional festa do Bonfim e é ele que tem em primeira mão a notícia de que a festa não será realizada. Esta expectativa leva os capoeiristas, e principalmente os meninos, a descobrirem toda a trama armada por um grupo de terroristas, de impedir a festa popular. Taborda faz o papel do chefe terrorista. E diz: "É lógico que no final, como em todo filme honesto de aventuras, os heróis vencem e os bandidos são derrotados. Derrotados em termos".
Tato produziu, escreveu, dirigiu e atuou no filme. Seu filho, TatoJr. 20 anos, fez a música. Entusiasmado com as perspectivas do personagem, Taborda anuncia que vai filmar mais 3 historias de seu herói. Um tratará da especulação no mesmo bairro do Nordeste de Amaralina, onde se ambienta "Vai à Luta", e terá a participação de duas escolas de samba do lugar. A segunda abordará o que classifica de "invasão cultural": sempre na linha bangue-bangue Tato quer misturar Máfia/Corsa francesa/capoeiristas/ sambistas em um caso de sequestro. Finalmente, a última história narrara a morte de Besouro que enfadada com a vidinha no Nordeste de Amaralina, muda para a cidade e acaba assassinado.
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Tato Taborda (Pretextato Taborda Neto), mesmo que não consiga recuperar os Cr$ 2.750.000,00 já investidos em "Vai à Luta", não tem razões financeiras de se preocupar: é herdeiro de alguns dos mais valorizados sobrados da Rua XV de Novembro, onde sua família já teve praticamente todos os prédios. Filho do advogado Pretextato Taborda Júnior (1899-1955), primeiro diretor do Banco Mercantil de São Paulo, em Curitiba, secretário da Fazenda no governo Bento Munhoz da Rocha Neto e que era também pintor nas horas vagas, "Tatinho" - como é chamado, formou se em direito pela Universidade Federal do Paraná, mas preferiu o jornalismo. Em 1963, quando o então senador Amaury Silva foi convocado pelo presidente João Goulart para o Ministerio do Trabalho, ele foi um dos vários paranaenses guindados à assessoria direta de Amaury. E após a queda do governo Goulart, a exemplo de outros assessores, também preferiu ficar no Rio, onde fez jornalismo, entre outras atividades. Tato é neto do velho Pretextato Pena Forte Taborda Ribas (1869-1937), primeiro presidente do Banco do Estado do Paraná e de uma das famílias mais antigas de Curitiba. Tem uma irmã, Julia, que também reside no Rio e nenhum de seus parentes, acredita que retorne a Curitiba. A não ser para lançar a sua fita, sobre a qual pouco se falou até agora.
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