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Aramis

Cinecologista Fred agora na guerrilha dos verdes

Mesmo tendo congelado o projeto de longa-metragem "Alemão Batata" - um grande painel sobre a colonização germânica no Sul do Brasil - e com a produção de um média-metragem sobre a questão nuclear em compasso de espera devido do "desmonte" financeiro da Embrafilme, o cineasta Frederico Fullgraf não pára de filmar. Nesta semana esteve em Brusque, fazendo seqüências para um vídeo de média-metragem sobre a história da Igreja Luterana no Brasil. Com fotografia de Roberto Santos Filho, o vídeo está sendo rodado em vários estados nos quais os luteranos têm uma significativa presença. De certa forma, dá seqüência a outro trabalho de Fullgraf em vídeo, também produzido pelos luteranos: "A Última Fronteira?", 50 minutos, rodado em Mato Grosso e Rondônia - e cujas duas primeiras cópias, em betamax, foram entregues na quinta-feira, 20, a dirigentes da Igreja, durante a reunião nacional que se realizou em Brusque. Coincidentemente, o trabalho que Frederico realiza se insere no amplo e abrangente projeto de "Alemão Batata", com roteiro desenvolvido há mais de quatro anos, desde que, retornando da República Federal da Alemanha, residiu em Curitiba. Projeto multinacional em termos de investimento, "Alemão Batata" depende de recursos fortes, a serem levantados na RFA. Igualmente, o média (que poderá virar longa) sobre a questão nuclear - a partir de seu livro "A Bomba Pacífica" (lançado este ano, após anos de pesquisas no Brasil e Alemanha), também teve que ser retardado, já que a Embrafilme, embora aprovando o projeto, suspendeu todos os financiamentos. Nascido na Alemanha, infância e adolescência passadas em Curitiba (e um período no Rio Grande do Sul), Frederico Fullgraf, 37 anos, residiu por 16 anos em Berlim. Ali trabalhando para o rádio e a televisão, fazendo coberturas internacionais, integrou-se a movimentos ecológicos e pacifistas. Quando voltou a Curitiba, em 1983, passou a realizar documentários ligados a este tema: "Quarup, Adeus Sete Quedas", com texto do poema de Carlos Drummond de Andrade, documentando o fim das Sete Quedas, já foi exibido em dezenas de países. Em "Expropriado", denunciou a expulsão dos agricultores das férteis terra do Paraná devido ao Lago do Itaipu e em "Dose Diária Aceitável", de uma forma corajosa, levantou o uso criminoso dos agrotóxicos. Filmando no Interior do Paraná e nas chamadas "novas fronteiras agrícolas" (Mato Grosso, Rondônia, Amazonas, Pará), Fullgraf vem realizando um notável trabalho. "Dose Diária Aceitável" (ou "Veneno Nosso de cada Dia") foi premiado num festival de cinema ecológico na França e levado a encontros científicos na Índia e no Japão. No Rio de Janeiro, onde reside há 4 anos, Frederico Fullgraf integrou-se ao Partido Verde, tendo, inclusive, participado ativamente da campanha do jornalista Fernando Gabeira ao governo nas últimas eleições. Agora, Frederico acaba de ser convidado pelos dirigentes do "Greenpeace", movimento internacional ecológico, a ser um dos coordenadores do escritório no Brasil. Para tanto, amanhã viaja a Buenos Aires para uma reunião internacional de ecologistas ligados ao "Greenpeace". Definido como "Verde Guerrilha da Paz" - título que Gabeira deu ao livro sobre o movimento "Greenpeace" (segunda edição pelo Clube do Livro, 1988, 123 páginas), o "Greenpeace" está crescendo em todo o mundo. Do pacifismo dos primeiros movimentos, os adeptos do "Greenpeace" tem partido para algumas ações, não agressivas, mas corajosas, em defesa do meio ambiente. O movimento se tornou notícia internacional quando, a 10 de julho de 1985, no Porto de Audkland, Nova Zelândia, dois oficiais do Serviço Secreto Francês, penetraram num barco e depositaram duas minas magnéticas. O barco estava pronto para zarpar para o Atol de Mururoa, no Oceano Pacífico, e protestar contra os testes nucleares que a França faria. Uma enorme explosão destruiu o navio. Poucas horas depois, constatou-se a morte do fotógrafo holandês (nascido em Portugal) Fernando Pereira, que se encontrava a bordo. O navio se chamava "Rainbow Warrior", "O Guerreiro do Arco-Íris". A propósito, Gabeira comenta: - "Foi assim, desse modo trágico, que grande parte do mundo viria a conhecer a organização dos "Guerreiros do Arco-Íris", o "Greenpeace". Verde e paz. Paz verde. No entanto, desde o início da década, eles vinham despertando uma nova consciência no mundo. Seu próprio nome já significava um visionário elo entre os "verdes", que defendiam o meio ambiente, e os pacifistas, que se batiam contra a corrida nuclear". No final dos anos 60, 7 mil manifestantes convergiram para Douglas, na fronteira do Canadá Ocidental com os Estados Unidos. Foram protestar contra testes atômicos na Ilha Amchika, dos EUA, situado a 3.800 quilômetros de distância, no Alaska. A manifestação durou 48 horas e as explosões aconteceram. Embora a manifestação fosse pequena para os padrões da época, era muito grande para o movimento no Canadá. Nada ligado ao meio ambiente e à luta pacifista tinha alcançado uma oposição tão maciça naquela país até o momento, em outubro de 1969. Durante sua passagem por Curitiba, no início da semana, Frederico manteve reuniões com dirigentes de movimentos ecológicos, discutindo a criação de um Instituto de Educação Ambiental, que, entre outras unidades, terá um "Eco-Vídeo". Mais um passo num movimento internacional, que cresce cada vez mais - com diferentes formas de comunicação. Por exemplo, está estreando agora em Los Angeles, o filme "Running on Empty", de Sidney Lumet ("Doze Homens e uma Sentença", "Um Dia de Cão"), no qual o roteiro de Naomi Noner - baseado em suas próprias experiências - fala do casal Arthur e Annie Pope, ex-militantes da organização Students for a Democratic Society que, tendo esgotados os recursos de passeatas e protestos contra a guerra, partiram para uma ação direta - e, em 1971, explodiram uma fábrica de napalm sem saber que, lá dentro, estava um faxineiro. Conforme conta a jornalista Ana Maria Bahiana ("Folha de São Paulo", 16/10/88), o filme de Lumet encontra o casal Pope em 1988, com dois filhos, na encruzilhada entre continuar errantes pelo underground - com a família estranha e alegremente unida - ou permitirem que os filhos tomem seus próprios rumos, o que significaria, necessariamente, parar de fugir e se entregar às autoridades. LEGENDA FOTO - Fullgraf, guerrilheiro verde pela paz.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
23/10/1988

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