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Memória de Paulo para a história paranaense

Dentro da diversificação que caracteriza o projeto Memória História Paranaense, um dos segmentos mais importantes é a gravação de depoimentos dos homens que governaram o Estado. E um dos registros mais aguardados era o do ex-governador Paulo Pimentel, hoje deputado federal e que foi eleito para o Palácio Iguaçu, substituindo a Ney Braga em 1965. Revelações para a história do período em que administrou o Paraná - responsável por um grande salto de progresso e desenvolvimento do Estado - bem como das perseguições sofridas após ter deixado o governo, fazem do depoimento do deputado Pimentel, um documento para os historiadores. Evidentemente, pela própria extensão dos fatos dos quais tem sido personagem e testemunha, o depoimento de uma personalidade política como Paulo Pimentel - a exemplo de seu antecessor, Ney Braga - não se esgota numa primeira gravação. Mas é um ponto de partida, registrado em som e imagem, com um aprofundamento que, nas muitas entrevistas no rádio, televisão e imprensa, nem sempre é possível. xxx Das muitas revelações, até agora inéditas, que Paulo Pimentel fez à equipe de jornalistas que, sob coordenação de João de Deus Freitas Neto, participa do projeto, uma das mais interessantes, diz respeito a sucessão do presidente Castelo Branco (1897-9167) em março de 1967. Já como governador do Paraná, Paulo surpreendeu-se quando recebeu ainda em 1966 um telefonema do general Arthur da Costa e Silva (1899-1969) ministro da Guerra. Embora conhecesse muitos dos ministros do primeiro governo da Revolução, até então nunca havia se encontrado com Costa e Silva. Na manhã em que viajaria a Brasília, recebeu um telefonema, em sua casa, do então comandante da 5ª Região Militar, que pedia para aguardá-lo antes de viajar. Poucos minutos depois chegava o General Comandante, acompanhado de outros oficiais superiores. Os quais, comunicaram ao governador que, "estavam apoiando Costa e Silva para a Presidência da República - na sucessão de Castelo". Como não estava ligado às negociações políticas que se procediam nos altos círculos militares da Revolução, Paulo surpreendeu-se com a preocupação do comandante da 5ª Região Militar em lhe comunicar, oficialmente, sua posição em assunto tão delicado. Ao chegar em Brasília, nova surpresa: no aeroporto, o aguardavam de um lado oficiais do gabinete do Ministro do Exército. De outro, assessores do presidente Castelo Branco, que o avisaram de que ele o esperava no Palácio da Alvorada. Uma situação delicada, mas que foi solucionada diplomaticamente: antes de ir para o Ministério do Exército, Paulo foi ao Palácio. Recebido pelo Presidente Castelo Branco, teve uma longa e reservada conversa, sobre aspectos diversos da política. Delicadamente, sentiu que o Presidente via com preocupação o fato de seu Ministro da Guerra - já em declarada campanha para sucedê-lo ter convocado um governador para uma audiência especial. Paulo, entretanto, frisou que não havia solicitado a audiência mas sim fora convocado e apenas atendeu ao Ministro. Castelo, elegantemente, cumprimentou-o e, ao sair, disse: - "Se o Costa reclamar do atraso, diga que fui eu quem o retardou!" xxx Quem reclamou do atraso foi um dos coronéis que serviam no gabinete de Costa e Silva. O Ministro, muito solícito, externou seus projetos de governo e disse a Paulo que via com simpatia, inclusive, a possibilidade de Ney Braga, então ministro da Agricultura, vir a compor sua chapa como vice. Autorizou Paulo a ser o portador desta idéia a Ney. Alguns dias depois, no Rio de Janeiro, na residência do Ministro da Agricultura, no Jardim Botânico, Paulo transmitiu a Ney a reunião de Brasília e a posição de Costa e Silva em relação a sua participação no futuro governo - já que ele, como general (da reserva) e político, representava um ponto de equilíbrio de forças. - "Ney ficou furioso com a idéia. Disse que se fosse para disputar, ele queria concorrer a presidência da República". Paulo Pimentel acrescenta: - "Veja só como são as coisas: se Ney tivesse aceitado ser o vice de Costa e Silva, quando de sua doença, por certo assumiria o cargo maior - já que sendo também um oficial do Exército, não sofreria o veto dos militares, como aconteceu com Pedro Aleixo. Pedro Aleixo (1901-1975), vice-presidente de Costa e Silva, não assumiu a presidência por decisão da junta militar, formada pelo general Aurélio Lira Tavares, almirante Augusto Rademaker, o brigadeiro Márcio Souza e Mello, que, quando da doença de Costa e Silva, em 28 de agosto de 1969, passou a dirigir o Brasil, até a eleição indireta, pelo Congresso Nacional, em 25/10/69, do general Emílio Garrastazu Médici (1905-1985) para a presidência e do almirante Rademaker, ministro da Marinha, para a vice-presidência. De Castelo Branco, outra lembrança contada por Paulo: - "Um dia fui convidado para almoçar com ele no Palácio da Alvorada. Só nós dois numa grande sala. Era a primeira vez que tinha um encontro tão reservado com o Presidente. Após o almoço, o marechal Castelo Branco fez questão de mostrar, detalhadamente, o Palácio. Na biblioteca havia um grande quadro, a óleo, de dona Argentina, sua esposa, falecida há alguns anos. Emocionado, Castelo falou demoradamente sobre a falecida, e chegou às lágrimas. Foi constrangedor, porque não sabia o que dizer para consolá-lo. E vi assim aquele homem de aspecto duro e rigoroso, formação militar, mostrar seu lado humano e extrema sensibilidade. xxx Muitos indagam porque Paulo Pimentel preferiu permanecer no Palácio Iguaçu até o último dia de seu governo, quando teria sido eleito, tranqüilamente, Senador? 18 anos depois, após tantas transformações na ciranda política e do poder estadual, o hoje deputado federal diz: [?] xxx Dentro da diversificação que caracteriza o projeto Memória História Paranaense, um dos segmentos mais importantes é a gravação de depoimentos dos homens que governaram o Estado. E um dos registros mais aguardados era o do ex-governador Paulo Pimentel, hoje deputado federal e que foi eleito para o Palácio Iguaçu, substituindo a Ney Braga em 1965. Revelações para a história do período em que administrou o Paraná - responsável por um grande salto de progresso e desenvolvimento do Estado - bem como das perseguições sofridas após ter deixado o governo, fazem do depoimento do deputado Pimentel, um documento para os historiadores. Evidentemente, pela própria extensão dos fatos dos quais tem sido personagem e testemunha, o depoimento de uma personalidade política como Paulo Pimentel - a exemplo de seu antecessor, Ney Braga - não se esgota numa primeira gravação. Mas é um ponto de partida, registrado em som e imagem, com um aprofundamento que, nas muitas entrevistas no rádio, televisão e imprensa, nem sempre é possível. xxx Das muitas revelações, até agora inéditas, que Paulo Pimentel fez à equipe de jornalistas que, sob coordenação de João de Deus Freitas Neto, participa do projeto, uma das mais interessantes, diz respeito a sucessão do presidente Castelo Branco (1897-9167) em março de 1967. Já como governador do Paraná, Paulo surpreendeu-se quando recebeu ainda em 1966 um telefonema do general Arthur da Costa e Silva (1899-1969) ministro da Guerra. Embora conhecesse muitos dos ministros do primeiro governo da Revolução, até então nunca havia se encontrado com Costa e Silva. Na manhã em que viajaria a Brasília, recebeu um telefonema, em sua casa, do então comandante da 5ª Região Militar, que pedia para aguardá-lo antes de viajar. Poucos minutos depois chegava o General Comandante, acompanhado de outros oficiais superiores. Os quais, comunicaram ao governador que, "estavam apoiando Costa e Silva para a Presidência da República - na sucessão de Castelo". Como não estava ligado às negociações políticas que se procediam nos altos círculos militares da Revolução, Paulo surpreendeu-se com a preocupação do comandante da 5ª Região Militar em lhe comunicar, oficialmente, sua posição em assunto tão delicado. Ao chegar em Brasília, nova surpresa: no aeroporto, o aguardavam de um lado oficiais do gabinete do Ministro do Exército. De outro, assessores do presidente Castelo Branco, que o avisaram de que ele o esperava no Palácio da Alvorada. Uma situação delicada, mas que foi solucionada diplomaticamente: antes de ir para o Ministério do Exército, Paulo foi ao Palácio. Recebido pelo Presidente Castelo Branco, teve uma longa e reservada conversa, sobre aspectos diversos da política. Delicadamente, sentiu que o Presidente via com preocupação o fato de seu Ministro da Guerra - já em declarada campanha para sucedê-lo ter convocado um governador para uma audiência especial. Paulo, entretanto, frisou que não havia solicitado a audiência mas sim fora convocado e apenas atendeu ao Ministro. Castelo, elegantemente, cumprimentou-o e, ao sair, disse: - "Se o Costa reclamar do atraso, diga que fui eu quem o retardou!" xxx Quem reclamou do atraso foi um dos coronéis que serviam no gabinete de Costa e Silva. O Ministro, muito solícito, externou seus projetos de governo e disse a Paulo que via com simpatia, inclusive, a possibilidade de Ney Braga, então ministro da Agricultura, vir a compor sua chapa como vice. Autorizou Paulo a ser o portador desta idéia a Ney. Alguns dias depois, no Rio de Janeiro, na residência do Ministro da Agricultura, no Jardim Botânico, Paulo transmitiu a Ney a reunião de Brasília e a posição de Costa e Silva em relação a sua participação no futuro governo - já que ele, como general (da reserva) e político, representava um ponto de equilíbrio de forças. - "Ney ficou furioso com a idéia. Disse que se fosse para disputar, ele queria concorrer a presidência da República". Paulo Pimentel acrescenta: - "Veja só como são as coisas: se Ney tivesse aceitado ser o vice de Costa e Silva, quando de sua doença, por certo assumiria o cargo maior - já que sendo também um oficial do Exército, não sofreria o veto dos militares, como aconteceu com Pedro Aleixo. Pedro Aleixo (1901-1975), vice-presidente de Costa e Silva, não assumiu a presidência por decisão da junta militar, formada pelo general Aurélio Lira Tavares, almirante Augusto Rademaker, o brigadeiro Márcio Souza e Mello, que, quando da doença de Costa e Silva, em 28 de agosto de 1969, passou a dirigir o Brasil, até a eleição indireta, pelo Congresso Nacional, em 25/10/69, do general Emílio Garrastazu Médici (1905-1985) para a presidência e do almirante Rademaker, ministro da Marinha, para a vice-presidência. De Castelo Branco, outra lembrança contada por Paulo: - "Um dia fui convidado para almoçar com ele no Palácio da Alvorada. Só nós dois numa grande sala. Era a primeira vez que tinha um encontro tão reservado com o Presidente. Após o almoço, o marechal Castelo Branco fez questão de mostrar, detalhadamente, o Palácio. Na biblioteca havia um grande quadro, a óleo, de dona Argentina, sua esposa, falecida há alguns anos. Emocionado, Castelo falou demoradamente sobre a falecida, e chegou às lágrimas. Foi constrangedor, porque não sabia o que dizer para consolá-lo. E vi assim aquele homem de aspecto duro e rigoroso, formação militar, mostrar seu lado humano e extrema sensibilidade.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
28/10/1988

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