O cineasta que se preocupa sempre com o meio ambiente
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de janeiro de 1992
Por sua formação de ecologista, desenvolvida principalmente na Alemanha nos anos 60/70 - quando ali foi estudar e se iniciou profissionalmente no jornalismo cinematográfico e para a televisão, Frederico Fullgraf tem realizado toda uma obra voltada a natureza e ao ambiente. Para documentar o fim das Sete Quedas, em 1982, (*) organizou um "Kuarup" ecológico, documentando-o em belíssimas imagens - que num documentário de 10 minutos, utilizando como texto apenas o poema de Carlos Drummond de Andrade na interpretação da atriz Lota Moncada, mostrou toda a beleza que a Usina de Itaipu destruiu.
Em o "Expropriado" denunciou, com imagens recolhidas na região atingida pelo lago de Itaipu, a expulsão dos lavradores - e o seu futuro incerto na Amazônia. Posteriormente, em "DDD - Dose Diária Aceitável" fez outra contundente denúncia, desta vez sobre os agrotóxicos. Mesmo sofrendo pressões e ameaças de multinacionais, Fullgraf realizou um documentário corajoso, levado a vários festivais e mostras ecológicas no mundo, inclusive no Japão.
Voltando a questão ecológica, de forma séria e não como modismo e marketing político como fazem tantos "ecologistas" de ocasião (inclusive em Curitiba), Fullgraf criou a Fundação Terra, integrou-se a formação do Partido Verde - recusando porém a disputar qualquer cargo eletivo - e desenvolveu um projeto amplo sobre a participação de naturalistas, botânicos e zoólogos europeus no Brasil - que inicia agora com "Expedição Von Martius, a Flora Brasileira 170 anos depois".
Fullgraf, 41 anos, nascido na Alemanha mas curitibano desde a infância - quando seus pais aqui chegaram (**), tem outro projeto, desta vez sobre o botânico francês Augustin Saint-Hilaire (1779-1853), que em sua grande viagem pelo Brasil, a partir de 1816, percorreu demoradamente o Paraná. Para este filme, que gostaria de desenvolver no final de ano, Fullgraf está fazendo um cuidadoso planejamento - e espera que o governo do Paraná e a ecológica administração municipal - que tem esbanjado recursos em "aventuras" cinematográficas das mais desprezíveis - sensibilize-se com o alcance da idéia e lhe ofereçam as mínimas condições de apoio - que até agora foi obrigado a buscar exclusivamente junto a instituições européias.
Notas
(*) "Quarup, Adeus 7 Quedas", organizado por um grupo de ecologistas liderados por Frederico Fullgraf, nas margens das então ainda existentes 7 Quedas do Rio Iguaçu, município de Guaíra, aconteceu na última quinzena de julho de 1982. Três meses depois, uma das maiores maravilhas do mundo desaparecia, quando as comportas de Itaipu, em Foz do Iguaçu, fecharam e o grande lago inundando vários municípios, em suas férteis terras, formou-se entre os dias 13 a 27 de outubro de 1982.
(**) Um dos grandes técnicos da arte gráfica, que durante mais de 20 anos foi responsável pelo setor de mapas e cartões postais da Impressora Paranaense, Willi Fullgraf (Kassel, Alemanha, 23/8/1921 - Curitiba, 21/7/77) chegou ao Brasil nos anos 50, com a esposa Dorothea e o filho Frederico, nascido em Weitzenhausen, Alemanha, em 15/4/50. Aqui, o casal teve um segundo filho, Ulrich Lindolfo, nascido em 4 de julho de 1954, hoje dono do movimentado Café Poesia, na Rua André de Barros/Largo Bittencourt.
LEGENDA FOTO - Fullgraf: refazendo o roteiro dos alemães Martius e Spix, para um grande documentário sobre a presença daqueles cientistas alemães no Brasil entre 1817/20.
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