Um novo pianista e o Quarteto Bessler-Reis
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 22 de outubro de 1988
Luiz Henrique Alves Pinto vem se destacando como produtor cultural. Iniciando modestamente, com produções paralelas e outras atividades, está fazendo da etiqueta L'Art Produções Artísticas, uma etiqueta tão prestigiosa como foi a "Festa", de Irineu Garcia (já falecido e imerecidamente esquecido) nos anos 50/60. Com um marketing realista, buscando patrocínio para o custo-base de suas produções, os discos da L'Art estão também sendo colocados nas lojas após uma primeira tiragem distribuída aos clientes que com os incentivos da Lei nº 7505, os viabilizaram comercialmente. O violonista Sebastião Tapajós, paraense de nascimento mas curitibano de afetividade, foi um dos primeiros virtuoses a gravar para a L'Art, num álbum magnífico, valorizado inclusive por reproduções de gravuras do Nordeste. O pianista Gilson Peranzetta também pode fazer, graças ao bom gosto de Lauro Pinto, um algum magnífico, com belos choros e homenageando ao grande clarinetista e compositor Abel Ferreira (1915-1980). Dois entre muitos outros trabalhos de alto nível, num projeto amplo e que prevê, inclusive, a edição de um elepê com a cantora Olga Praguer Coelho, soprano que fez carreira internacional nos anos 30/50, foi esposa de Andres Segovia e, aos 76 anos, está em forma - como mostrou, há alguns meses, fazendo uma apresentação no Auditório Salvador de Ferrante, quando Hermínio Bello de Carvalho (responsável por sua volta aos palcos no Brasil) aqui veio lançar o livro "O Canto do Pajé".
A última produção da L'Art que chega as lojas é do pianista carioca Henrique Loureiro, interpretando uma das mais belas composições de Franz Peter Schubert (1797-1828) - a Sonata em Si Bemol Maior D.910.
Durante os 4 anos em que estudou piano na Academia Real de Viena, Henrique apaixonou-se pela obra de Schubert, "que domina como poucos pianistas são capazes de fazer", diz Lauro Alves Pinto, acrescentando: "Talvez tenha sido esta a principal razão do entusiasmo demonstrado por Maurício Pollini ao escutá-lo em Milão, em 1974". Como Pollini, todos que já ouviram Henrique Loureiro interpretar Schubert se entusiasmam com a forma da "transparência do som que emite", que citando mais uma vez Lauro Pinto, "flui como se tudo fosse extremamente simples: ele toca com inteligência e coração".
Com uma bela capa ("Sonata em Viena", tela de J. Longuino), excelente nível técnico, esta gravação da Sonata de Schubert não só é um registro de um novo e marcante virtuose, como também um álbum indispensável aos admiradores do compositor vienense.
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O selo "Scoth" da 3M, foi reservado para gravações classe "A", de música erudita brasileira. Por este label já saíram álbuns com a Orquestra Sinfônica de Campinas, sob regência de Benito Juarez, os belos álbuns do solista Miguel Proença (originalmente gravados e editados com patrocínios de empresas) e agora temos o primeiro álbum do Quarteto Bessler-Reis ("... no Tempo de Dona Beija..."). Fundado há 11 anos, quando Bernardo e Michael Bessler vieram se unir a violinista belga Marie Christine Springuel e o violoncelista Alceu Reis, este quarteto está hoje entre os mais importantes intérpretes de música clássica do país. Em 1985, excursionou a Europa e no ano passado foi aos Estados Unidos. Em janeiro deste ano, foi destaque no Festival de Música de Teresópolis.
Apesar do marketing no título-tema deste álbum - referencial a telenovela da Manchete - o álbum, produzido por Moacyr Machado, é suave e belo, como o próprio clima dos temas de domínio público, lundus ("Arraial dos Araxás", "Chácara do Jatobá"), modinhas ("Na Fonte", "Idolatrada") e quadrilha ("Festas no Palacete"), sugerem - na "Suíte Dona Beija" (Carlos Cruz), seguida da modinha "Astuciosos os Homens São" e "Conselho aos Homens" (Lundu de Raphael e Albano Cordeiro). No lado B, ao lado de outros temas de raízes mineiras ("Vem aos meus Braços" e "Quando as Glórias que Gozei..."), modinhas e o lundu "Conselho às Moças", temos uma presença romântica de Beethoven ("Duas Danças Campestres"), Schubert ("Danças Alemãs") e Weber ("Duas Valsas"). Um belo repertório de uma época suave - nas cordas de um esplêndido quarteto, fazem deste um dos bons lançamentos do ano.
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