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Fullgraf vai a briga pelos curta-metragens

Assumindo a presidência da Associação Brasileira de Cineastas secção carioca, o cineasta Frederico Fullgraf, alemão de nascimento, curitibano de coração e há três anos radicado no Rio de Janeiro, está colocando toda sua voltagem e organização germânica para brigar pelos direitos do curta-metragistas. Embora, pessoalmente, seus projetos sejam agora de longas (o semi-documentário "Alemão Batata" e o contundente "A Bomba Pacifica", ambas futuras co-produções com a República Federal da Alemanha), Frederico começa a virar a mesa em defesa do mercado dos curtas. E a briga, pelo visto, será para valer. xxx Pedrilvio Guimarães Ferreira um superadvogado especializado em direitos autorais e que tem entre seus clientes superstars nacionais, está preparando-se para responsabilizar o CONCINE pelo prejuízo que os realizadores de curta-metragens sofreram nos últimos meses. Por questões burocráticas, o Conselho Nacional de Cinema deixou de exigir a exibição dos curtas que obrigatoriamente acompanham os programas de filmes estrangeiros nos circuitos comerciais. Resultado: a arrecadação em favor dos realizadores de curtas foi apenas Cz$ 19 milhões, "quando poderia ser mais de 400 milhões", diz, esbravejando, Frederico. A questão, naturalmente, não vai ser solucionada a curto prazo, mas quem conhece a garra de Fullgraf sabe que no que depender de sua ação os curta-metragens terão seus direitos respeitados. Em Curitiba desde quinta-feira, Frederico aproveitou para reativar contatos com vários amigos na área de cinema, colocando-os ao par de sua ação na ABD-RJ. xxx Em termos pessoais, Frederico também está iniciando uma questão pela defesa de seus direitos. Há poucos mais de um mês, surpreendeu-se ao ler no "Jornal do Brasil", na programação de um novo canal de televisão, UHF, chamado "TV Búzios", que no "espaço ecológico" seria apresentado o primeiro curta que ele realizou no Paraná, quando aqui chegou, ao voltar da Alemanha, há 7 anos: "Quarup - Adeus 7 Quedas". Se de um lado a exibição do lírico filme que fez sobre o final das 7 Quedas, com base no poema de Carlos Drummond de Andrade, poderia lhe agradar, a surpresa de saber que o seu filme estava sendo usado sem sua autorização - e ele foi o produtor-diretor possuindo, naturalmente, direitos sobre a obra - o deixou irritado. A direção da TV Búzios alegou que o seu filme, juntamente com trabalhos de outros cineastas que focalizaram temas ecológicos, havia sido cedido pela Fundação ao RioCine Festival. Só então Fullgraf lembrou-se que há 3 anos, a pedido da diretora daquele festival de cinema que é promovido pela Prefeitura do Rio de Janeiro, havia solicitado uma cópia de "Quarup" para, em vídeo, ser apresentado em mostra paralela da segunda edição do Festival. Frederico cedeu a cópia mas não para ser mostrada no Festival. Assim, como não autorizou seu aproveitamento na televisão de Búzios, não teve dúvidas: o advogado Pedrilvio Guimarães Ferreira está acionando, "por muitos e muitos milhões" - diz o cineasta - o RioCine Festival. Afinal, prudentemente, Frederico havia feito um contrato ao ceder o seu filme - e das seis cláusulas, quatro foram desrespeitadas. - "Portanto, se eu vier a receber a indenização que meu advogado está exigindo, já terei uma boa parte do orçamento para realizar o meu próximo filme. Embora não vise vantagens, é uma questão de coerência: direito autoral tem que ser respeitado".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
14/01/1989

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