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Aramis

Um centro documental das lutas sindicais

Quantos sindicatos existem no Paraná? Quais os endereços? Quem são seus dirigentes? Perguntas aparentemente simples. Mas na hora de encontrar respostas, as coisas se complicam. Teoricamente, a Delegacia Regional do Trabalho deveria ter fichários atualizados de todas as organizações profissionais. Entretanto, ao menos no que diz respeito a endereços há claros [raros], pois se ao receber a carta sindical, o primeiro endereço é comunicado à DRT, posteriormente, se a entidade muda-se, o endereço não é comunicado e fica-se sem saber o paradeiro da organização. Em relação aos dirigentes, embora obrigatoriamente deva existir uma comunicação imediata sempre que há eleições, também não há facilidade de localizar quem preside cada sindicato. Partindo desta realidade, duas professoras de História, preocupadas em levantar a memória sindical do Estado, tiveram uma idéia que mereceu a imediata aprovação do secretário Rubens Bueno, do Trabalho e Ação Social: a edição de um Catálogo de Entidades Sindicais. xxx Só dois Estados possuem catálogos semelhantes - São Paulo e Minas Gerais. Em São Paulo, há 1.167 sindicatos - entre patronais e de empregados, 57 federações, 14 associações e 13 confederações, conforme a publicação feita no ano passado pela Secretaria de Relações do Trabalho, num volume de 270 páginas. No Paraná há mais de 700 sindicatos e 9 federações, no primeiro levantamento das professoras Silvia Pereira de Araújo e Alcina Lara Cardoso, que propõe este catálogo importantíssimo, prático, mas até agora inexistente. Dentro de 90 dias, o secretário Rubens Bueno, promete a sua edição. De princípio, terá nomes e endereços das entidades. No futuro, talvez também os nomes dos presidentes de cada uma. xxx Professora de Sociologia no curso de Ciências Sociais, a autora de "Eles: A Cooperativa; Um Estudo Sobre a Ideologia da Participação" (Co-edição Projeto / Secretaria da Cultura do Paraná, 212 páginas, 1982), Silvia Pereira de Araújo uniu-se a Alcina Lara Cardoso, carioca, desde 1968 em Curitiba, professora de História do Brasil, ambas da Universidade Federal do Paraná, para escrever um livro sobre o transcurso do século do "Dia do Trabalho" ("1º de Maio: 100 Anos de Solidariedade e Luta", 1986). A parceria deu tão certo que se animaram a ampliar as pesquisas para um novo livro sobre a imprensa sindical no Paraná e constataram, então, a inexistência de material referencial sobre o sindicalismo no Paraná. Como em tantos (todos, praticamente) setores, a memória sindical é mínima. Os próprios sindicatos não dispõem de arquivos históricos, sequer de suas diretorias anteriores. Raros os que possuem arquivos com recortes de jornais que possibilitam uma reconstituição dos movimentos reivindicatórios. Documentos também faltam e fotografias de antigos de dirigentes são raras. Assim, as professoras Alcina e Silvia, inspirando-se no exemplo de São Paulo, partiram para a criação do Centro de Memória Sindical do Paraná. Independente, sem ligações político-partidárias, a unidade de pesquisa nasce com apoio de 9 federações e adesão de 80 dos sindicatos do Paraná. Fisicamente, está instalado numa sala do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Papel, Papelão e Cortiça, cujo presidente, Luiz Ary Gin, entendeu a importância do trabalho que Silvia e Alcina querem desenvolver. Em termos práticos, até agora o Centro gravou um depoimento com registro em fita e vídeo, de um dos mais velhos dirigentes sindicais do Paraná, João Batista Teixeira, 83 anos, do Sindicato dos Estivadores de Paranaguá, que na tarde de 23 de maio, durante mais de três horas, relembrou importantes fatos não só das lutas dos estivadores de Paranaguá, nos anos 20 e 50, mas também traçou um painel do movimento sindical do Paraná, especialmente nos anos do Estado Novo. Lúcido, ótima memória, o velho Teixeira citou inúmeros outros companheiros, muitos dos quais, ainda vivos, já estão sendo contatados para darem seus depoimentos. Aliás, Alcina e Silvia estão com uma lista de 30 nomes de pessoas ligadas ao sindicalismo para serem entrevistadas o mais breve possível. Para que os depoimentos sejam tecnicamente corretos, a professora Oksana Boruszenko, especialista em história oral, dará um curso a respeito, formando assim "entrevistadores" para este trabalho. Há alguns anos, quando o Museu da Imagem e do Som, dirigido por Marcelo Marchioro e posteriormente, César Fonseca, já preocupava-se em registrar depoimentos, Oksana também havia auxiliado na gravação de várias entrevistas. xxx Para dar ao Centro de Memória Sindical do Paraná - o segundo criado no Brasil (só em São Paulo existe unidade semelhante), uma maior abrangência, as professoras Silvia e Alcina colocam-se apenas como diretoras técnicas, sendo formado um amplo conselho e uma diretoria executiva. O presidente é o veterano Fritz Bassfeld, 71 anos, presidente também da Federação dos Aposentados do Paraná, um dos pioneiros do rádio e da publicidade, e que continua em forma: todas as noites (22:30 horas, Rádio Cidade), apresenta "A Voz do Trabalhador", ao que consta, único programa de difusão sindical no rádio brasileiro. Fritz, com sua voz personalíssima, vivência em inúmeros prefixos da Capital, dá hoje uma cobertura radiofônica ao movimento sindical, como, no ano passado, fazia Camargo Amorim - primeiro profissional a se voltar a este setor, enquanto Pery de Oliveira, em "O Dia", e mais tarde na "Última Hora", escrevia sobre nossos sindicatos. Hoje, Pery reside em Guarapuava, como homem de confiança do prefeito Nivaldo Kruger, de quem é assessor há muitos anos. xxx Fazendo o Doutorado em História na Universidade de São Paulo, Silvia e Alcina trabalham em duas teses de temas próximos, nas quais tem como orientador o professor José Marques de Mello, autor de uma dezena de livros sobre comunicação. A tese de Alcina será sobre "Imprensa Sindical e Conjunturas Grevistas", enquanto Silvia analisará "A Imprensa Sindical Frente às Conjunturas Políticas". Devido a este trabalho, as duas mestras estão levantando tudo que existe publicado sobre sindicalismo no Paraná, num trabalho exaustivo e que, em si, já constitui grande parte do acervo do Centro de Memória Sindical.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
12/07/1987

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