O grande guia para a costa brasileira
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 10 de abril de 1987
Num de seus mais belos poemas, Carlos Drummond de Andrade clamava pelo fato de Minas não ter mar. Talvez por isto é que o poeta maior foi viver no Rio de Janeiro há mais de 50 anos. Um outro mineiro, Aloysio Gomes Carneiro, 58 anos, nascido no Sul das Alterosas - em Cambuirian, fez mais: apaixonou-se tanto pelas coisas do Oceano que acaba de publicar o "Guia Mar da Costa Brasileira", pioneira obra de referência e trabalho inédito na América do Sul.
O "Guia Mar" ganhou forma e cores graças ao entusiasmo de outro apaixonado pelo iatismo, o curitibano Ernani Paciornick, 32 anos, que através de sua Mar-Grupo I, está lançando uma edição de 40 mil exemplares (Cz$ 650,00 cada), que somente em quatro noites de autógrafos, no Rio de Janeiro, São Paulo, terça-feira em Curitiba e ontem em Florianópolis, já vendeu quase 3 mil exemplares, "um recorde em termos de lançamento de uma obra de referência.
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"Guia Mar" é para a costa brasileira aquilo que o "Guia 4 Rodas" significa para quem viaja pelas rodovias: informações detalhadas de tudo que existe no Litoral, carta oceânicas, dados específicos para dar a máxima segurança aos que preferem os caminhos do mar. O trabalho é tão detalhado que apenas para a elaboração do primeiro volume do "Guia Mar" - cobrindo 190 milhas entre Búzios a Parati, no Estado do Rio, Aloysio Gomes Carneiro passou quase quatro anos fazendo pesquisas, checando informações e precisando os mapas. Entre a produção, pesquisas e custo industrial o editor Ernani Paciornick diz que investiu US$ 100 mil, mas não se mostra apreensivo: o "Guia Mar" está recheado de anúncios e a sua venda avulsa deve cobrir o custo, dando condições para que o segundo volume - que será mais abrangente, detalhando mais de 50 milhas, no Litoral Sul, possa sair até 1989. O terceiro volume - acima de Búzios e até o Maranhão - vai esperar um pouco: os cálculos mais otimistas prevêem um prazo de pelo menos quatro anos para a produção ser realizada.
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Engenheiro agrônomo da turma de 1955 da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Aloysio Gomes Carneiro há 30 anos já morava em Maringá, trabalhando em projetos agrícolas - tanto é que ali é dono da fazenda Boa Esperança, uma das maiores da região. O plantio do café e a criação de bois e vacas, não o fez perder o amor pelo mar e assim, na baia de Paranaguá, velejava na metade dos anos 50 com o seu primeiro barco, o "Zarzuri", de 25 pés e que seria substituído por outras embarcações maiores, até chegar ao seu atual "Nicolsom", 48 pés, um dos mais bem equipados iates ancorados na marina de Angra dos Reis.
Como outros, Aloysio lamentava a falta de um bom guia da Costa e do encontro com Ernani Paciornick, que há 5 anos edita a revista "Vela/Mar", nasceu o projeto deste guia, que com 254 páginas, formato prático e protegido inclusive com uma pasta de poliester, destina-se a ser tão indispensável numa embarcação como é a bússola.
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Como diz o editor Ernani Paciornick na introdução, o autor, Aloysio Gomes Carneiro é um detalhista, "mundo da indispensável paciência para realizar este trabalho de formiguinha do mar". Aloysio, que além de homem do mar é também apaixonado piloto civil - brevetado há 30 anos - chegou a adquirir um novo avião (Cessna Aerobat) para voar centenas de horas sobre a costa do Estado do Rio, possibilitando que o fotógrafo Sérgio Oreghia e César Caldas operassem milhares de imagens, das quais foram selecionadas mais de 50, em cores, conferindo ao Guia Mar, um atrativo extra, despertando o interesse mesmo aos que não possuem embarcações. Explica Aloysio:
- "Quisemos fazer um guia amplo, que sem esquecer o fundamental lado técnico, se tornasse também uma obra de consulta e referência a todos os interessados".
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O capricho e esmero com que esta obra foi produzida, confirma, mais uma vez, o bom gosto e competência profissional que caracteriza os empreendimentos de Ernani Paciornick. Pioneiro na produção industrial de impressos personalizados de alto nível - executados através de sua "Casa do Convite", a paixão pelo mar, que ele pratica desde seus tempos de adolescente, o levou a fundar, a revista "Mar". De modesta publicação regional, a revista ganhou espaço nacional chegando a toda a costa brasileira. Há três anos, Ernani adquiriu a "Vela & Motor" e assim após 25 números do "Mar", fundiu-se a ex-concorrente, que se encontrava no número 85. Agora, já no número 120, a revista "Mar/Vela & Motor" tem um mercado publicitário, tiragem de 40 mil exemplares e navegava sozinha nos mares da comunicação até há três meses, quando a Editora Abril, de olho gordo nestas ondas de prosperidade, lançou seu "Esportes Náuticos". A presença de uma poderosa editora na mesma faixa não assusta Ernani Paciornick, timoneiro seguro e experiente, que aliado à sua capacidade de trabalho e simpatia pessoal, é hoje conhecido de Norte ao Sul. Um legítimo bicho do Paraná, que saindo de Curitiba mostrou que a falta da praia próxima não impede que projetos aquáticos sejam bem sucedidos.
Hoje, residindo a bordo de seu iate "Marvilha", 40 pés (12 metros), ancorado na Marina da Glória, no Rio de Janeiro, e dali comandando, a sua editora já com escritórios no Rio e São Paulo, além da matriz curitibana, mostra-se satisfeito. Além dos novos volumes do "Guia Mar", tem outros títulos programados, "sempre voltados aos temas do mar, minha grande paixão".
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