O Centro da Memória quer os documentos de trabalho
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 09 de outubro de 1988
O juiz José Montenegro, presidente do Tribunal Regional do Trabalho, tem uma oportunidade de, às vésperas de sua aposentadoria, tomar uma atitude que o fará merecedor dos maiores elogios. Basta que despache favoravelmente o pedido que o Centro de Memória Sindical do Paraná fez para que toda a documentação referente a questões trabalhistas, num período de 18 anos, ao invés de ser incinerado - seja doado a esta instituição que se dedica a estudos e pesquisas sobre o movimento operário em nosso Estado.
Pela lei 7.627, de 10 de novembro de 1987, os documentos com mais de cinco anos devem ser destruídos e assim milhares de processos que contém todas as questões trabalhistas que transitaram pela Justiça do Trabalho do Paraná, entre 1937/1965, serão destruídos.
As professoras Alcina Lara Cardoso e Silvia Araújo, idealizadoras, fundadoras e diretoras do Centro de Memória Sindical do Paraná, ficaram preocupadas com esta notícia. Afinal, esta documentação pode possibilitar inúmeros estudos e análises dentro dos projetos do Centro - e de outras instituições ou pesquisadores independentes - de forma que é injustificável a sua destruição. A Delegacia Regional do Trabalho, a quem as professoras Alcina e Silvia se dirigiram inicialmente, já opinou favoravelmente, mas a decisão final está nas mãos do juiz Montenegro, em sua autoridade de presidente do TRT.
Professoras do Departamento de História da Universidade Federal do Paraná, Alcina de Lara Cardoso e Silvia Pereira de Araújo, vêm desenvolvendo um trabalho admirável. Há dois anos publicaram "1º de Maio - Cem Anos de Solidariedade e Luta" (Editora Beija Flor, 110 páginas), resultado de dois anos de pesquisas em arquivos de jornais, entrevistas e outras fontes para estabelecer um roteiro das lutas operárias no Paraná.
A repercussão da obra - primeira a fazer justiça a líderes operários de grande atuação no Estado e que são esquecidos da História Oficial - animou Alcina e Silvia a criar o Centro de Memória Sindical do Paraná, com a finalidade de reunir, disciplinadamente, todo o material relacionado ao sindicalismo - e assim como promover pesquisas, inclusive gravações de depoimentos de pessoas que estiveram relacionadas ao movimento sindicalista.
Como resultado concreto deste trabalho, já foi publicado em maio último o "Calendário do Trabalho", com excelente apresentação, ilustrado com fotos históricas e lembrando efemérides das lutas dos trabalhadores. Na apresentação deste calendário - que vale pelo seu significado, torna-se obra de arquivo, referencial, é salientado o objetivo do Centro de Memória Sindical: "O nosso compromisso com a história procura dar sentido à existência individual, apontando para os feitos coletivos.
Acreditamos que reconhecer-se no passado cria laços com a mudança, sem perda da perenidade".
Paralelamente, também foi graças a ajuda do CMSP que a Secretaria do Trabalho e da Ação Social pode editar um documento importantíssimo: "Catálogo de Entidade Sindical do Estado do Paraná".
Coordenado por Ronaldo Lopes Garcia e com pesquisas a cargo de Jane Beatriz Soares e Gicenéia Leoni Martins dos Santos, o catálogo levantou todas as confederações, federações e sindicatos do Paraná, com endereços atualizados, oferecendo assim um índice dos mais oportunos a todos que, direta ou indiretamente, têm que se relacionar com estas entidades. Só os nomes dos presidentes das entidades foram omitidos, já que pela própria rotatividade dos cargos, seria impossível fazer uma edição atualizada. Entretanto, esta é informação que um simples telefonema à entidade específica resolve.
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O Centro de Memória Sindical do Paraná tem como presidente o Sr. Luiz Ary Gin e Ruy Simon Paz na vice-presidência. Entretanto, o trabalho técnico é orientado pelas professoras Alcina e Silvia que, dependendo das condições, pretendem fazer novas pesquisas no decorrer dos próximos meses. Instalado inicialmente junto ao Sindicato dos Empregados nas Indústrias de Papel e Papelão, agora o Centro passou para o Sindicado dos Desenhistas Profissionais do Paraná (Rua 13 de Maio, 644).
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