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Aramis

O mistério do centro do Paraná na terra carioca

Na próxima reunião do Conselho do Patrimônio Histórico-Artístico do Paraná, o professor Oldemar Blasi, 69 anos, desde 1954 integrante daquele colegiado e seu atual vice-presidente, vai devolver, sem parecer, um processo que lhe foi entregue há alguns meses. Se não fosse uma pessoa educada e cordial, o respeitado antropólogo e ex-diretor do Museu Paranaense poderia até fazer um despacho irônico, escrevendo que "não se sente em condições de emitir o julgamento porque em sua formação não está a de detetive da Scotland Yard, CIA ou mesmo Polícia Federal". Afinal, parece até piada! Há alguns meses, lhe foi encaminhado um volumoso e cabeludo processo sobre uma nebulosa venda ocorrida há muitos anos de um patrimônio do Estado, no Rio de Janeiro - e que até hoje nunca foi devidamente esclarecida. Acontece que embora represente um patrimônio oficial - (é dos mais valiosos) - sua investigação cabe muito mais à Procuradoria do Estado ou mesmo à assessoria jurídica da própria pasta da Cultura, cujo titular aliás é um jurista de renome nacional. xxx A história, sem detalhes e nomes - que para serem obtidos necessitariam consulta ano processo - começou ainda nos anos 50, quando um grupo de paranaenses radicados no Rio de Janeiro, saudosos dos pinheirais da provinciana Curitiba daquela época começaram a promover reuniões para divulgar culturalmente o nosso Estado. Idealistas, sem outra intenção do que manter "acesa a chama do paranismo em terras cariocas" - como diz o castrense Ismail Macedo, 68 anos, ex-exibidor, o fato é que o chamado Centro de Estudos Paranaenses reunia-se em residências particulares e, depois, numa pequena sede alugada. Na época o governador era Moisés Lupion. O Paraná vivia uma época de apogeu do café e o governo decidiu que a sede paranaense deveria ser um patrimônio próprio. Assim, todo um andar num edifício da Rua 24 de Maio, no centro do Rio de Janeiro, foi adquirido e doado para o Centro. xxx Acontece que o núcleo original dos que dirigiam o Centro Paranaense foi se desfazendo - devido à morte de alguns, mudanças de outros ou mesmo desinteresse. A situação acabou se invertendo: pessoas que nada tinham em relação ao Paraná, a não ser objetivos materiais, aproximaram-se a acabaram ocupando a diretoria. Resultado: numa misteriosa assembléia geral foi "aprovada" a venda do valioso imóvel para a Companhia Siderúrgica Nacional, que passou a ocupá-la como parte de seus escritórios. Três paranaenses - Ismail Macedo e os jornalistas Vinícius Coelho e Juril Carnascialli, foram dos primeiros a, irritados com a perda do patrimônio, denunciar os fatos. Só que entre a denúncia e providências legais passaram-se anos, com um jogo de empurra na responsabilidade e que só fez com que as coisas se tornassem mais obscuras. xxx Rolando de administração para administração o processo acabou chegando nas mãos de Oldemar Blasi. O imóvel, embora de valor, não chega a ser um patrimônio histórico, de forma que a questão de sua alienação cabe ser investigada por um órgão de ação mais direta - como a própria Procuradoria Geral do Estado. Como diz Oldemar: - Não se trata, enfim, de uma questão específica da História e do patrimônio artístico. A não ser que, pela demora com que as coisas permaneceram, tenha se entendido que o processo virou arqueológico... xxx O fato é um só: até hoje não ficou claro quem, quando e por que o patrimônio foi vendido. O mais importante: quem embolsou o valor da transação? LEGENDA FOTO - Oldemar Blasi: processo para detetive
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
05/03/1989

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